“Replantei tudo.” A afirmação de Walter José Andreoli, 64 anos, faz referência à retomada da confiança na erva-mate, cultura com a qual ele trabalha há mais de 30 anos, mas que há alguns anos não estava das melhores e o fez arrancar cerca de 10 mil pés em quatro hectares.
O movimento do agricultor de Vila Palanque não foi solitário e outros produtores também optaram pela diminuição do plantio há cerca de quatro anos. No entanto, a melhora da infraestrutura, conhecimento técnico e mudanças no plantio causaram alguns ‘arrependimentos’ e o que se tem visto são produtores replantando e apostando novamente no crescimento do setor.
“Se a gente pensasse no hoje, não teria arrancado, mas na época estava ruim. Não se tinha tanto incentivo, a lida era diferente, o preço era baixo. Felizmente as coisas voltaram a melhorar e já replantamos tudo do jeito certo”, destacou Andreoli, que hoje mantém oito hectares de erva-mate na região do barro vermelho, junto com a esposa Rosane, 63 anos.
Olhando apenas para a área plantada, conforme dados da Emater, ela pouco variou de 2018 para cá – gira em torno de 1.350 hectares. Mas é em relação à produtividade que alguns números se mostram mais positivos. Não somente na produção anual (de 6 mil toneladas para 6,3 mil toneladas), mas na qualidade da produção e que refletiu no aumento das vendas.
A comercialização da erva contribuiu com R$ 1,791 milhão dentro do Valor Bruto da Produção Agrícola (VBPA) de Venâncio Aires em 2021, sendo que em 2020 foi de R$ 1,358 milhão – aumento de 31%. “O preço tem sido atrativo, mas o que buscamos é orientar o produtor para que faça o melhor caminho, pensando na profissionalização, com capacitações técnicas e cursos de práticas agrícolas. Não ficará no mercado quem não se profissionalizar”, alertou o Cleomar Konzen, presidente da Associação dos Produtores de Erva-mate do Polo Ervateiro dos Vales (Aspemva).
Em Venâncio, ainda é muito comum encontrar pés de erva em meio a lavouras de tabaco, aipim e milho, mas, conforme Konzen, mudar a técnica de produção também tem contribuído para expandir a cultura. Além de dividir a propriedade em partes, com espaços específicos para cada cultura, um das mudanças implementadas nos últimos anos foi o adensamento dos ervais (com as plantas bem próximas umas das outras). “Adensar o plantio tem impactado positivamente na produtividade. Está tendo muita procura e não temos erva suficiente.”
Procura
Cleomar Konzen também é proprietário de um viveiro de mudas em Vila Palanque, onde na terça-feira, 23, a Emater promoveu um dia de campo, especialmente para explicar melhores técnicas de poda e renovação das plantas. Segundo Konzen, entre 2021 e 2022 houve aumento de procura em mais de 50% no viveiro.
“Principalmente da região dos Vales, o pessoal vem atrás de mudas, mas também para aprender e conhecer como fazer. E aqui em Venâncio já se mudou o plantio. Com o adensamento, conseguimos fornecer a matéria-prima quando as ervateiras precisam, não quando o produtor precisa vender. Se nos adequarmos ao cliente, podemos fazer a coleta em qualquer época do ano.”
Prioridades
• A cadeia produtiva da erva-mate também tem tido atenção e incentivo público. Na última terça, durante o dia de campo da Emater, essa preocupação foi destacada. “A erva-mate está entre as 10 prioridades de trabalho da Emater, com a parceria do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural (Conder). É uma cultura representativa, que tem políticas públicas e grupos organizados”, mencionou a extensionista rural da Emater, Djeimi Janisch.
• Djeimi, acompanhada de outros extensionistas rurais, deu orientações e mostrou, na prática, como manejar a planta, buscando mais produtividade. “Num erval, a gente precisa maior proporção de folhas em detrimento de madeira. Com o manejo correto, além de melhorar a produtividade, evita a principal praga que é a broca, porque ela procura se abrigar no tronco”, explicou.
• A erva-mate deve motivar novo dia de campo da Emater no mês de outubro. A proposta é trabalhar o controle de broca e adubação verde de verão.
28 mil – foi o número de mudas de erva-mate disponibilizadas em 2022 em programa municipal que vai custear metade do valor a 38 produtores. O programa tem inscrições abertas anualmente no primeiro semestre e contempla produtores que se inscreverem na Secretaria de Desenvolvimento Rural e atenderem a critérios. Mais informações pelo 2183-0668.
Chá e a busca de novos mercados
Segundo Cleomar Konzen, presidente Aspemva, atualmente, o preço médio pago ao produtor pela arroba (15 quilos) é de R$ 18. Em 2021, era cerca de R$ 16. Além da melhora da qualidade da erva-mate local, outros fatores contribuíram para uma maior procura no mercado, como a erradicação de ervais em algumas regiões do Rio Grande do Sul e uma forte exportação para a Argentina.
Além disso, Konzen explica que já uma tendência para outras finalidades. “Nosso gargalo hoje é busca de novos mercados. Somos a Capital do Chimarrão, mas talvez vamos ‘sair um pouco da cuia’ para pensar nos chás. Tem um estudo do Ibramate que apontou para a busca por chás e no mercado da Índia, China e Japão, por exemplo, é isso que eles têm procurado.”
Konzen menciona ainda que a erva-mate plantada na região dos Vales tem destaque para o consumo do tereré. “Nossa região tem a melhor erva para o tereré, devido ao solo fértil e o clima mais quente. Como a bebida é consumida gelada, a erva precisa ser forte para liberar o sabor. E a erva daqui é mais forte.”
Saiba mais
Segundo dados da Emater local, o cultivo de erva-mate envolve cerca de 425 agricultores comerciais em Venâncio Aires, em uma área plantada de aproximadamente 1.350 hectares.
As principais regiões produtoras ficam na faixa do ‘barro vermelho’, como Vila Santa Emília, Linha Travessa e Vila Palanque. Mas, nos últimos anos, também cresceu o número de ervais na região de Vila Deodoro.