O valor de referência do leite no Rio Grande do Sul atingiu R$ 1,5082 no mês de agosto, 3,83% acima do consolidado de julho (R$ 1,4526). O valor segue tendência nacional de alta e é o mais elevado da série histórica do Conselho Paritário dos Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS), que divulga o valor referência mensalmente desde 2007.
Segundo dados apresentados na terça-feira, 25, em reunião do grupo, o que se verifica neste momento é um aumento de demanda e importações desfavorecidas pelo câmbio valorizado. O queijo mussarela destacou-se com recuperação de preço, principalmente, em função de mudanças nos hábitos de consumo. “O mercado está aquecido. Nos últimos 14 anos, nunca atingimos esse valor, o que é compreensível no momento atual. A dúvida agora é se essa valorização terá seguimento ao longo do ano”, pontuou o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF) e responsável pelo levantamento do Conseleite, Marco Antonio Montoya.
Segundo o presidente do Conseleite, Rodrigo Rizzo, o cenário é de valorização do leite e de reconhecimento do trabalho no campo, uma vez que o produtor também vem recebendo mais por litro. Ele também alertou que, com o aumento do preço do leite, acende-se uma luz amarela em relação à retomada da atratividade das importações. Apesar da valorização cambial, as aquisições externas voltam a ser uma opção de oferta, o que já se verifica nos números da balança comercial de lácteos nos meses de julho e agosto. “É algo que deixa o setor em alerta”, ponderou o presidente.
Para o vice-presidente do Conseleite, Alexandre Guerra, apesar de estar em plena safra, as indústrias estão trabalhando com estoques menores, o que garante maior giro e melhor operação. “O setor lácteo está passando pelo seu pico de produção e captação, e o preço está em um patamar adequado que reflete o cenário e o auxílio emergencial concedido pelo governo”, salientou Guerra.
1,5082 – é o valor de referência pago pelo litro de leite ao produtor. A mínima é de 1,3574 e a máxima de 1,7345.
Produção a todo vapor
A época é considerada boa para produtores de leite e agroindústrias que comercializam o produto e seus derivados. Conforme a proprietária da agroindústria de beneficiamento e industrialização de leite e derivados Agroleite, Sirlene Angnes, o período é de supersafra, entretanto, apesar de o preço pago pelo leite ser maior, os custos para a produção também aumentaram.
A produtora reforça que, todos os anos, o preço pago pelo litro de leite sempre teve seus altos e baixos. “Em determinadas épocas, o negócio é extremamente rentável, o produtor ganha bem. Em outras, o negócio está ruim. Mas, independentemente disso, o produtor sempre tem gastos com ração, silagem, pastagem, e isso aumenta de valor também.”
Em Linha 17 de Junho, Sirlene, o esposo Elígio e os filhos Rodrigo e Alexandre estão mantendo a produção do leite a todo vapor. “Além da nossa produção própria para a agroindústria, compramos um pouco de leite de outros produtores”, comenta Sirlene.
A empreendedora relembra que, há quatro meses, o cenário do setor leiteiro não era bom. “Agora, os produtores conseguiram ter suas pastagens. É a época que a gente consideram supersafra.” A agroindústria foi inaugurada em 2003 e a família produz leite e iogurte em saquinho, queijo mussarela e colonial e nata.
“O leite sempre tem seus altos e baixos ao longo do ano. Por mais que, nesta época, a gente ganhe mais pelo produto, os insumos também subiram. É um ciclo, o custo para produzir também aumentou. Mas estamos na chamada supersafra.”
SIRLENE ANGNES – Produtora de leite e proprietária da Agroindústria Agroleite
Condições climáticas do estado favorecem produtores nesta época do ano
Esse período é considerado a safra no Rio Grande do Sul por diversos motivos. De acordo com o engenheiro agrícola da Emater/RS-Ascar de Venâncio Aires, Diego Barden do Santos, o estado tem uma possibilidade de produzir mais leite nesta época do ano. “As condições climáticas ajudam e as pastagens de inverno são de maior qualidade. Com isso, as vacas expressam melhor sua produção.”
Outra questão pontuada por Santos são as pastagens de qualidade do sul. “O nosso inverno tem pastagens. Nas outras regiões do Brasil é um inverno seco. Por isso, em outros lugares tem menos leite. O consumo também aumenta no inverno do que no verão. É a lei da oferta e procura”, pontua o profissional.
Santos, que também é coordenador do Grupo do Leite da Emater, acrescenta que, em relação ao mercado, a produção tende a se manter constante por um pouco mais de um mês. “Como a gente trabalha como oferta e demanda, eu entendo que nós vamos ter uma menor oferta ali na frente, o preço vai se manter um pouco acima em relação ao ano passado. Mas, nesta época que estamos, o produtor deve e precisa ganhar mais para aguentar o verão e os longos períodos de produção baixa.”
*Com informações da Assessoria de Imprensa Sindilat
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