Coronavírus preocupa, mas não é motivo para desespero

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Uma doença nova, com disseminação rápida. Essa é a definição utilizada por médicos e especialistas em relação ao Coronavírus, que causa a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), afetando principalmente o sistema respiratório. Até o momento, o vírus deixou mais de 83 mil infectados e matou mais de 2,8 mil pessoas (a maioria na China). Mais de 36 mil se recuperaram. No Brasil, há um caso confirmado em São Paulo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou nesta sexta-feira, 28, que elevou a ameaça ligada ao novo Coronavírus para ‘muito alta’. O vírus já infectou cerca de 79 mil pessoas na China e mais de 5 mil no resto do mundo. Conforme dados mais recentes do Ministério da Saúde, divulgados no fim da tarde desta sexta-feira, 28, há 182 casos suspeitos no Brasil, 27 deles no Rio Grande do Sul.

Um dos casos suspeitos é de Santa Cruz do Sul, município do Vale do Rio Pardo, vizinho de Venâncio Aires. O paciente mora na cidade e esteve em viagem pela Europa nas últimas semanas. A Vigilância Epidemiológica foi contatada pelo próprio paciente, que suspeitou dos sintomas. As pessoas com as quais ele teve contato estão sendo monitoradas.

CALMA

Em entrevista à Folha do Mate, a infectologista Sandra Knudsen ressaltou que não há necessidade de a população entrar em pânico, mas reforçou alguns cuidados. “Como se trata de uma nova doença, a disseminação é rápida, pois a população não tinha nenhum tipo de imunidade contra ela. Então, temos muitos casos de uma doença sobre a qual ainda não temos muito conhecimento. Isso acaba gerando pânico entre as pessoas.”

No entanto, Sandra destacou que com mais de 80 mil casos no mundo, já é possível obter informações sobre o comportamento da patologia. “Sabemos que a letalidade (morte) é de mais ou menos 2%, o que não é elevado em comparação com outras doenças. Portanto, me parece que podemos manter a calma, o que não quer dizer que não devemos nos preparar e tomar cuidados”, reforçou.

Conforme a infectologista, o risco maior de gravidade e mortalidade é para pessoas que têm outras doenças crônicas e baixa imunidade. O proprietário da Clínica São Vicente e médico do trabalho, Airton Artus, também enfatizou que não há necessidade de pavor e que as pessoas mais suscetíveis aos vírus são aquelas que já têm alguma doença. “Não podemos ter pânico. O vírus, ele realmente vai chegar, mas ele não necessariamente é mortal. Podemos observar nos casos, a maioria sobrevive. Os imunodeprimidos, aqueles que estão com alguma doença, essas pessoas estão mais expostas”, comentou.

* Com informações do Ministério da Saúde

Cuidados

• Sandra também destacou que o clima contribui para a disseminação do Coronavírus, pois o frio costuma aglomerar as pessoas em ambientes fechados, facilitando a ação do vírus. Conforme a médica, não há indicação, no momento, para uso de máscaras, a não ser nos casos em que existe suspeita da doença, com sintomas respiratórios e retorno de viagem a um dos países de risco.

• O Ministério da Saúde monitora 16 países para casos suspeitos do coronavírus: Alemanha, Austrália, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, França, Irã, Itália, Malásia, Camboja, China, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Tailândia e Vietnã.

• O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, recomendou, durante entrevista coletiva na quarta-feira, 26, que os gaúchos façam uma pausa no compartilhamento do chimarrão. A sugestão também é valida para a partilha de copos, canudos, talheres e outros utensílios e para o tereré, que assim como o chimarrão, é consumido por meio da mesma bomba metálica. Segundo o ministro, gotículas de saliva que ficam na bomba contaminam outras pessoas caso alguém seja portador do Coronavírus.

• A infectologista Sandra Knudsen lembrou, contudo, que não é preciso parar de tomar chimarrão. “Precisamos evitar de partilhar a mesma bomba e cuia quando alguém estiver com sintomas respiratórios, como tosse, febre e dor de garganta. O ideal seria cada um usar a sua cuia ou a sua bomba.”


“Os cuidados para prevenir a contaminação são os mesmos para outros vírus respiratórios como a gripe, por exemplo, visto que a forma de transmissão é a mesma: tosse, espirros e mãos contaminadas por essas secreções. Assim, a principal medida de prevenção é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel.”

