Custo da UPA dobrou em 11 anos, mas União e Estado repassam mesmos valores de 2014. Complementação tem sido bancada pela Prefeitura.
Com mais de 200 pacientes atendidos por dia, em média, e mais médicos trabalhando todos os dias, a capacidade operacional da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), de Venâncio Aires, já poderia se encaixar em um modelo maior do que está enquadrada no Ministério da Saúde. Nesse caso, uma readequação de porte para fazer jus ao que já acontece na prática, surge como possibilidade para tentar buscar um aumento de repasses financeiros. E foi justamente essa questão que foi levada pelo prefeito Jarbas da Rosa ao Governo Federal nesta semana. Ele esteva em Brasília para tratar de interesses da cadeia produtiva do tabaco, mas aproveitou a oportunidade para reivindicar a demanda que trata da saúde e afeta diretamente no orçamento municipal.
Desde 2017, quando o Ministério da Saúde redefiniu as diretrizes de modelo assistencial das UPAs, a classificação por portes (1, 2 e 3) foi substituída por modelos (1 a 8). Com isso, a de Venâncio, que em 2014 era porte 1, passou para modelo 3. Pelo que está estabelecido, as UPAs modelo 3 precisam atender 150 pessoas por dia e oferecer dois médicos de dia e dois de noite.
Mas, nos últimos anos, a unidade venâncio-airense vem superando ambos os números: hoje tem uma média de 210 atendimentos diários (com base nos dados de 2025) e oferece três médicos diurnos (todos os dias da semana), dois noturnos (a semana toda) e um quarto médico das 10h às 22h de segunda a sexta. “Já nos encaixaríamos no modelo 4. E só não somos modelo 5 porque não tem um terceiro médico de noite”, explica o superintendente administrativo da UPA, Rodrigo da Silva.
Valores sem reajuste
Segundo Silva, desde que foi inaugurada, em junho de 2014, a unidade recebeu três visitas de representantes do Ministério da Saúde, ou seja, o órgão tem conhecimento que, na prática, existe uma capacidade operacional maior acontecendo. “Nos avaliaram e renovaram nossa certificação e qualificação. Mas não fizeram ressalva em relação ao que já é feito a mais. Entendo que precisamos nos readequar financeiramente, porque não é justo do Município bancar o aumento sozinho.”
A readequação que o superintendente administrativo da UPA se refere diz respeito aos repasses mensais para custear a unidade. Quando abriu as portas, o custo de manutenção era de cerca de R$ 420 mil por mês. A fatura era dividida da seguinte forma: R$ 170 mil do Ministério da Saúde, R$ 135 mil do Estado e R$ 115 mil da Prefeitura. Onze anos depois, com mais médicos trabalhando, mais atendimentos diários e aumento de insumos, o custo da UPA praticamente dobrou e já gira em torno de R$ 820 mil mensais. O problema é que, segundo Rodrigo da Silva, das três partes envolvidas, União e Estado não reajustaram os repasses, ou seja, continuam enviando os mesmos valores do início. Com isso, a Prefeitura tem tirado do próprio bolso o necessário para fechar a conta: mais de meio milhão por mês – quase cinco vezes o valor que destinava em 2014.
‘Retaguarda’ do hospital diminui custos da UPA
A estrutura física da UPA, localizada no bairro Cruzeiro, tem 1,2 mil metros quadrados, onde trabalham 72 funcionários e cerca de 45 médicos na escala. São oito leitos de observação, dois leitos de emergência, salas de medicação, curativo e sutura, raio-x, farmácia, almoxarifado, sala de acolhimento, quatro consultórios, além de salas administrativas. Os exames laboratoriais são disponibilizados no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), que é o responsável pela gestão da UPA. “Toda a retaguarda que o hospital dá, com lavanderia, copa, cozinha, esterilização de materiais, além das partes administrativa, financeira e de RH, isso já diminui muito o custo. Se a UPA tivesse outra gestão, passava de R$ 1 milhão o custo mensal”, observa Rodrigo da Silva.
