A coreografia de despedida já está na ‘ponta do pé’. Na prateleira do armário, a paleta de sombras nova ainda não foi usada e está guardada para o grande dia. Uma cartela de brilho e strass também integra o kit de itens que seriam utilizados no momento de passar a faixa, mas a atual Rainha do Carnaval Infantil do Interior, Lunara Lopes de Mello, 11 anos, terá que aguardar mais um pouco, afinal, as tradicionais festividades de janeiro e fevereiro não irão ocorrer.
Se estivéssemos em um período ‘normal’, sem dúvida alguma neste fim de semana iniciariam os tradicionais bailinhos infantis do Carnaval do interior e as festividades da categoria adulto também, mas no momento as restrições impostas pela pandemia do coronavírus impedem a realização de eventos. Após 35 anos, essa será a primeira interrupção dos festejos.“2020 foi um ano atípico, quase não tivemos compromissos como corte”, revela a garota.
Para amenizar a saudade Lunara, Andressa e Bruna, que formam a atual corte infantil realizam semanalmente chamadas de vídeos pelo WhatsApp. “Nós já tínhamos combinado tudo, todos os detalhes. Iríamos gravar um TikTok convidando as pessoas para a escolha. Nosso figurino já estava separado. A coreografia também já estava sendo ensaiada”, conta Lunara.
Sem dúvida alguma, o sentimento expressado pelo menina é de saudade. “Eu adoro o Carnaval, é um momento de diversão e alegria”, salienta Lunara, que participa do bloquinho Os Fofinhos de Vila Deodoro desde os três anos.
A expectativa da jovem era em torno da retomada das atividades, por isso, o planejamento com o look, maquiagem e adereços já estava sendo feito. No entanto, a faixa ficará por mais algum tempo pendurada na parede. “O ano não foi fácil, não vou dizer que não queria o Carnaval mas acho que precisamos esperar por uma vacina e a normalidade das coisas. O Carnaval é festa, todo mundo junto, e acho que no momento precisamos ter calma e esperar”, reforça Lunara. Para ela, realizar as comemorações virtualmente não seriam tão atrativas.
Espera
A rainha do Carnaval Adulto, Taliana Beatriz da Silva, 21 anos, cita que desde o início a pandemia proporcionou inúmeras incertezas, uma delas em relação ao Carnaval. “Acredito que mesmo com a saudade ‘batendo na porta’, devemos ter paciência e esperança. O sonho não acabou. As próximas candidatas terão ainda mais tempo para se prepararem e buscar realizar o grande desejo de integrar a corte.”
Taliana frisa que ela e as princesas Alícia e Tatiana ainda tiveram muita sorte de poder ter representado em 2020 todas as atividades ligadas ao Carnaval. A soberana também comenta que o Carnaval além de ser um patrimônio cultural, representa um acréscimo na economia de muitos que trabalham pela festa. “Mas é preciso entender que esperar por um momento mais calmo com relação à pandemia é a melhor opção para todos.”
Para a jovem, o Carnaval representa uma cultura a qual sempre esteve ligada a sua família. “O Carnaval é a união de comunidades do interior e a diversão dos integrantes. Não se trata só de uma festa. Trata-se de um movimento de mais de três décadas, que traz ainda mais vida às sociedades do interior e que faz história para diferentes gerações.”
Com ‘os pés no chão’, Taliana enfatiza que no momento é preciso de calma e paciência. “Cedo ou tarde, acredito que tudo estará bem de novo. O que, com toda certeza, não poderíamos fazer, é se preparar para festas enquanto que nossa comunidade inteira ainda precisa lutar contra uma doença e pela saúde de todos.”
“O momento em que vivemos é delicado e exige nossa compreensão. Como cidadã, estou ciente dos riscos que a pandemia nos proporcionou e segue proporcionando. O cancelamento desse evento e de inúmeros outros, sem dúvida, ocorre para um bem maior, que é a saúde de todos.”
TALIANA BEATRIZ DA SILVA
Rainha do Carnaval Adulto do Interior
Comunidades do interior iniciavam a organização em agosto
Conforme o vice-presidente da Associação Carnavalesca do Interior de Venâncio Aires (Aciva), Jairo Bencke, as primeiras reuniões para projetar o Carnaval do ano seguinte sempre ocorrem no mês de agosto de cada ano, quando é feita a avaliação dos eventos que aconteceram e a revisão do regulamento do concurso que elege as soberanas. “Nos meses de setembro e outubro acontece a indicação para a aprovação das candidatas que concorrem ao título da próxima edição. No mês de dezembro é realizado o primeiro evento da Aciva, o baile de apresentação das candidatas.”
Justamente por ser uma festividade que exige uma programação o ano todo, neste início de 2021 o Carnaval não acontece. “Ainda não se definiu nada, mas nosso consenso entre os coordenadores seria que primeiro voltariam as aulas, a vacina e depois as comemorações.”
Segundo Bencke, em 2020 apenas uma reunião virtual deu conta do adiamento do Carnaval do Interior. “A opinião é unânime, não tem como fazer essa comemoração se não tiver vacina”, frisou. “Foram 35 escolhas de soberanas ininterruptas, mas avaliamos que agora é hora de pensar na saúde.”
O Carnaval do interior é um evento tradicional que a cada ano conquista mais adeptos. Os oito bloquinhos infantis e os oito blocos adultos realizam os tradicionais bailes em suas sedes. “Nosso Carnaval mudou muito, ele cresceu e se tornou referência. Sem contar nas oportunidades que ele oferece para as pessoas da comunidade, desde a costureira responsável pelas fantasias até a senhora que faz os pastéis”, comenta Bencke, que também é coordenador do Carnaval Infantil.
A presidente da Aciva, Paula Borges, salienta que na próxima semana a entidade pretende realizar uma reunião virtual para tratar sobre as questões que envolvem o Carnaval. Paula também cita que é importante aguardar que o prefeito eleito, Jarbas da Rosa, tome posse e possa se reunir com os carnavalescos.
“Hoje temos que pensar em primeiro lugar na saúde e bem-estar das pessoas e quando isso tudo tiver passado estaremos todos juntos para comemorar a vida e festejarmos novamente esse evento tão importante para nossas crianças e foliões adultos do interior e região.”
JAIRO BENCKE
Vice-presidente da Aciva e coordenador do Carnaval Infantil
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