Apesar das medidas de reorganização da estrutura hospitalar, com a abertura de 16 novos leitos, na semana passada, e a chegada de novos respiradores, a superlotação por conta do coronavírus continua desafiando o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Venâncio Aires. “Tivemos um pequeno suspiro, no início da semana passada, quando transferimos os pacientes para o hospital, e achamos que a situação iria acalmar, mas foi uma falsa esperança”, lamenta o superintendente administrativo da UPA, Rodrigo da Silva.
Segundo ele, desde a quarta-feira da semana passada, são no mínimo dez pacientes internados no local. “Nunca estamos com menos de dez. Chegamos a 15 pessoas internadas. A maioria ligada a oxigênio, com máscara de Hudson e até mesmo pessoas que precisam ser intubadas na UPA e aguardam para conseguir leito no hospital”, explica.
Silva observa que o Centro de Atendimento Respiratório (CAR) em frente à UPA, que está em funcionamento desde o dia 4, absorveu uma demanda importante e conseguiu reduzir o número de consultas na unidade. “São de 80 a 100 pacientes atendidos por dia no CAR e de forma efetiva, pois o serviço oferece testes e tem consultas por livre demanda. Isso tem ajudado muito.”
Apesar disso, o número de pacientes graves que chegam à UPA não tem diminuído. Para Silva, a situação exige a manutenção de um tripé fundamental para a assistência a pessoas com Covid: a equipe de profissionais, as escalas médica e o oxigênio. “A equipe está exausta, mas estamos conseguindo trabalhar com qualidade, em uma complexidade muito maior do que a normal do serviço. Há uma grande parceria e também comprometimento dos médicos”, ressalta.
Com relação ao oxigênio, ele afirma que ainda não houve risco de desabastecimento, mas a logística foi totalmente modificada. “Os 200 metros cúbicos que antes usávamos em três meses tiveram que ser repostos em 30 horas. É um perfil de atendimento muito diferente do que anteriormente.”
No hospital, o consumo de oxigênio mais do que triplicou. Antes da pandemia, eram cinco mil metros cúbicos por mês. Agora, são consumidos quatro mil metros cúbicos por semana. “Nos preocupa o alto consumo. A empresa fornecedora já está abastecendo em horário fora do comercial. O medo é estamos chegando no limite de consumo”, afirma o administrador do hospital, Fernando Siqueira.
Ele observa que, apesar da ampliação de leitos clínico e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), o número de internações não baixa. O que preocupa é o fato de o Pronto Atendimento estar cheio, com pacientes críticos, em semi-UTI. “Era para este setor estar vazio, recebendo pacientes de urgência, estabilizando e encaminhando para unidade de tratamento, mas isso não está acontecendo. Temos sempre, pelo menos, dez pessoas. Elas chegam com falta de ar e permanecem na Emergência, pois precisam de máscara Hudson, uma carga intensa de oxigênio e atenção médico em tempo muito mais curto”, comenta.
“O que chama atenção é o número elevado de pacientes graves e com faixa etária baixa. É assustador. Ainda não estamos colhendo os frutos do distanciamento e temos que ter consciência que essa situação vai se estender. Pacientes que são internados e precisam de UTI ficam duas, três, quatro semanas no hospital.”
RODRIGO DA SILVA – Superintendente administrativo da UPA
Racionamento de medicamentos
Outro aspecto que tem preocupado o HSSM é o consumo de medicamentos. A instituição já está sendo que racionar neurobloqueadores musculares – um dos tipos de medicamentos utilizados para sedação de pacientes intubados. “O Estado não tem, fornecedores não tem. Por isso, já estamos racionando e recorrendo a outras alternativas medicamentosas que há muito tempo não se usava, que já existem outros protocolos”, diz o administrador Fernando Siqueira.
Há previsão de chegada dos itens, hoje. “Além dessa dificuldade de compra, o preço unitário está muito mais elevado. Medicamento que comprávamos por R$ 25 a ampola, agora custam R$ 95, R$ 105. Em um fornecedor, chega a R$ 400 a ampola. Não imaginávamos que pudesse acontecer e
que pudesse existir esse oportunismo de mercado”, lamenta. Siqueira comenta que a expectativa é pela diminuição da demanda desses medicamentos, o que só ocorrerá com a redução dos pacientes intubados. “Mas neste momento isso ainda não aconteceu em Venâncio nem no estado inteiro.”
Mais respiradores
- Hoje, deve ser confirmado o envio de três novos respiradores, pela Secretaria de Saúde do Estado, para o Hospital São Sebastião Mártir. A informação é do ex-prefeito Giovane Wickert, que atua como secretário adjunto de Obras e Habitação do RS, e está em contato com a secretária de Saúde, Arita Bergmann.
- Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou o envio de mais 55 respiradores para o Rio Grande do Sul.
- O órgão também deve publicar, em breve, um novo tipo de custeio para as Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) que têm leitos com suporte ventilatório (respiradores). Elas poderão pleitear habilitação para o pagamento de R$ 478 a título de diária, relativos a cada leito com respirador em funcionamento.
Pandemia
Desde segunda-feira, cinco mortes por Covid
Venâncio Aires registrou, desde a última segunda-feira, 15, cinco óbitos causados pelo coronavírus. Conforme informações divulgadas pela Prefeitura, na segunda, um homem de 54 anos, que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) desde o dia 25 de fevereiro e tinha comorbidade faleceu.
Já na terça-feira, 16, mais duas mortes foram confirmadas: uma mulher de 79 anos, que tinha comorbidade e estava internada desde o dia 12 de março no setor Covid, e uma mulher de 63 anos, internada na UTI desde o dia 5 de março, que também tinha comorbidade.
Além disso, ontem, mais dois óbitos foram registrados. Um deles é de um homem de 63 anos, que estava internado na UTI desde o dia 15 de março e não tinha comorbidades, e o outro trata-se de um homem de 53 anos, que tinha comorbidades e estava internado na UTI desde o dia 13 de março.
Boletim
Número de casos confirmados nesta semana: 452 (247 na segunda; 162 na terça e 43 na quarta)
- Total de pacientes infectados – 6.939
- Total de recuperados – 6.527
- Em recuperação domiciliar – 279
- Óbitos – 77
- Internações – 56 (23 na UTI e 31 no Setor Covid do HSSM e dois
- hospitalizados em outro município)
- Pacientes aguardando resultado do Lacen – 237
- Pacientes em atendimento domiciliar – 12
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