Proteína animal responde por 38% do valor da produção agrícola

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Dentro do Valor Bruto de Produção Agrícola (VBPA) de Venâncio Aires, o tabaco segue com o maior peso e tem praticamente a metade da participação (49,82%). Mas, logo atrás na ‘fila’ do retorno de ICMS ao município, está um setor que vem se destacando nos últimos anos e com boas projeções para os próximos.

Com 38,8% de participação no VBPA, o setor da proteína animal atingiu patamares importantes para o município e fora dele, já que, conforme a Emater, é considerado o segundo maior polo do Rio Grande do Sul em abates de bovinos, suínos e aves, ficando atrás da região da Campanha.

Só na suinocultura, o crescimento foi de 62% entre 2018 e 2020. Embora na avicultura de corte o avanço tenha sido menor (46%), é sobre ela que está a maior expectativa até o fim de 2021 e a partir de 2022. “São 44 aviários em produção e 21 em construção ou fase de financiamento. No ano que vem o setor vai crescer mais de 30%”, destacou o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.

Com quase 10 milhões de cabeças que produziram 18 mil toneladas em 2020, a avicultura de corte vem mantendo a linha ‘azul’ nos gráficos econômicos. Para se ter uma ideia, em 2017 a participação no VBPA era de 6,89% e, no ano passado, já estava em 15,62%.

Investimento

Quem, em breve, vai contribuir para a expansão do setor é Marcus José Schlindwein, 48 anos, morador de São Miguel, em Vila Santa Emília. Com dois aviários em fase de conclusão, até o fim do ano ele espera colocar os espaços de 4,8 mil metros quadrados em funcionamento. A estrutura terá capacidade para alojar 100 mil pintos em cada lote – produção integrada à BRF, de Lajeado.

Schlindwein nunca trabalhou com tabaco e vai seguir no setor que os pais, Irineu e Maria Lúcia, começaram há cerca de 30 anos e agora estão aposentados. Para realizar o projeto, o produtor revela que financiou R$ 2,5 milhões. “O valor inclui um gerador, porque aqui na região tem muita queda de luz. E, se tudo correr bem, logo vamos colocar placas solares”, destacou.

A localidade onde Marcus Schlindwein mora chama atenção pelo número de estruturas direcionadas à proteína: são três na área da suinocultura, três aviários em operação e mais quatro em fase de construção ou em análise. Como São Miguel está há cerca de três quilômetros do centro de Vila Santa Emília, o asfalto já é algo comentado entre os vizinhos. “O asfalto do Grão-Pará até o Frigorífico Kroth já ajudou muito e estamos muito perto. Seria importante para a localidade e um incentivo para quem trabalha com proteína animal”, avaliou Schlindwein.

Marcus Schlindwein e a esposa Taís, moradores de São Miguel, esperam colocar os dois aviários em funcionamento até o fim de 2021 (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Os motivos

As razões que fazem da avicultura um destaque passam pela demanda na alimentação e pela renda que gera aos produtores. “Existe uma demanda mundial de carne de aves e ela é a segunda quando a opção é ‘espeto’. Mas além disso, se houver aumento na ração, por exemplo, se consegue agregar rapidamente sobre o percentual de venda”, explicou o chefe da Emater, Vicente Fin. Segundo ele, a produção também tem se mostrado lucrativa para o agricultor. “A família tem um retorno bom e geralmente migra em definitivo para a produção, deixando o tabaco, por exemplo”, complementou.

Proteína animal em Venâncio 2020

• Aves de corte: 44 aviários em produção, 9,8 milhões de cabeças e 18, 3 mil toneladas
• Ovos coloniais: 11 famílias, com 6,9 mil matrizes e produção de 120 mil dúzias
• Bovino de corte: 180 famílias, 6,5 mil cabeças e 2,6 mil toneladas
• Bovino de leite: 125 famílias, 2,25 mil matrizes e 9,8 milhões de litros
• Mel: 109 famílias, 5,5 mil caixas com produção de 123 toneladas
• Peixes: 120 famílias, 425 hectares com açudes e 127 toneladas
• Suínos de corte e leitões: 76 famílias, com 48 mil cabeças de corte e 51,4 mil leitões

Ovinocultura

Segundo a Emater, Venâncio tem espalhado em todo seu território cerca de 3,5 mil ovelhas, número que já poderia ser considerado para abate e ser mais um investimento em frigoríficos. São 120 famílias que têm pequenos rebanhos.

