Desafios e possibilidades do convívio familiar

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Ficar em casa sem o contato com colegas de trabalho, da família e de amigos tem sido muito difícil para muitas pessoas, que devido à pandemia do coronavírus tiveram que readaptar a rotina. Além dos adultos, as crianças também sofrem com a mudança de hábito. É neste momento que os pais devem usar a criatividade para fazer com que os dias em casa se tornem produtivos e divertidos.

De acordo com a orientadora educacional e professora de Educação Física, Mônica Cristina Müller, apesar do momento de insegurança e fragilidade, é importante ver o lado positivo deste cenário. “Diante desta situação, pode haver o resgate dos valores e a valorização dos momentos mais simples em família. Sentar para conversar, fazer as refeições em conjunto e assistir a um programa de TV em família são algumas das atividades que podem ser resgatadas”, sugere.

Já que visitar os avós, brincar com os vizinhos e andar de bicicleta deixam de fazer parte da programação, é hora de se reinventar, para propor novas atividades em família e garantir a distração dos pequenos durante a quarentena.

Segundo ela, há muitas brincadeiras para se fazer em casa. “Jogos de mesa, moinho, xadrez, cartas e paciência podem ser algumas das alternativas”. Ela cita que dá para resgatar as brincadeiras lúdicas de carrinho e boneca ou usar a criatividade e fazer uma dramatização dentro de uma barraca, por exemplo. Ela reforça que há várias opções, mas tudo vai depender das preferências e da condição financeira da família. “Quem não tem acesso à Netflix ou a jogos, por exemplo, pode descobrir outras alternativas”, acrescenta.

Cláudia costuma jogar com a filha Valentina, durante a quarentena (Foto: Divulgação)

A professora observa que, mesmo assim, a aproximação entre as pessoas por muitos dias gera conflitos e tensões. Para reverter este quadro ou impedir que isso aconteça, Mônica orienta que haja equilíbrio. “Os adultos e as crianças estão construindo uma outra relação. É preciso se adequar ao dia a dia e saber conviver com as dificuldades que surgem no convívio familiar. É indicado manter a paciência e o diálogo para encontrar soluções”, ressalta. Ela acrescenta que durante as desavenças, os pais devem evitar falar com as crianças de forma agressiva, para que o ambiente não se torne pesado e de difícil convívio familiar.


“Para inserir uma nova rotina, baseada em uma programação conjunta em família, é necessário ter organização, planejamento e, acima de tudo, muita paciência. As crianças, assim como os adultos, devem manter o equilíbrio emocional.”

MÔNICA CRISTINA MÜLLER – Orientadora educacional


Brincadeiras e atividades envolvem toda a família

Cláudia Rejane Duarte da Rosa, 42 anos, é recreacionista da Organização Não Governamental (ONG) Parceiros da Esperança (Paresp) e, mesmo que já tenha experiência com crianças, teve que se reinventar durante a quarentena.

Ela busca criar novas alternativas, principalmente para distrair a filha Valentina, 6 anos. “Como ela está em processo de alfabetização, minha preocupação é que ela não perca o foco. Por isso, procuro incentivá-la com jogos educativos, quebra-cabeças e dominós”, afirma ela, que também é mãe de Pedro e Leonardo, de 23 e 21 anos, respectivamente, e que também moram em casa com os pais.

Como a filha é tranquila e gosta de estar em casa, tudo fica mais fácil para a família, que sempre está propondo novas alternativas de distração. “Geralmente, leio histórias da Bíblia para ela e, depois disso, fizemos uma oração. Ela também gosta de pintar, ouvir música e brincar com a cachorrinha Filó”, explica a mãe, que observa que as duas estão ainda mais próximas. “Durante a quarentena, fizemos coisas que nunca tínhamos feito antes, por exemplo, um brigadeiro.”

Valentina costuma brincar no pátio com a cachorrinha Filó

Cláudia percebeu que a filha estava um pouco desmotivada na primeira semana porque teve que deixar de brincar com as colegas e de estar ao lado da avó, Sara. Mas, no decorrer dos dias, a menina foi aprendendo a conviver com o isolamento social.

Além das atenções voltadas para a filha mais nova, Cláudia percebeu que toda a família está mais unida. “Todos trabalhamos fora e nos encontramos somente à noite. Agora estamos fazendo as refeições juntos e dividindo as tarefas domésticas”, conta. “A convivência está sendo uma nova experiência em família e, apesar da situação, temos nos divertido muito uns com os outros.”

Como explicar aos filhos

Explicar a situação para os filhos e a necessidade do isolamento é um desafio para muitos pais.

De acordo com o médico pediatra, psiquiatra infantil e psicanalista Victor Mardini, da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, o grau de compreensão varia de acordo com a maturidade e idade de cada um, mas a transparência é indispensável para qualquer faixa etária.

“Para uma criança pequena, é importante explicar. Talvez fazê-lo lembrar alguma vez que tenha tido uma gripe, só que que dessa vez se passar para o vovô e vovó será muito mais forte. Já para uma criança maior ou adolescente é importante estar presente e saber selecionar a informação evitando que cheguem até ele inverdades sobre o assunto”, orienta o médico. Ele reforça que é preciso explicar aos filhos que o confinamento em casa não é apenas para si próprio, mas para evitar que outras pessoas fiquem doentes.

    

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