SANDRA KNUDSEN -Infectologista

Limpar as mãos pode reduzir em até 40% o risco da contaminação

Com a repercussão do Coronavírus com casos registrados no Brasil, depois de 11 anos retorna com mais ênfase a campanha de utilização do álcool gel e do sabonete líquido. Em 2009, por ocasião do vírus da gripe H1N1, a recomendação de prevenção foi a da utilizar destes componentes a fim de evitar a propagação do vírus. Durante a campanha, escolas, empresas e instituições enfatizaram a importância da utilização.

O Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) reforça a necessidade de investir na prevenção contra o Coronavírus (Covid-19). Atento às questões que envolvem a categoria médica e a saúde da população em geral, o Simers lançou a campanha ‘Prevenir: faça disso um hábito. Higienize suas mãos’, com distribuição de folders e sachês com álcool gel. Foram desenvolvidos materiais gráficos, online e comunicação interna aos colaboradores da entidade médica, para conscientização sobre a importância da higienização das mãos, bem como sobre a necessidade de procurar um médico em casos de sintomas e dúvidas.

A campanha do Simers também apresenta um vídeo, o qual destaca que tudo inicia pelas mãos. A peça publicitária ilustra a relevância do hábito de higienizar as mãos. “Essa mobilização não está focada apenas nos profissionais da saúde. Estamos envolvendo a população em geral”, destaca o presidente do Simers, Marcelo Matias.

DADOS DA OMS

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o hábito de higienizar as mãos regularmente pode reduzir em até 40% a contaminação por vírus e bactérias que causam doenças como gripes, resfriados, conjuntivites e viroses. No Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), cerca de 25% das infecções registradas são causadas por micro-organismos multirresistentes – aqueles que se tornam imunes à ação dos antibióticos.

O QUE DIZ A PREFEITURA

1 Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa da Prefeitura emitiu, no fim da tarde desta sexta-feira, 28, algumas informações sobre Venâncio Aires e um plano de contingência para a doença.

2 Segundo o comunicado, a Secretaria de Saúde há mais de 15 dias atua na organização do plano de contingência para a doença que assusta o mundo. Na semana passada, a Vigilância Epidemiológica iniciou os contatos com empresas para repassar os cuidados e os procedimentos padrões caso estas recebem empresários ou visitantes de outros países e principalmente em ações de alerta para a população.

3 Postos de saúde, Unidade Pronto Atendimento (UPA) e Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) estarão preparados para atender em caso de necessidade.

4 Manifestações clínicas: o Coronavírus humano comum causa infecções respiratórias brandas a moderadas de curta duração. Os sintomas podem envolver coriza, tosse, dor de garganta e febre. Esses vírus algumas vezes podem causar infecção das vias respiratórias inferiores, como pneumonia.

5 Período de incubação é de 2 a 14 dias. Já o período de transmissibilidade, de uma forma geral, ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas. É possível a transmissão viral após a resolução dos sintomas, mas a duração do período de transmissibilidade é desconhecido. Durante o período de incubação e casos assintomáticos não são contagiosos.

6 A principal forma de transmissão do Coronavírus se dá por contato próximo de pessoa a pessoa. Definição de contato próximo: qualquer pessoa que cuidou do paciente, incluindo profissionais de saúde ou membro da família, que tenha tido contato físico com o paciente ou que tenha permanecido no mesmo local que o paciente doente (morado junto ou visitado).

Cartilha

• Preocupada com a saúde dos colaboradores das empresas, a Clínica São Vicente lançou na semana uma cartilha para distribuir nas empresas. “Como a clínica trabalha com muitas empresas que os colaboradores viajam, setores que viajam para o exterior, há todo um monitoramento se alguém teve contato com um suspeito. Então a gente lançou, por conta, uma cartilha com informações e recomendações para distribuir as empresas e funcionários”, explica o proprietário, médico e ex-prefeito Airton Artus.

• As recomendações são orientar e notificar as pessoas que estiveram em áreas de risco, como a China, países orientais e Europa e apresentem sintomas de febre, tosse, coriza (nariz escorrendo) e falta de ar; usar álcool gel nos departamentos da empresa e nas recepções; e ter atenção especial com clientes e visitantes, principalmente se são estrangeiros ou tiveram contato com suspeitos.

A Associação Médica de Venâncio Aires (AMVA) foi procurada pela reportagem e informou que está promovendo uma palestra para atualização sobre infecção por Coronavírus para médicos e enfermeiros na próxima quarta-feira, 4 de março, no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM).

    

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