Saiba quais as culturas que mais utilizam defensivos agrícolas

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Considerado um dos vilões na mesa do consumidor, o tomate, ingrediente indispensável em molhos e saladas é um do itens que mais concentra agrotóxicos, segundo recente pesquisa dos professores José Otávio Machado Menten e Lourival Carmo Monaco Neto, ambos docentes da ESALQ-USP.

Na análise realizada, a cultura do tomate apresentou a maior demanda por defensivos agrícolas, com 46,87 quilos de ingrediente ativo por hectare, seguida pelas culturas da maçã e batata inglesa, com respectivamente, 39,18 e 31,60 kg IA/ha.

Entretanto, basta ir ao supermercado e percebe-se a importância do tomate no prato dos consumidores. Carmen Gollmann, 60 anos, moradora de Linha Saraiva, disse que já sabia do alto índice de agrotóxicos no tomate. “A gente sabe que ele é um vilão, mas não consigo viver sem ele, não deixamos de comer.”

Carmen conta que utiliza alguns ‘truques’ para consumir o tomate. “Eu lavo bem e descasco. Acho que ajuda um pouco, mas com certeza não elimina os resíduos por completo.” A moradora do 3º distrito confessa que só compra tomate quando realmente precisa. “Como moramos no interior, plantamos tomate para nosso consumo. Mas quando acaba ou quando acontece como nesse ano que a seca prejudicou muito, precisamos comprar.”

Preocupada com a qualidade de vida da família, Carmen destaca que o tomate produzido em casa não tem agrotóxicos. “A gente só usa produtos naturais.” O tomate é utilizado principalmente para molhos, mas segundo Carmen, a salada também é uma boa pedida.

Carmen compra tomates apenas em épocas que não consegue garantir o produto na propriedade (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

RANKING

Com base em dados de 2016 – os mais atualizados e disponíveis no momento – foram calculadas as demandas relativas de 19 culturas: algodão, alho, amendoim, arroz, banana, batata inglesa, café, cana-de-açúcar, cebola, citros, feijão, tabaco, maçã, melão/melancia, milho (primeira e segunda safras), soja, tomate, trigo/aveia/centeio/cevada e uva.

Segundo os pesquisadores, o estudo tomou como ponto de partida os dados mais recentes do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (SINDVEG), de 2016, e contou ainda com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindag) e do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).

“A utilização de defensivos varia muito entre as culturas por questões agronômicas, técnicas e financeiras. Algumas culturas, como maçã e batata inglesa, que apresentaram maior suscetibilidade às doenças, demandam maiores níveis de proteção. Por outro lado, culturas como a cana-de-açúcar apresentam menor demanda, pois são acometidas por menos doenças. No caso dessa cultura especificamente, o uso de defensivos é majoritariamente composto por herbicidas”, avaliam os pesquisadores.

O tomate lidera o ranking com a maior demanda por defensivos agrícolas. No outro ponto do espectro, as culturas com menor demanda são as culturas da banana, tabaco e feijão, com respectivamente 0,48, 1,01 e 1,22 kg IA/ha, bem abaixo da média dos 19 produtos analisados (4,90 kg IA/ha).

Na lavoura de Gregory, tomates sem agrotóxico

Um dos produtores é Moacir Gregory, 52 anos. Na estufa do agricultor, em Linha Hansel, há um diferencial: a produção do tomate é sem agrotóxico. “Em 2016 decidi inovar na minha propriedade. Queria largar o tabaco. Fui na Emater e juntos analisamos a possibilidade de cultivar tomate, e deu super certo”, lembra Gregory.

Com uma produção de 1 mil pés de tomates, o produtor pretende colher 10 mil quilos nesta safra. “Nos próximos dias já posso iniciar a colheita.” A comercialização dos tomates ocorre via Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). “Minha meta é ampliar a estufa, construir mais uma e conseguir participar das feiras da Cooprova.”

A engenheira agrônoma e extensionista rural da Emater de Venâncio Aires, Djeimi Isabel Janisch, destaca que é possível, tanto em grande ou pequenas culturas, o controle biológico das plantas. “O caso do Moacir é interessante. Ele faz o uso de controle biológico, de produtos não tóxicos que não deixam resíduos no produto.”

