
Venâncio Aires - A informação é essencial, mas o excesso dela na era digital se tornou um problema de saúde mental. Em participação no programa Folha 105 da rádio Terra FM, recentemente, a psicóloga Priscila Schonarth tratou do fenômeno como infoxicação, a intoxicação por informação. O termo descreve o impacto de viver permanentemente conectado, exposto a estímulos constantes, sem pausas nem filtros.
“É comprovado que isso traz impacto para a nossa saúde mental, porque o cérebro não consegue processar de forma saudável essa enxurrada”, explicou. O cérebro humano, disse Priscila, é naturalmente programado para buscar novidades — um mecanismo que, nas redes, se transforma em armadilha.
“A cada estímulo, o cérebro libera dopamina, o neurotransmissor do prazer e da recompensa. Com o tempo, é preciso cada vez mais estímulos para sentir o mesmo bem-estar, o que eleva o risco de vícios e dependência das redes sociais”, pontuou. Assim surge o comportamento do ‘só mais um vídeo’, quando o tempo e os limites se perdem na rolagem infinita.
A psicóloga alertou que essa hiperconexão reduz a capacidade de discernir o que é verdadeiro ou relevante e provoca efeitos mentais concretos, como ansiedade, irritabilidade, insônia e dificuldade de foco. “Vivemos querendo dar conta de tudo, mas quanto mais consumimos, mais perdidos e cansados nos sentimos.”
O caminho, segundo ela, passa pela consciência e pelo autocuidado. Definir tempo de uso, selecionar fontes confiáveis, fazer pausas e cultivar atividades offline são estratégias simples, mas eficazes. “Informar-se é importante, mas cuidar da mente é essencial”, resumiu Priscila.
Infância sob telas faz problema aparecer cada vez mais cedo
Também em participação no programa Folha 105, que discutiu o tema, a terapeuta ocupacional Ângela Cristina Martins chamou atenção para um ponto preocupante: os efeitos da infoxicação começando cada vez mais cedo. “Pesquisas mostram que bebês de até dois anos passam, em média, duas horas por dia em frente às telas, e 96% das crianças entre quatro e seis anos interagem com dispositivos digitais diariamente”, relatou.
Quando esse uso ocorre sem supervisão, alertou a profissional, os riscos vão desde a exposição da privacidade até o atraso no desenvolvimento da linguagem, da concentração e das habilidades sociais. “Uma criança nas telas não aprende a interagir com outras pessoas, não é estimulada e pode apresentar atraso em seu desenvolvimento”, afirmou.
Além dos impactos no desenvolvimento, há o que Ângela chama de parentalidade distraída, quando adultos, absorvidos pelo próprio uso do celular, deixam de oferecer atenção e estímulo adequados aos filhos. “A conexão constante gera sobrecarga sensorial e emocional, afetando o vínculo e a qualidade das interações”, explicou.
Ela ainda citou que o uso excessivo de telas também pode trazer efeitos físicos, como dores cervicais, fadiga ocular e prejuízo ao sono.
DESINTOXICAÇÃO DIGITAL
Para reduzir esses impactos e promover uma desintoxicação digital, a terapeuta recomendou medidas simples: desativar notificações desnecessárias, definir limites de tempo de uso e identificar os gatilhos que levam ao uso excessivo. Segundo ela, também é útil criar zonas livres de celular, como durante as refeições ou no quarto, e usar o modo de economia de bateria para limitar o uso em momentos que exigem foco.
Outras estratégias incluem deixar o celular fora do alcance em situações que pedem concentração, usar despertadores analógicos, buscar atividades offline como leitura, exercícios e hobbies, e priorizar interações presenciais com familiares e amigos. “Tente incorporar esses hábitos mais saudáveis por 21 dias e verás que o celular não será o centro da sua vida”, concluiu.
Redefinição do uso das redes em um ano de detox
Moradora de Venâncio Aires, a publicitária Luana de Andrade, 35 anos, contou ao programa Folha 105 que decidiu testar na prática o que significa desintoxicar-se do digital. Em agosto do ano passado, ela iniciou um detox de redes sociais que durou cerca de um ano, motivada pelo incômodo de passar mais de quatro horas por dia no Instagram. “Eu achava que estava descansando olhando o feed, mas na verdade estava só liberando uma dopamina barata e buscando prazer instantâneo”, contou.
No início, o impulso era automático, ela pegava o celular sem perceber. Aos poucos, porém, passou a limitar o uso dos aplicativos e a evitar postar ou assistir stories, o que mais consumia seu tempo. “Meu dedinho estava sempre nervoso, passando de um story pro outro. Quando comecei a espaçar mais o tempo entre uma olhada e outra no celular, senti diferença no sono, na concentração e na presença no cotidiano.”
Hoje, Luana voltou a usar as redes, mas de um jeito mais consciente. “De quatro horas no Instagram, hoje fico cerca de uma e é suficiente. Sinto que não preciso gastar mais tempo de vida nisso.”
Para ela, olhar para o uso digital é uma questão de saúde. “As redes se popularizaram, mas nunca fomos educados a dosar esse uso. Quando a gente inverte a lógica e passa a conduzir as ferramentas de forma mais consciente, consegue realmente domar o digital a nosso favor.”
“No intervalo de um ano, eu senti bastante diferença para dormir, me senti mais focada no presente e foi uma experiência muito legal, porque é muito fácil a gente ser refém da internet hoje em dia.”
LUANA DE ANDRADE
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