Nos últimos dias, uma pergunta vem se repetindo Brasil afora: Será que já é possível desobrigar o uso de máscara? As opiniões, como era de se esperar, são divergentes. Vão desde manifestações como dos prefeitos de Porto Alegre e Lajeado, Sebastião Melo e Marcelo Caumo, respectivamente, que defendem a flexibilização da medida de proteção, até o alerta da infectologista Sandra Knudsen, que entende que ainda não é momento de relaxar e colocar em risco o cenário de tranquilidade que hoje existe em Venâncio Aires.
Na capital, Melo já apresentou argumentos, inclusive, ao governador Eduardo Leite, no sentido de que já é possível avançar nas flexibilizações. Na cidade do Vale do Taquari, Caumo iniciou debate que se espalhou entre a comunidade e entidades representativas. Os exemplos do Rio de Janeiro e de Brasília, estados onde a máscara já não é mais cobrada em ambientes abertos, oferecem mais intensidade às discussões.
75% de vacinados
Para o prefeito de Venâncio Aires, Jarbas da Rosa, o assunto deve ser pautado com mais frequência a partir de novembro. De acordo com ele, embora os números de casos e internações tenham caído muito nos últimos meses, “seria necessário alcançar um percentual de 75% da população vacinada com a segunda dose contra a Covid-19 para que tenhamos mais segurança”. O gestor ressalta que a situação epidemiológica também é considerada sob controle na microrregião, o que reforça a chance de novas flexibilizações.
“Do ponto de vista médico e epidemiológico, já temos possibilidades, mas vamos aguardar o posicionamento do Governo do Estado. Acredito que os 75% devem se completar até o fim deste mês”, projeta Jarbas da Rosa.
“Compartilhar o ar em ambientes fechados é o maior risco”
Infectologista que se tornou referência em Venâncio Aires para assuntos relacionados à Covid-19, Sandra Knudsen até considera a não utilização de máscara durante atividades físicas, em ambientes abertos, mas alerta que não é o momento de relaxar na proteção, sob pena de termos novo aumento nos números referentes ao coronavírus. Confira o que ela disse à Folha do Mate.
Folha do Mate – O assunto do momento é a possível retirada da obrigação de uso de máscara, especialmente em ambientes abertos. O que você, como infectologista, pensa a respeito?
Sandra Knudsen – Acredito que ainda é muito precoce a gente não cobrar o uso, principalmente em ambientes fechados. Hoje já se sabe que a principal via de transmissão do coronavírus é pelo ar. Então, compartilhar o ar com outras pessoas, ainda mais em ambientes fechados, é o maior risco que a gente tem de contrair o vírus.
Entre os argumentos que pesam para que a discussão se intensifique está, por exemplo, a situação sob controle de novos casos e internações pela doença em Venâncio Aires. Como convencer as pessoas de que ainda é cedo para a flexibilização?
É verdade que estamos vivendo, em Venâncio Aires, um momento muito tranquilo em relação à pandemia, mas isso não quer dizer que a gente esteja livre de ter um novo aumento do número de casos e de internações, a exemplo do que está acontecendo em outros lugares, não longe do nosso município. Não podemos arriscar esta situação conquistada a duras penas em Venâncio e relaxar nas medidas básicas de segurança.
O avanço do percentual da população vacinada também é lembrado quando a possibilidade de desobrigação do uso de máscara entra em pauta. Você consideraria a não utilização de alguma forma?
A máscara é, sem dúvida nenhuma, ao lado da vacina, a principal forma de prevenção à doença. Não usar máscara, neste momento, ao ar livre, fazendo um exercício físico, sem aglomeração de pessoas, é uma coisa. Isso eu até acredito que a gente possa fazer com tranquilidade. Agora, não usar máscara, em um ambiente fechado, onde a gente sabe que o coronavírus fica suspenso no ar, na forma de aerossol, é um risco muito grande. Até porque já vimos que as vacinas, apesar de extremamente eficazes em relação ao desenvolvimento de doença grave, não impedem a contaminação e transmissão. Ou seja, não é porque estamos vacinados que não podemos contrair ou transmitir o vírus.
Sobre as vacinas, existe preocupação no sentido de queda no nível de proteção para os casos de quem foi imunizado nas primeiras etapas da campanha contra a Covid-19?
A vacina é a forma mais eficaz de contenção da doença, mas precisamos de um número muito elevado da população imune para que tenhamos mais segurança. A gente também precisa considerar que as primeiras pessoas vacinadas, lá no início do ano, já possam estar perdendo parte da sua proteção. Estamos acompanhando esta história da terceira dose para todos e, então, realmente, não é o momento de a gente relaxar no uso de máscaras em ambientes fechados.