Durante o programa Terra em Uma Hora, da Rádio Terra FM 105.1, nesta sexta-feira, 11, o administrador do HSSM, Luís Fernando Siqueira, destacou que, atualmente, a UPA tem o repasse a contento do custo. No entanto, comentou sobre a insuficiência de verba da União, o que leva a Prefeitura a bancar o valor que falta. Além disso, entende que, se não fosse a gestão do hospital, a unidade teria um aumento de custo mensal entre 20% e 30%, superando, então, R$ 1 milhão.
Expectativa
Siqueira disse que tem a expectativa de uma possível alteração de porte da UPA, mas não se mostra otimista quando o assunto é mais dinheiro. “O que interfere para o Ministério da Saúde é o número de população abrangida pela UPA. Hoje nossa população fica entre os 100 mil habitantes, com Venâncio, Mato Leitão, Vale Verde e Passo do Sobrado [85 mil pessoas somados os quatro municípios]. A justificativa técnica pra União seria a população abrangida e não número de atendimentos. Quanto ao aumento dos recursos, acredito que pode acontecer por forças políticas, que é o que o prefeito está fazendo, por exemplo, buscando para ajudar nesse financiamento.”
Sobre valores, ainda, conforme a portaria do Ministério da Saúde, se a UPA de Venâncio passasse para modelo 4, o repasse da União já passaria de R$ 170 mil mensais para R$ 235 mil.
Mais médicos na UPA
No dia 20 de junho de 2014, quando começaram os atendimentos na UPA, a unidade disponibilizava dois médicos 24 horas. Hoje esse número é maior e as contratações são mantidas com recursos da Prefeitura. Rodrigo da Silva lembra que, em 2020, foi colocado um terceiro médico nas segundas-feiras. Em 2021, o mesmo reforço passou a atender de segunda a sexta.
Em 2022, um quarto médico passou a atender de segunda a sexta e o terceiro foi ampliado para sábado e domingo. No mesmo ano, foi criada uma equipe de emergência, com enfermeiros e técnicos em Enfermagem, mantida até hoje. “A estrutura física existente hoje está totalmente ocupada. Então a questão é readequar a parte financeira”, afirmou o superintendente da UPA.
Orçamento de 2025 já está comprometido
O movimento do prefeito Jarbas da Rosa em Brasília passou pela apresentação de dados junto ao Ministério da Saúde. Mas, o que ele trouxe para Venâncio, não anima a curto prazo. “Cadastramos uma adequação de porte, colocamos isso em documentos e em comprovações de atendimentos. Isso nos remete que podemos aumentar esses recursos, porque temos tudo embasado e agora é ter recursos na Saúde para esses repasses. Mas é na questão orçamentária que temos esbarrado e o discurso no Governo Federal é único: nenhum recurso extra para novas portarias, então o orçamento já está comprometido em 2025”, relatou o prefeito.
637.222 – foi o número de pacientes atendidos na UPA desde a abertura, em 20 de junho de 2014, até 30 de junho de 2025.
Números gerais
- 75% a 80% dos atendimentos são de baixa complexidade e sem urgência, como infecções respiratórias e gastroenterites.
- 15% a 18% são atendimentos de urgência e 2% são emergências.
- 15% dos pacientes têm entre zero e 12 anos.
- São, em média, 3 mil exames laboratoriais e 900 exames de raio-x, por mês.
- O tempo médio de espera dos pacientes, considerando as 24 horas em 2025, é de 30 minutos. Isso, desde que se chega na recepção até ser atendido pelo médico.
- O recorde de atendimentos diários foi em 24 de abril de 2023, com 384 pacientes.
- O mês com o maior número de pessoas atendidas foi maio de 2023, com 8.210 pacientes.
- O ano com mais atendimentos foi 2024, com 74.897 pacientes. O número é 74% maior que 2015 (primeiro ano completo de UPA), quando foram 42.900 pacientes.
- A média de pacientes/dia que a UPA tem atendido em 2025 é de 210, considerando os 37.818 atendimentos até 30 de junho.
A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas de Venâncio Aires foi a primeira inaugurada no Vale do Rio Pardo, na gestão do ex-prefeito e hoje deputado estadual, Airton Artus (PDT), em 2014.
Com 74,8 mil pacientes atendidos em 2024, vale o seguinte comparativo: é como se toda a população de Venâncio Aires (70,8 mil) e todos os moradores de Vale Verde (3,2 mil) – exemplo de município da microrregião – tivessem passado pela UPA no ano passado.