Tabaco entressafra: Família Reckziegel, de Linha 17 de Junho, avalia como positiva a experiência

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Após encerrar a venda do tabaco da entressafra, a família Reckziegel pegou a caneta e o caderno para fazer as contas e verificar se a experiência deu certo. Jorge Matias Reckziegel, 55 anos, a esposa Ilaine Maria Machry Reckziegel, 55, e a filha Janaína Reckziegel, 29, decidiram cultivar uma safra de tabaco fora de época na propriedade em Linha 17 de Junho.

A Folha do Mate acompanhou a experiência em 30 de março, quando o tabaco já estava há um mês na lavoura; depois, em 22 de abril, quando se deu a colheita do baixeiro; e na última semana, após a comercialização do produto. A experiência foi avaliada como positiva pela família. “Eu destaco que ganhamos qualidade de vida. Não era tão quente para colher, tinha mais folga entre uma colheita e outra. É bem mais tranquilo”, observa Ilaine.

Com a planilha de papel na mão, Reckziegel garante: “Vale a pena”. O produtor anotou todos os custos e vendas. “Fizemos uma média de 9,3 arrobas por mil pés. Na safra normal, fizemos 9,7 arrobas por mil pés. Claro que a quantia é menor. Plantamos só 20 mil na entressafra. Mas mesmo assim vale a pena”, reforça.

O tabaco foi semeado em 15 de janeiro, foram cerca de quatro dias para germinar. A variedade de sementes encontrada na ocasião foi PVH2254. Na época tradicional, leva de 10 a 14 dias para ocorrer a germinação. Foram apenas 40 dias com as mudas no canteiro até serem replantadas na lavoura. O ciclo normal é de no mínimo 70 dias. Com apenas essa mudança no ciclo, a família observou a redução da mão de obra e custos com insumos. “Na safra normal a gente gastou mais de R$ 7 mil com mão de obra. Agora, na entressafra, não passou de R$ 1 mil”, detalha o agricultor.

Tabaco foi comercializado até a última semana e família avalia como positiva a experiência (Foto: Arquivo pessoal)

“Foi menos defensivo no canteiro, menos inço na roça, com isso menos defensivo também. A brotação foi mais regular. Então a entressafra vale a pena, pois reduz os custos”, comenta Reckziegel. O tabaco foi plantado no dia 21 de fevereiro. A primeira colheita foi no dia 19 de abril e a última fornada no dia 19 de julho. Foram exatamente três meses de trabalho na lavoura. “Como era menos fumo, a gente ia aprontando ao longo dos dias e vendendo. Conseguimos comercializar tudo. No último dia de compra eu e o pai vendemos o restante”, acrescenta Janaína.

Na estufa

Como era menos quantidade de tabaco na lavoura, a família conta que ia colhendo, secando e aprontando as folhas para a venda. “A parte de cima do pé secou muito bem, cor extremamente definida. O sol não queimou as folhas. Tivemos 70% claro. Vendemos bem”, frisa Reckziegel.

O leitor pode até se questionar nesse momento, afinal, a família de Linha 17 de junho comercializou o tabaco em uma fase que a indústria comprou o tabaco acima da classe. Mas a família fez as contas comparando com valores de uma safra padrão.

“Quando a gente semeou, não sabíamos que a indústria iria comprar nesse patamar, poderia ter sido o contrário”, diz o agricultor. A média calculada pela família foi de R$ 168,50 por arroba. “Mas a gente fez nossa classificação conforme vendemos na safra normal 20/21. Dessa forma, a média seria de R$ 152 por arroba. A nosso ver foi satisfatório, pois sobrou líquido por pé plantado R$ 0,97. Na safra normal sobrou R$ 1,08 por pé, líquido”, frisa o produtor, que mantém um rígido controle para avaliar a experiência.

Em relação à cor e à média alcançada, o diferencial, segundo a família, é que na entressafra o baixeiro foi comprado bem. Na safra normal, o baixeiro ficou na lavoura, nem comercializado foi, pois não valia a pena. “Eu tinha experiência de secar fumo verde e isso também foi um diferencial”, comenta.

A ideia da família é realizar a entressafra esporadicamente. “Não vamos fazer isso todo ano, pois emenda uma safra na outra. A gente também precisa dar uma pausa”, diz o agricultor. Agora, depois de analisar os resultados, a família já realizou o plantio da safra 21/22. Neste ano, serão apenas 60 mil, antes eram 75 mil pés. Apesar de cultivarem o tabaco fora de época, a ideia não é ampliar a produção, mas sim fazer uma melhor distribuição. Além disso, utilizar os 15 hectares para diversificação e rotação de culturas durante um ano.

“O custo na entressafra é menor do que na safra normal. Vou fazer de novo, mas não sei se no ano que vem. Cada ano é um ano. Precisamos acompanhar o clima. Mas, pelo que apuramos, faríamos de novo, mas temos muito para aprender ainda.”

JORGE RECKZIEGEL

Produtor de tabaco

Experiência no galpão

• Apesar de ter comercializado o tabaco cultivado na entressafra, Reckziegel ainda decidiu fazer mais uma experiência. “Tava um clima seco, difícil de manusear o tabaco e aprontar ele. Apesar de ter comercializado tudo, pois o preço estava bom, decidi deixar 200 varas na pilha para comercializar na próxima safra. Até para ver como ele se comportar na pilha e ao tempo. Se numa próxima vez eu não vender tudo ou o preço não estiver bem, já sei como vai se comportar”, comenta.

A média calculada pela família foi de R$ 168,50 por arroba (Foto: Arquivo pessoal)

Clima

• O tabaco foi semeado e plantado em uma época mais quente. Tanto que o ciclo reduziu ao ser comparado com uma safra normal. Todavia, a grande preocupação era com temperaturas baixas. Reckziegel comenta que em 31 de maio o tabaco pegou uma geada bastante forte, e ele estava pronto para ir ao forno. “Não prejudicou nada. Percebemos que fumo grande não tem prejuízos, mas em fumo recém transplantado já temos experiência negativas de safras passadas”, cita.

Tabaco com geada
Tabaco pegou uma geada forte no dia 31 de maio, porém não sofreu com as temperaturas baixas (Foto: Arquivo pessoal)

Dicas da família

• Assim como a família foi visitar outras propriedades, Reckziegel comenta que inúmeras pessoas vieram até a sua propriedade conhecer a experiência. “Outros nos chamaram nas redes sociais e queriam saber mais sobre a entressafra”, revela.

• “Hoje eu faria algumas coisas diferentes. Eu usaria uma variedade mais precoce. Mas, na época, a gente só conseguiu essa semente. Agora já nos prevenimos e pedi a mais”, relata.

• Um dos grandes conselhos de Reckziegel é: “Informação nunca é demais. A gente precisa conversar com outros produtores e trocar ideias”.

Tabaco desenvolvido
Ilaine com o tabaco na época da primeira apanha, em maio (Foto: Rosana Wessling/Arquivo Folha do Mate)

• Uma das dicas é escolher bem a terra para plantar o tabaco. “Precisa conhecer a terra. Temos terra de areia e a terra vermelha. Como são 16 anos plantando fumo a gente já sabe como cada terra se comporta. Por isso optamos pela terra de areia”, observa.

• O tabaco também demora mais tempo para amarelar na estufa, por isso, o agricultor aconselha observar isso com cuidado e respeitar o ciclo.

 

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