Mesmo quem não viveu na pele e viu com os próprios olhos o verdadeiro cenário de guerra que virou o sistema de saúde de Venâncio Aires (e de todo Brasil) nos meses de fevereiro e março, conseguiu entender porque os últimos dois meses podem ser rotulados de ‘trágicos’.
Só em março, foram 52 mortes por Covid no município. Somado à situação mais triste, que é a perda de alguém, os números também pareciam algo ‘sem volta’ e atingiram pontos ‘astronômicos’ em diversas situações: recorde de internações no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), recorde de novos casos por dia e recorde no consumo de oxigênio.
Para tentar frear o que já estrava extrapolado, a bandeira preta e suas regras extremamente rígidas foram a saída. Hoje, depois de quase dois meses de ‘caos’, os últimos dias trouxeram uma certa folga e já confirmam uma boa notícia: os números caíram.
Um dos maiores impactos pode ser percebido na UPA do bairro Cruzeiro, que literalmente vem ‘respirando’ melhor desde o fim de março. A comparação é porque durante apenas dois dias do último mês, a unidade chegou a consumir 226 metros cúbicos de oxigênio. A quantia, em outros tempos, seria o suficiente para manter quatro meses.
Além disso, a UPA chegou a ter, em março, 21 pacientes internados, sendo que a grande maioria era por Covid e precisava de suporte respiratório. Já na última quinta, 8, eram oito pessoas internadas (duas com Covid e uma delas estava no oxigênio).
Difícil
Embora março não tenha sido o mês com mais atendimentos (3.509 contra 5.254 de fevereiro), o período foi desafiador. “Foi o mais difícil da história da UPA, pela gravidade de casos, as internações e do quão assustador era lidar com pacientes jovens e extremamente doentes”, relata o superintendente administrativo da UPA, Rodrigo da Silva.
Atualmente, cerca de 40% das pessoas que procuram a UPA e o Centro de Atendimento Respiratório (CAR) em frente a ela têm sintomas respiratórios. Em fevereiro, quando só na segunda-feira de Carnaval 296 pessoas foram atendidas, a média de pacientes nessa situação chegou a 70%.
“O controle que houve nas últimas semanas devido à bandeira preta contribuiu muito para a diminuição de casos e os atendimentos de gravidades. Vamos torcer e seguir conscientes para que aquele cenário difícil que vivemos, não volte a acontecer”, destaca Rodrigo da Silva.
Hospital
O movimento de queda na UPA naturalmente também acontece no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). No dia 22 de fevereiro, quando houve o fechamento do Pronto Atendimento (PA), eram 28 internações Covid.
Um mês depois, dia 22 de março, 65 pessoas estavam internadas. Também nesse período, a curva de novos casos cresceu rapidamente e, no dia 15, houve o pico de 247 confirmações. Foi a partir do dia 16 que a média de casos novos começou a cair, assim como a internações. Na última quinta-feira, 8, eram 37 e 33, respectivamente.
Mesmo com a diminuição dos números, por enquanto não há previsão de reabrir o Pronto Atendimento SUS (o lado dos convênios foi retomado na quinta, 8). “Vamos manter a estrutura por enquanto, porque ainda temos muitas internações e a UTI está lotada”, afirma o administrador, Luís Fernando Siqueira.
O que também segue é o fluxo de atendimento entre UPA e hospital. Segundo Siqueira, a unidade do bairro Cruzeiro continuará atendendo pacientes classificados no ‘amarelo’ de acordo com o Protocolo de Manchester (é urgente, mão não de emergência, já que tem condições de esperar).
“Em contrapartida, o hospital tem condição de dar maior agilidade para aquele paciente que vem da UPA e que é muito urgente e com maior complexidade”, aponta. Para ele, a diminuição de casos novos e a gravidade dos pacientes, se deve, principalmente, à vacinação, com as pessoas imunizadas e se contaminando menos, além das restrições da bandeira preta.
Vacinação
Com mais de 10 mil pessoas já vacinadas, muitas já com a segunda dose, o prefeito Jarbas da Rosa entende que este é um dos principais fatores para a melhora dos números. “Comparando com 30 dias atrás, houve diminuição de 80% em casos novos e 75% e casos ativos. O avanço da vacinação é um reflexo disso, diminuindo as complicações e internações. Mas os cuidados precisam seguir.”
Além disso, ele chama atenção para o trabalho de conscientização, com apoio de empresários e comerciantes, e a população em geral para evitar aglomerações. Com a curva em queda, o prefeito diz que não há previsão de um novo lockdown.
“Ainda não há tranquilidade”, alerta infectologista
O fato de os números gerais estarem diminuindo é uma notícia a se comemorar depois de semanas críticas, mas ela não pode ser confundida como pretexto para ‘baixar a guarda’. Segundo a médica infectologista Sandra Knudsen, o cenário ainda é preocupante. “Estamos conseguindo respirar um pouco melhor, mas não significa que está tranquilo. Respiramos daquela enxurrada de casos, daquele momento desesperador”, avaliou, durante entrevista ao programa Folha 105, da Terra FM.
Conforme Sandra, a UTI segue lotada, com pacientes graves e que demoram a melhorar. “Ainda estamos com casos graves, porque levam muito tempo para se recuperar. Quem precisa UTI, ventilação, não se recupera em uma semana. Tem gente internada desde fevereiro.”
A médica destacou ainda que, para continuar acontecendo a queda nos números, é preciso que a população se mantenha consciente. “As orientações permanecem as mesmas e são fundamentais. É usar máscara, álcool gel e manter distância. Se obedecer os três critérios, a gente se protege e protege o outro.”