Frente ao cenário de superlotação de leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com pacientes de coronavírus, a Associação Médica de Venâncio Aires (Amva) convoca a população de Venâncio Aires a fazer a sua parte.
Em um comunicado divulgado neste sábado, a categoria alerta para o fato de que o município está vivendo o pior momento da pandemia de Covid-19 dos últimos doze meses. “Se faz urgente a desaceleração da curva de contágio. Precisamos reduzir o número de novos casos, sob o risco de faltar medicações e até oxigênio”, diz um dos trechos do manifesto da entidade, que reúne cerca de 90 médicos de Venâncio.
Integrante da associação e coordenadora da UTI do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), a médica Jacqueline Froemming explica que apenas a diminuição do número de casos vai garantir que a situação do hospital seja amenizada. “A população tem que entender que é responsabilidade de cada um. Não tem outra maneira a não ser não se expôr ao vírus”, enfatiza.
A médica afirma que, em condições normais, como no ano de 2019, a taxa de ocupação da UTI variava entre 85% e 90%, sempre com um ou dois leitos sobrando, o que garantia a assistência imediata de um paciente que necessitasse da vaga. No último mês, apesar da abertura de novos leitos em espaços improvisados, a ocupação não diminui.
“Uma UTI com 100% de ocupação o tempo todo não é o ideal, porque o paciente chega e não tem o atendimento mais adequado. Se consideramos que a estrutura original do hospital é de 10 leitos de UTI, nossa lotação sempre ultrapassa 200%”, observa Jacqueline. Na sexta-feira, 26, eram 19 pacientes com Covid internados em UTI no Hospital São Sebastião Mártir, além de dez no setor de Emergência, aguardando leito de UTI, e 38 pacientes clínicos.
Estrutura de UTI
A principal preocupação, em meio a esse cenário, conforme a coordenadora da UTI, é a perda de qualidade no atendimento. Ela observa que, embora tenham sido abertos novos leitos de terapia intensiva, eles estão em espaços improvisados, o que não garante as condições ideais e originalmente seguidas em uma UTI.
“Nosso hospital tem dez leitos de UTI. Os outros a mais estão em locais que não foram construídos para isso, eles foram adaptados neste momento. Os profissionais também foram realocados de outros setores, nem todos têm experiência em terapia intensiva”, compartilha.
Jacqueline comenta que existe uma resolução da Anvisa que determina o mínimo para o funcionamento de uma UTI, com base em evidências científicas, como o distanciamento das camas e a quantidade mínima de profissionais. “Com a pandemia, isso foi flexibilizado para permitir que mais pessoas fossem atendidas”, cita.
Para a médica, que é intensivista desde 2002 e atua na UTI do Hospital São Sebastião Mártir desde 2013, tem sido frustrante e desafiador trabalhar na atual conjuntura, que é agravada com a possibilidade de falta de medicamentos e de oxigênio no mercado. “O mais triste é ver que o paciente está evoluindo de forma grave e que, se tivesse chegado em outro momento, em condições normais, a chance dele seria maior, que ele poderia ter um desfecho diferente. Agora, estamos fazendo tudo dentro do que é possível.”
“Nós, que trabalhamos em UTI, sempre vivemos essas situações de doença e de morte. Mas nunca se viu algo nessa proporção, com tantos pacientes ao mesmo tempo. Quando imaginaríamos ter em torno de 70 pacientes internados no hospital pela mesma doença? E essa não é uma situação exclusiva daqui, está assim em todos os hospitais.”
JACQUELINE FROEMMING
Coordenadora da UTI
Famílias e sobrecarga
Além da dificuldade de garantir o atendimento ideal para os pacientes de UTI, a médica Jacqueline Froemming cita a restrição das visitas familiares como um dos pontos mais delicados no cenário atual. “O distanciamento da família é muito triste, mas não temos como garantir os horários de visitas neste momento, com tantas pessoas internadas e o a estrutura toda adaptada. Tivemos que priorizar a assistência ao paciente e, consequentemente, reduzir as visitas”, lamenta.
Ela afirma que, por meio de boletins diários informados por uma funcionária do hospital, busca-se repassar as atualizações para os familiares. A médica também salienta a sobrecarga de todos os funcionários do hospital, inclusive daqueles que não atuam diretamente com os pacientes. “Todos nós estamos com responsabilidades e cargas muito além do normal. Este momento está exigindo muito de todos.”

Mais quatro semanas críticas
De acordo com projeção dos profissionais de saúde, por, pelo menos mais quatro semanas, o hospital deve sentir os reflexos da superlotação. Segundo a médica Jacqueline Froemming, os reflexos das medidas de prevenção ou das aglomerações sempre vão chegar ao hospital de duas a três semanas depois. Por isso, apesar das medidas de restrição mais rígidas nas últimas semanas, com fechamento do comércio, a situação do hospital ainda é de colapso.
“Em geral, as pessoas vão precisar do hospital de 10 a 14 dias depois de se infectarem. Por isso, precisamos conseguir controlar a contaminação agora, para que, nas próximas semanas, os leitos sejam liberados, com a alta dos pacientes, e possam receber novos pacientes que precisarem. Hoje, há o risco do paciente chegar e não conseguir ser atendido conforme precisa”, alerta.