Em Vila Arroio Bonito, no interior de Mato Leitão, o produtor de leite Evandoir Gaspar Heinen, utiliza o pré-secado como fonte de alimentação para os cerca de 200 animais, entre vacas de leite, terneiras e novilhas que ele tem na propriedade. Ele é o único produtor do município a investir no maquinário específico para a produção desse tipo de alimento. Outros, por enquanto, apenas compram o pré-secado ou terceirizam o serviço.
Segundo Heinen, a ideia de usar a pré-secagem da pastagem surgiu durante uma viagem organizada pela Cooperativa Languiru ao município de Castro, no Paraná. “Logo depois a gente começou a mandar fazer o serviço de pré-secado através de um prestador de serviço de Teutônia. Partimos para o pré-secado em virtude de ter perdido vários cortes de feno seco, por causa do clima”, relata.
Em 2014, após adquirir duas máquinas usadas, o produtor e a família começaram a fazer o pré-secado na propriedade, sem depender do serviço terceirizado. No fim do ano passado, com o objetivo de melhorar ainda mais a qualidade do alimento, eles investiram na compra de uma enfardadeira e de uma plastificadora nova.
“Como nós já tínhamos a segadeira, que faz o corte, e um ancinho, que junta o pasto em leiras, foi preciso adquirir uma enfardadeira de rolos e uma e emplastificadora. Esses dois implementos são importados. Hoje, se gastaria em torno de R$ 450 mil a R$ 500 mil para montar um quite de fenação desse tipo”, menciona.
Benefícios
Para fazer o pré-secado, Heinen cultiva, permanentemente, a pastagem tifton em uma área de 8,5 hectares. De acordo com ele, com chuva dentro da média, é possível fazer entre cinco e seis cortes por ano. “No inverno nós plantamos azevém nas lavouras que tínhamos milho para conseguir fazer um estoque maior, tanto para uso próprio quanto para a venda para clientes da região”, compartilha.
O produtor da Cidade das Orquídeas comercializa o alimento excedente, em especial, para municípios do Vale do Rio Pardo, como Santa Cruz do Sul, Vale do Sol, Vera Cruz, Sinimbu, Herveiras e Rio Pardo. “Principalmente em épocas de estiagem, quando o pessoal se aperta com oferta de comida para os animais. Acredito que salvamos alguns animais de passar fome em virtude da seca”, observa.
Para o morador de Vila Arroio Bonito, as duas principais vantagens em utilizar o pré-secado são proporcionar uma alimentação mais equilibrada para os animais e conseguir formar um bom estoque de comida, para não ficar tão dependente das condições climáticas, como excesso de chuva ou estiagem. “Isso é uma maneira muito prática de armazenamento de comida para ser usada durante o ano inteiro”, destaca. Ele estima que seja possível fazer mais de mil fardos redondos (bolas) de pré-secado por ano, cada um com peso que varia entre 500 e 650 quilos.
Diferenças e vantagens da utilização
O chefe do escritório da Emater em Mato Leitão, Claudiomiro da Silva de Oliveira, comenta que uma dificuldade frequentemente enfrentada pelos produtores é o aproveitamento das áreas de pastagem, em especial, nos períodos chuvosos do inverno. Nesse sentido, ele ressalta que a pré-secagem se torna uma importante maneira de o produtor conseguir guardar o alimento e potencializar o uso dele.
Com essa técnica é possível reduzir a água do material ainda no campo, a partir da exposição ao sol. “Com o pré-secado o produtor tem a possibilidade de guardar materiais que poderia perder na lavoura e ele tem boa aceitabilidade dos animais”, avalia. Ele ainda explica que as principais diferenças entre o pré-secado e o feno, por exemplo, são o tempo necessário para enfardar a pastagem e a quantidade de cada um dos alimentos que pode ser inserida na dieta dos animais.
“Se tiver sol, é possível fazer feno em três ou quatro dias. Já o pré-secado, com tempo bom, entre um e dois dias está pronto”, explica. Em relação à oferta ao animal, ele observa que é possível inserir entre dois e três quilos de feno por dia na alimentação, já do pré-secado podem ser usados até dez quilos. Sobre o período de armazenamento, Oliveira acredita que, se o pré-secado for feito corretamente, respeitando todas as etapas, é possível guardá-lo por cerca de um ano. Ainda, segundo o chefe do escritório municipal da Emater, essa fonte de alimento também colabora para manter a dieta do animal balanceada.
“Algumas pessoas pensam que a vaca comendo pasto ou qualquer outra coisa produz leite. Mas não é assim. Quando muda a alimentação isso altera a produção e a qualidade dela. A vaca é muito rotineira e percebe qualquer mudança”, esclarece. Em Venâncio Aires, segundo Oliveira, apenas um produtor utiliza a técnica de pré-secagem. “No Vale do Taquari essa é uma prática mais comum”, acrescenta.
Passo a passo
• Para fazer o pré-secado é preciso cortar a pastagem com uma segadeira. Depois, é necessário passar o ancinho entre duas e três vezes para preparar o pasto. Em seguida, ainda com o ancinho, devem ser feitas as leiras com o alimento, formando camalhões de pasto.
• A partir disso, máquinas recolhem o material, fazem as bolas com as amarrações e embalam elas com plástico. É comum que os agricultores também usem inoculante, um produto à base de bactérias que ajuda no processo de fermentação do alimento. O pré-secado pode ser feito com vários tipos de pastagem, como aveia, azevém e tifton, durante o ano todo.