Secretário de Saúde, Tiago Quintana, e o gerente de Logística e Suprimentos do HSSM, Cássio Severo, junto ao espaço onde está o atual tanque de oxigênio líquido refrigerado (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Secretário de Saúde, Tiago Quintana, e o gerente de Logística e Suprimentos do HSSM, Cássio Severo, junto ao espaço onde está o atual tanque de oxigênio líquido refrigerado (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

O Hospital São Sebastião Mártir (HSSM), de Venâncio Aires, acompanha o andamento de um projeto que pode, em alguns meses, resultar na efetivação de uma usina própria de oxigênio. Na prática, além de tornar a instituição autossuficiente nessa produção, outro impacto importante será a economia, já que o custo deve reduzir em até 76%.

A implantação de uma usina foi levantada ainda durante a pandemia, quando hospitais Brasil afora sofreram com a falta de oxigênio para tratar pacientes Covid. Por aqui, o desabastecimento não chegou a se tornar realidade, mas o aumento de 30% no consumo durante os anos de 2020 e 2021 preocupou e exigiu uma reposição mais rápida e com uma frequência maior. Embora teria tido sua importância naquele momento, o fator financeiro pesou e executar uma usina na época ainda era mais caro do que comprar oxigênio.

Passado o período crítico na saúde, a ideia foi retomada e vem como alternativa para diminuir os gastos do hospital, o qual, como é de conhecimento público, lida mensalmente com um déficit de cerca de R$ 700 mil. Segundo o gerente de Logística e Suprimentos do HSSM, Cássio Severo, o projeto da usina de oxigênio está a cargo da LS Nogueira, agência de São Paulo que trabalha com gestão, planejamento e captação de incentivos fiscais. “A empresa se responsabiliza por tudo. Desde o projeto, até a contratação de engenheiros, a construção da usina e mais dois anos de manutenção preventiva, com profissionais que irão treinar a equipe do hospital”, explicou Severo.

A implementação da usina está estimada em mais de R$ 1,4 milhão, mas o hospital não vai precisar desembolsar nenhum valor. Isso porque ela será viabilizada através de um projeto chamado ‘O2 Oxigênio Seguro’, de apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS), iniciativa da LS Nogueira. Conforme Cássio Severo, o projeto possibilita a captação de recursos de doações do Imposto de Renda e teve aprovação do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa. Nesse caso, o hospital se enquadra como beneficiário do fundo do idoso, justamente porque atende a população idosa.

O secretário de Saúde de Venâncio Aires, Tiago Quintana, entende que a efetivação da usina vai representar um ganho econômico. “Com o plano de recuperação financeira do hospital, sempre se buscou alternativas para tornar ele ainda mais autossuficiente e baixar custos. Nesse meio tempo, uma das empresas soube dessa intenção e nos procurou. A gente intermediou a apresentação do conselho, que através da captação de recursos do Imposto de Renda, foi aprovado o projeto e agora está na fase de captação junto às empresas”, destacou Quintana.

Cilindros usados para o transporte entre leitos também poderão ser reabastecidos na usina (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Custos

Com a usina, a estimativa do hospital é de que o custo de produção de oxigênio (que se resumirá à manutenção e energia) terá uma redução de 76%.

Segundo o gerente de Logística e Suprimentos do HSSM, Cássio Severo, o insumo aparece, todos os meses, entre os itens considerados de ‘curva A de consumo’, ou seja, os que têm um alto impacto financeiro. Para esse cálculo, se multiplica a quantidade pelo custo unitário.

DOC-500, modelo de usina que deve ser instalada no hospital (Foto: Divulgação/LS Nogueira)

A usina

• A usina se trata de um equipamento com um compressor de ar que faz um processo de filtragem e armazena o oxigênio. A capacidade será de 30 metros cúbicos por hora.

• Conta, por exemplo, com sistema de controle automatizado que atende a RDC 50 da Anvisa, analisadores de concentração de oxigênio e unidade de enchimentos de cilindros.

• Esta unidade vai possibilitar abastecer os cilindros de oxigênio gasoso (de 8 m³ e de 1 m³, usados para o transporte entre leitos e de pacientes).

• Também poderão ser reabastecidos os da UPA e, conforme Tiago Quintana, pode ser uma alternativa para o oxigênio de transporte em ambulâncias da Prefeitura, Samu e Bombeiros, além dos cilindros disponíveis em alguns postos de saúde.

• Atualmente, o hospital compra oxigênio da Air Liquide, com quem tem contrato desde 2011. O tanque fica nos fundos do hospital e dele sai o oxigênio líquido refrigerado que percorre uma rede subterrânea até os quartos. Os cilindros de oxigênio gasoso também vêm da Air Liquide.

• O gerente de Logística e Suprimentos do HSSM, Cássio Severo, explica que, mesmo após a instalação da usina, se manterá o atual tanque, pelo menos por um determinado período, para o caso de alguma necessidade.

8,4 mil metros cúbicos – é a média mensal em 2023 no consumo de oxigênio no HSSM. Durante a pandemia, num único mês (março de 2021), foram 28,6 mil m³.

Expectativa pela captação de recursos

O projeto para efetivar a usina de oxigênio está a cargo da LS Nogueira, agência que trabalha há mais de 20 anos no mercado com leis de incentivo fiscal. Segundo o diretor, Flávio Nogueira, foi trabalhando com grandes instituições em São Paulo que essa possibilidade de tornou realidade. “Trabalhando com o Hospital do Câncer, de Barretos, e o Hospital das Clínicas, de Ribeirão Preto, por exemplo, aprendemos que, pelo fundo do idoso e olhando o estatuto do idoso, é possível propor projetos para melhor equipar hospitais para dar um atendimento digno na prevenção e tratamento.”

Conforme Nogueira, a empresa soube da chegada ao Brasil da PCI Gases, especializada no desenvolvimento e fabricação de equipamentos que promovem a geração de oxigênio. “Achamos interessante esse equipamento e pensamos: por que nossos hospitais dependem de fornecimento externo desse insumo tão importante? Então transformamos esse projeto, que pode ser apresentado a qualquer cidade e conselho, devidamente aprovado para abatimento do imposto de renda da pessoa jurídica que tributa por lucro real e também da pessoa física que faz declaração completa.”

O empresário não revelou nomes, mas afirmou que a receptividade das empresas procuradas para auxiliar no projeto tem sido grande. “Já tem empresas de Venâncio que estão se comprometendo e temos grandes expectativas de empresas de Porto Alegre e São Paulo também apoiando. Estamos no começo da prospecção e acreditamos que, até o prazo máximo de 90 dias, ele estará 100% captado.”