Entre idas e vindas, desde 2016, Gregory conta que já aprendeu muito. No primeiro ano, nem estufa tinha, plantou 1,5 mil pés de tomates, mas não conseguiu tirar o proveito máximo da planta. “Em 2018 construí a estufa, daí foi um diferencial para meu produto final.” Os primeiros clientes do morador de Linha Hansel foram amigos e vizinhos, outros que vinham de longe para colher o produto, direto do pé. “O pessoal vem aqui, colhe direto do pé, come na hora”, acentua.

Gregory produz suas mudas de tomates. Neste ano ele plantou o tomate longavida, marca taki, variedade Justine, que segundo o produtor é um tomate mais saboroso e carnudo.

Moacir Gregory de Linha Hansel aguarda ansioso para a safra que será colhida nos próximos dias (Foto: Rosana Wessling/Folha do Mate)

“Sempre penso: que o que eu não quero para mim, não faço para os outros. Da mesma forma, penso com o uso de agrotóxicos nos tomates. Eu não comeria, então não uso os defensivos agrícolas.”

MOACIR GREGORY – Produtor


Cultura trabalhosa que requer estratégias

A engenheira agrônoma da Emater explica que o tomate lidera o ranking dos produtos com mais agrotóxicos porque é um alimento extremamente sensível a pragas.“São muitas pragas e doenças que atacam o tomate. Por ser um ciclo relativamente curto, elas se desenvolvem rapidamente e muitos produtores, infelizmente, fazem o uso de agrotóxicos.”

Conforme Djeimi Janisch, em Venâncio Aires, no momento, apenas seis produtores plantam tomate em grande escala. “É uma cultura muito trabalhosa. Falando daqui, temos um grande ‘problema’ no solo também que desenvolve muitas doenças para a planta. Por isso, o produtor precisa sempre estar muito atento.”


“Hoje temos tecnologia suficiente para uma produção mais limpa, pura, sem o uso de agrotóxicos. O segredo do tomate é prevenção e monitoramento, mas é uma cultura que exige mais técnica e envolve muito a questão de mercado. O consumidor compra o produto pelos olhos.”

DJEIMI ISABEL JANISCH – Engenheira Agrônoma da Emater


Tabaco está abaixo da média dos produtos analisados com defensivos agrícolas

Entre as 19 culturas analisadas neste estudo, o tabaco está entre as que menos utilizam defensivos. Conforme a pesquisa, foi encontrado um valor de 1,01g IA/ha da demanda relativa de defensivos agrícolas por hectare, apresentando-se como a segunda menor demanda relativa.

Para o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco, Iro Schünke (SindiTabaco), entidade que encomendou o estudo, os resultados não surpreendem. “Este é o quarto estudo que coloca o tabaco entre as culturas que menos utilizam agrotóxicos no país. E cabe destacar que, da quantidade utilizada na cultura do tabaco, 62% são de herbicidas, o menos tóxico entre as classes de defensivos avaliados. Há muitos anos temos gastado energia em desmistificar temas como esse, considerando que campanhas antitabagistas acabam confundindo seus objetivos e culpam o setor por um uso desordenado de agrotóxicos. Fica comprovado, mais uma vez, com dados oficiais, que a narrativa é falsa”, afirma o executivo.

O consumo de defensivos agrícolas é corretamente expresso quando calculado através da quantidade de ingrediente ativo, a molécula que de fato tem ação, por unidade de área ou quantidade de produto produzido. Imaginar outras formas, como litros de produto comercial por área ou produção, ou até quantidade de produto por pessoa de uma determinada região é um equívoco muito grande e deve ser evitado e combatido. Segundo os pesquisadores, não tem sentido expressar o consumo em termos de quantidade por habitante, já que não são aplicados nas pessoas, e sim nas plantas. Outro aspecto importante é que os produtos comerciais, utilizados pelos agricultores, têm cerca de 50% de ‘inertes’, que são substâncias sem atividade biológica.

Uso no mundo

Estudo recentemente apresentado pela FAO (Food and Agriculture Organization of the United Nations) coloca o Brasil como 44º maior consumidor de defensivos no mundo quando analisada a sua utilização por área cultivada e 58º quando analisada a sua utilização em relação aos volumes de produção agrícola. Vale ainda ressaltar que o Brasil é um dos poucos países do mundo que tem capacidade de realizar mais de um ciclo produtivo por ano numa mesma área, de forma que mais produtos são requeridos, porém, proporcionalmente, há um emprego menor por área de cultivo.

*Com informações da Assessoria de Imprensa do SindiTabaco.

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