Nos últimos anos, a produção de morangos cresceu de forma significativa em Venâncio Aires. São cerca de 50 produtores para fins comerciais no município, que cultivam em torno de 135 mil pés da planta, a maioria em estufas. Ao longo do último mês, grande parte desses agricultores iniciou o plantio das mudas para a nova safra.
A engenheira agrônoma Djeimi Janisch, extensionista rural da Emater/RS-Ascar, explica que as mudas importadas que são utilizadas para produção comercial geralmente chegam no fim de março. O ideal é que o plantio ocorra no início de abril, mas, por conta da estiagem, como o clima estava muito seco, o processo foi atrasado, neste ano.
De acordo com ela, o início da colheita é previsto para agosto, com pico de produção entre outubro e novembro. “Com as estufas, se consegue um microclima mais favorável e se produz praticamente o ano todo”, afirma Djeimi. Entretanto, ela observa que a temperatura ideal para o cultivo é de 12ºC a 27ºC. “Como no verão se chega a até 40ºC, isso prejudica a floração e a qualidade da fruta, tanto na forma quanto no sabor. Por isso a produção tem queda nos meses mais quentes.”
Outro aspecto destacado pela engenheira agrônoma é a importância do manejo no cultivo do morango. “Toda a adubação e o fornecimento de nutrientes ocorre pela água. Trabalhamos para que se use o mínimo possível de aditivos. A maioria dos produtores cultiva os morangos sem o uso de agrotóxicos. Como a venda direta é a principal forma de comercialização, há uma relação de confiança entre produtor e consumidor”, pontua.
“Quem opta por adquirir os morangos de produtores locais tem a vantagem de uma fruta mais saborosa e fresca. É uma cadeia curta. O produto é colhido de manhã e entregue no mesmo dia. Além disso, há a relação de confiança com os produtores, que não utilizam agrotóxicos.”
DJEIMI JANISCH – Extensionista rural da Emater
Produção em Vila Palanque
Em Vila Palanque, no interior de Venâncio Aires, a agricultora Maria Gorete Walker, 50 anos, cultiva 2,8 mil pés de morango. Parte das mudas foi plantada no início de março e já está produzindo. O restante do plantio foi feito no fim de abril e a expectativa é de que as primeiras frutas comecem a ser colhidas no início de junho.
Esta é a segunda safra da produtora rural, que se dedica ao cultivo do morango, enquanto o marido Altair Rodrigues Pinto segue focado, especialmente, na produção de milho e aipim na propriedade. “No ano passado colhi 1,2 mil quilos e acredito que neste ano a produção deve ser a mesma”, projeta Maria Gorete.
As vendas ocorrem diretamente para moradores do distrito e também no centro de Venâncio. Pessoas que fazem tortas e uma sorveteria também estão entre os clientes. “As encomendas são feitas por telefone e depois faço as entregas. Colho de manhã e entrego no mesmo dia”, comenta.
Enquanto, no pico da safra, a demanda principal é na colheita – chega a duas por dia, nos dias de verão -, agora, o principal envolvimento é monitorar o desenvolvimento das mudas. “Não é um serviço braçal, no sol quente, mas tem bastante compromisso. Todos os dias vejo se surgiu algum fungo, alguma folha estragada, para agir logo”, detalha a agricultora.
Como a produção é sem agrotóxicos, ela utiliza estratégias e produtos biológicos para controlar pragas e garantir a qualidade das frutas. “Todo o dia tem que estar atenta, pois é uma planta muito sensível”, relata, ao destacar a importância da assistência técnica da Emater e da troca de experiências com outros produtores de morango.
Consumo de morango e cultivo em estufa
Nos últimos anos, a produção de morangos aumentou de forma significativa, em Venâncio. Além da venda direta aos consumidores, acelerada durante a pandemia de Covid-19, o consumo de açaí, com diversos estabelecimentos que vendem o produto, também tem contribuído para uma maior demanda de morango – utilizado como um adicional do açaí.
Segundo a extensionista rural da Emater, Djeimi Janisch, na maioria das propriedades, o cultivo do morango ocorre em estufa, o que garante mais ergonomia, com o trabalho em pé, e uma maior produção por área.
Ela explica que o cultivo elevado surgiu porque o morango é muito sensível a doenças de solo na raiz e coroa da fruta. “Como as propriedades são pequenas e não têm espaço para rotação de áreas para evitar as doenças, é difícil controlá-las, com o cultivo do morango no solo. Por isso, a estufa é a melhor opção, com o cultivo em slabs [sacos plásticos]”, comenta.
Mudas importadas
• De acordo com a extensionista da Emater, Djeimi Janisch, as mudas de morango utilizadas para plantio comercial, em Venâncio Aires, são importadas da Espanha, da região da Segóvia.
• Também há mudas oriundas da Patagônia argentina e chilena, cujo plantio ocorre em junho e julho.
• As mudas são utilizadas por dois anos. Depois desse período, não têm mais o mesmo potencial produtivo. Por isso, precisam ser substituídas.