Que a inovação faz parte do campo não é novidade. Mas nem sempre ela precisa envolver grandes obras ou até mesmo a tecnologia e grandiosos investimentos. O agricultor de Linha Herval – São João, decidiu que queria ter uma plantação de chuchu na região do barro vermelho.
Na terceira safra, o diferencial do casal Pedro Alexandre Soares Leite, 53 anos, e Marlise Leite, 55, é o chuchu produzido em parreira, diferente do método tradicional que é mais campeiro. Algumas taquaras e restos de arame deram início à obra, além disso foram utilizados postes de madeira, tudo tirado da propriedade.
O início foi incentivado pela filha e pela percepção de mercado. “Eu vi que se tivesse ia vender bastante, pois estava sempre faltando. Nunca tinha chuchu de chega para a venda, mas sabia que era um desafio”, frisa Leite.
No ano passado, o casal comercializou mais de 2,3 mil quilos de chuchu nas duas safras. “Esse ano, se o clima ajudar, a gente consegue produzir bem mais”, cita o agricultor. Na propriedade, o chuchu vem como uma opção de agregar renda. O foco principal segue sendo a venda de aipim. Em outros anos a pimenta também era cultivada, mas neste ano, o chuchu recebeu uma atenção especial.
Normalmente, a produção de chuchu inicia em meados de outubro e novembro até a incidência de geada. “Dependendo da região, essa produção não é contínua, não se estende no verão. O chuchu depende da polinização, principalmente de abelhas. Além disso, temperaturas muito altas e baixa umidade do ar prejudicam esse processo e diminui o número de frutos”, explica a engenheira agrônoma Djeimi Janisch, extensionista rural da Emater-RS/Ascar de Venâncio Aires.
Djeimi reforça que a produção acaba sendo maior quando as temperaturas são amenas, quando passa de 30 graus a polinização é prejudicada. “A temperatura ideal é de 18 a 28 graus”, recomenda.
A Emater estima que existam apenas 0,35 hectares de chuchu a nível comercial e a venda ocorre principalmente em feiras, mercados institucionais e venda direta. “O sistema adotado pela família de Linha Herval é a forma mais adequada, pois permite a polinização, facilita a colheita e favorece a sanidade da planta, pois as plantas não estão abafadas”, frisa Djeimi.
Para fazer uma muda, a extensionista recomenda que é necessário um chuchu maduro, de aproximadamente meio quilo, para garantir uma reserva inicial para uma muda. “O maior erro é plantar chuchu brotado, pois a melhor fase para levar a muda para a terra é antes da emissão do broto, quando o embrião começa a inchar.”
“A gente plantava em outros lugares e não dava certo, faltava a umidade. Com a parreira conseguimos levar a umidade na folha que faz ter uma produção boa de chuchu.”
PEDRO ALEXANDRE SOARES LEITE -Produtor de chuchu
Cuidados com a nova safra
No início do ano, a estiagem castigou as folhas e a produção do chuchu. “A folha queimou, nunca tinha visto uma coisa dessas”, comenta Leite. Depois, no meio do ano a geada afetou bastante a plantação novamente. “Ela atrasou o ciclo da flor, por isso, esse ano estamos iniciando a colheita mais tarde”, acrescenta.
Todavia, o aprendizado com a estiagem levou o casal a instalar um sistema de irrigação via gotejamento. Agora, se a chuva não vem, o casal utiliza a irrigação. “Não tem muito segredo, mas os antigos sempre falam que para produzir chuchu é preciso de cerração. Como aqui na nossa região não tem cerração, a gente improvisa molhando a folha. E dá certo”, conta o produtor entusiasmado.
Além do gotejamento e os cuidados com a umidade do pé de chuchu, o agricultor afirma que utiliza bastante adubo orgânico. “O esterco dá força para o pé. Por isso, digo, a gente tira tudo da nossa propriedade.”