Com a expectativa de já levar o tabaco para as lavouras ainda no mês de maio, muitos produtores de Venâncio Aires lidam, nas últimas semanas, com mudas vistosas e crescidas nos canteiros. Embora o período do plantio ainda gere certo estranhamento para muita gente, fato é que, nos últimos anos, a antecipação do transplante tem virado rotina para produtores de diferentes localidades, preocupados com o calor e com a sempre ameaçadora estiagem, nos meses mais quentes.
Em Linha Cerro dos Bois, por exemplo, a família Hermes semeou as mudas em 10 de março – 35 dias antes do período em 2022. “Ano passado já fizemos uma experiência, com uma variedade de fumo para frio, e plantamos quatro mil pés. Ela é bastante resistente à temperatura baixa e, neste ano, aumentamos a quantidade”, explica Deonísia Maggioni Hermes, 54 anos.
Na propriedade, ela, o marido José Carlos, 65 anos, e o filho Lucas, 28, vão levar para a lavoura 65 mil pés, com parte do plantio já no fim de maio. “Antigamente, ainda em setembro se plantava e em fevereiro ainda tinha colheita. Mas cada vez mais o pessoal está antecipando, por causa do calor. Hoje, quando chega o Natal, a gente tem tudo pronto”, destaca a agricultora.
Os Hermes preferem não arriscar sobre o que pode render a safra deles em produtividade, mas, pelo parâmetro das mudas, acreditam num bom desenvolvimento das folhas.
Clima e preparação do solo
A família moradora de Cerro dos Bois é uma entre tantas que aderiram, nos últimos anos, à antecipação da produção. “Essa busca do plantio mais cedo é para fugir da estiagem, que afetou nos últimos três ciclos. Até então, é um procedimento que teve êxito. As próprias empresas de tabaco estão desenvolvendo fumo para período intermediário, com temperaturas mais baixas”, considera o chefe do escritório local da Emater, Vicente Fin.
No entanto, ele faz a ressalva da previsão de volta do El Nino (fenômeno climático que indica chuva volumosa e até acima da média no Sul do Brasil). “A tendência é de ter chuvas regulares e com isso também pode ter mais frio no inverno do que tinha em anos anteriores. E aí também se pode ter geada. O certo seria antecipar apenas metade, já que tem previsão de chuva normal.”
Sobre a preparação para a safra 2023/24, Vicente Fin também destaca a importância de se fazer matéria orgânica para o tabaco. “Os grandes problemas da produção e baixa resistência à estiagem é ter um solo não adequado. O ideal é que o produtor, neste período, estivesse com toda lavoura de milho ou produção de palhada, para incrementar o solo.”
2,35 toneladas/hectare – é a estimativa de produção em Venâncio na safra 2023/24, numa área entre 8 mil a 8,2 mil hectares, conforme informações da Emater.
Compra 2022/23
Enquanto a nova temporada já está em andamento, segue a comercialização da safra 2022/23. Na maioria das empresas consultadas pela Folha, a compra de tabaco continua e não há previsão de término.