Produzir alimentos sem agrotóxicos, da forma mais natural possível, sempre fez parte da rotina da família Keller, de Linha Antão. Mas foi no curso técnico em Agricultura, na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), que Suele Taís Keller, 18 anos, conheceu a produção agroecológica mais a fundo e teve a certeza de que é a melhor opção – para a preservação da natureza e para a qualidade de vida. “Precisa de mão de obra, mas vale muito a pena, pois a gente pensa muito na saúde”, observa ela, que concluiu o Ensino Médio no ano passado e, atualmente, realiza os estágios do curso.
Embora ainda não tenha certeza sobre como será sua atuação profissional no futuro, ela não esconde a preferência por morar no interior e o objetivo de cultivar os próprios alimentos. “Não usamos agrotóxicos, adubos químicos ou sintéticos”, explica.
Durante a trajetória de Suele na escola, os alimentos produzidos na propriedade foram comercializados na Feira Pedagógica da Efasc, em Santa Cruz, em algumas ocasiões. “Era algo muito interessante porque o pessoal que ia na feira ficava feliz por ter acesso a alimentos sem veneno. Eles não viam de onde vinham os produtos, mas confiavam na gente, pois sabiam que não iríamos comercializar algo que a gente também não iria comer”, comenta.
Atualmente, o tabaco é a principal fonte de renda da família e os alimentos são cultivados para subsistência. Um destaque são os quintais orgânicos, onde dezenas de árvores frutíferas dividem espaço com aipim, feijão, milho, batata-doce e chás. As plantas, cultivadas carinhosamente pela família, integram o projeto Quintais Orgânicos de Frutas, da Embrapa Clima Temperado e Philip Morris Brasil, que disponibiliza as mudas e orientação técnica.
A família Keller foi contemplada em duas edições: em 2020, no projeto de Suele, e em 2022, para o irmão José Roberto, que atualmente cursa o 2º ano na Efasc. Cada kit da Embrapa inclui 62 mudas de árvores, que vão desde laranja, bergamota e goiaba, até pêssego, figo, araçá, uva, caqui, amora, romã e butiá, entre outras tantas. A diversidade das frutas se soma às várias hortaliças, aos cinco tipos de milho e 12 de feijão cultivados pela família.
Agroecologia na prática
Na produção agroecológica, diversas estratégias são utilizadas como alternativa ao adubo e aos defensivos químicos. Algumas são práticas antigas para muitos produtores rurais, que Suele e José Roberto aprenderam na escola. Entre elas, o uso de esterco, composto natural, biofertilizante e extratos como o de pó de fumo, para combater o pulgão, e de angico, contra formigas. As cascas de ovos espetadas na horta são outro meio natural para evitar as larvas que comem as folhas de couve e repolho. Da mesma forma, ramas de aipim são utilizadas como barreira para formigas não atacarem as plantas.
Entre as experiências da jovem agricultora também esteve a produção de biofertilizante, à base de esterco de gado, leite, melado e açúcar. “Por mais diferente e estranho que parecesse, meus pais e avós compraram a ideia e ajudaram. O vô até mesmo comentou sobre um conhecido que antigamente fazia a mesma coisa”, afirma Suele, que é filha de Cláudio e Tatiana Keller. A família reside na mesma propriedade dos avós, Lotário e Noemia Keller.
Nos últimos anos, também por incentivo da escola, Suele passou a se interessar pelas sementes crioulas. A mãe, Tatiana Cristine Keller, se tornou uma aliada e as duas começaram a buscar sementes com outras pessoas da comunidade. Assim, garantem a continuidade do cultivo de espécies antigas e sem nenhuma modificação genética.