Em abates, Venâncio fechou 2020 com 198 mil bovinos, 25 mil suínos e 4,6 milhões de aves.

Exportação

A proteína também já é destaque na exportação. O frigorífico Boi Gaúcho, de Vila Mariante, por exemplo, embarcou 27 toneladas para Hong Kong, na China, em 2018.

Três anos depois, a empresa aumentou em 70% seus embarques para fora do Brasil e a expectativa é passar de 300 cabeças de gado abatidas por dia para 450.

Atualmente, 40% de toda a produção é exportada, cerca de 1.296 toneladas por ano. Os principais destinos são Hong Kong e Vietnã, na Ásia, e a Costa do Marfim, na África.

A importância da infraestrutura para os ‘caminhos da proteína’

O setor que tem contribuído para a renda de produtores e para a economia de Venâncio Aires também tem servido de embasamento para trazer investimentos ao município. Assim foi quando o governo Airton Artus (2009-2016) pensou e deu início ao chamado ‘PAC dos Frigoríficos’, cuja proposta inicial era asfaltar estradas de Vila Santa Emília, Linha Sapé, Estância Nova e Vila Mariante, onde estão situados quatro frigoríficos.

Asfaltamento na estrada principal de Vila Santa Emília, concluído em 2016, era uma das prioridades dentro do chamado ‘PAC dos Frigoríficos’ (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Se no início a ideia era proporcionar infraestrutura a quem já estava estabelecido, hoje é possível considerar que a ordem dos fatores se inverteu. Para o ex-prefeito, a pavimentação é um grande atrativo para o desenvolvimento e novos interessados em investir no setor. “Esse movimento acaba sendo um caminho natural e o poder público deve ajudar a acelerar e alavancar projetos”, afirma.

Nesse sentido, Artus revelou que já conversou com o prefeito Jarbas da Rosa e o objetivo é ‘fundir’ os nomes anteriores para algo como ‘caminhos da proteína’. Conforme Jarbas, além de boas estradas, outros pontos merecem atenção. “Tem outras frentes que completam a infraestrutura e, além da pavimentação, é preciso investir em internet, telefonia e reforçar a eletrificação rural.”

Quase lá

Os ‘caminhos da proteína’ já percorrem regiões diversas em Venâncio e a Linha Cerro dos Bois está muito perto de contar com um novo empreendimento. É lá que foi construído o Frigorífico Santos, que aguarda apenas a documentação fiscal para dar início aos trabalhos. “Estamos quase lá e quem sabe, ainda em setembro, começamos a funcionar”, projetou o sócio-proprietário Silvio dos Santos, que também está à frente do Açougue Breunig.

No matadouro do bairro Santa Tecla, são 30 bovinos e 30 suínos abatidos por semana. No Cerro dos Bois, com 2 mil metros quadrados de área construída, será possível trabalhar com 100 bovinos e 100 suínos por dia. Para isso, cerca de 30 pessoas devem ser contratadas.

Relembre

  • O termo ‘polo da proteína’ foi pensado há quase 10 anos, quando um levantamento da Prefeitura já apontava para um crescimento nos abates. “Junto já tinha a reivindicação por pavimentação e pensei em um nome para destacar um possível projeto e levar ao Estado”, conta o ex-prefeito, que idealizou o projeto Airton Artus.
  • Assim nasceu o PAC dos Frigoríficos, aproveitando a sigla criada no governo Lula e que significa Programa de Aceleração do Crescimento. “Fizemos um relatório mapeando frigoríficos, aviários, chiqueirões e açudes para mostrar ao governo a importância do setor.”
  • Em junho de 2013, por sugestão do então governador Tarso Genro, Venâncio mobilizou a comunidade e incluiu a demanda na cédula de votação da Consulta Popular. Em maio de 2014, durante a 13ª Fenachim, Tarso esteve no Parque do Chimarrão e assinou o contrato para a primeira etapa do projeto, que contemplava 5,8 quilômetros de asfalto na estrada principal de Santa Emília.
  • Naquela localidade, as obras terminaram em 2016. Para Linha Sapé, que prevê pavimento em 5,7 quilômetros, o contrato foi assinado em 2019, no governo Giovane Wickert. Como o Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) não liberou os recursos, o que só aconteceu em junho passado, a obra atrasou bastante. Por enquanto, está pronta a drenagem e um quilômetro de asfalto.


Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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