O Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) adotou, ontem, a última medida do plano de contingenciamento para a Covid-19 e transformou o setor de Pronto Atendimento em uma extensão da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Com isso, o espaço do ‘plantão’ passou a ser utilizado para internação de pacientes com casos graves de coronavírus.
Apenas as chamadas ‘salas vermelhas’ seguem em funcionamento. “Mantemos o atendimento de emergência para situações de gravidade extrema, como infarto, derrame, acidentes. Mas esses pacientes vêm direcionados pela UPA ou Samu”, explica o diretor técnico do HSSM, Guilherme Fürst Neto.
A reestruturação foi necessária diante do aumento progressivo do número de pacientes com Covid-19, da superlotação da estrutura e da impossibilidade de transferência para outros municípios. “A UTI está completamente lotada, sem previsão de alta, pois muitos casos graves internaram recentemente. Por isso, transformamos o Pronto Atendimento em uma semi-UTI”, explica o diretor técnico.
O espaço onde antes estavam os consultórios, sala de triagem e de nebulização, por exemplo, foi transformado em quartos, com oxigênio, aparelhos de monitoramento dos sinais vitais e um movimento constante de enfermeiros, técnicos e médicos. No mesmo andar, a antiga sala de observação do Pronto Atendimento já tinha sido transformada em UTI para pacientes não Covid, no ano passado.
A demanda crescente na última semana exigiu que muitos profissionais que até então não atuavam na ala Covid fossem direcionados para o atendimento. “No fim de semana, trabalhamos com o dobro da equipe e sem parar. Na manhã de domingo, estávamos entre sete médicos no hospital. A cada seis horas reavaliamos a situação e tomamos as medidas necessárias”, ressalta Fürst.
Superlotação
O aumento do número de casos de Covid-19 em Venâncio e de internações registrado ao longo dos últimos dias gerou uma superlotação do hospital e a perspectiva é que o cenário se mantenha pelas próximas semanas. Atualmente, de 40% a 50% dos pacientes internados no HSSM são por Covid.
No fim da tarde de ontem, 26 pessoas como coronavírus estavam internadas na área clínica. A capacidade original do setor Covid era de 13 pacientes. Outros 13 pacientes estão em leitos de UTI – sendo cinco na nova estrutura Pronto Atendimento. Além disso, dois pacientes que internaram por Covid e já não transmitem o vírus, foram transferidos para a UTI normal.
A reestruturação para oferecer leitos de UTI não garante mais recursos para o hospital. “Estamos fazendo isso para salvar vidas. Não tem dinheiro a mais pelo que estamos fazendo. Na verdade, os recursos de Covid mal conseguem pagar as contas do hospital. O custo é absurdamente maior do que o dinheiro repassado pelo governo”, lamenta Fürst.
Ele também lembra que a sobrecarga do sistema de saúde não é exclusiva de Venâncio. “A situação está assim em todo o estado. Não tem para onde mandar esses pacientes. Para se ter ideia, na noite de domingo, tínhamos 18 pedidos para internação em UTI, de hospitais da região Metropolitana e do Litoral”, comenta.
“É a primeira vez na história do hospital que precisamos fechar o Pronto Atendimento. É possível que nos próximos dias volte a funcionar, mas isso vai depender da demanda por internação. Hoje (ontem) era necessário para conseguirmos acomodar pacientes que precisavam de UTI.”
GUILHERME FÜRST NETO – Diretor técnico do HSSM
Desafios
- O diretor técnico do HSSM esclarece que o ponto mais crítico da situação para atender a demanda de hospitalizações não está na estrutura física, mas na disponibilidade de profissionais e equipamentos.
- Na UTI, é necessária a presença de um técnico em Enfermagem a cada dois pacientes.
- Com relação aos respiradores, são 22 disponíveis no HSSM.
- “Se fosse apenas por camas, temos 150 no hospital, mas esses são pacientes graves, que precisam de um monitoramento intenso. O médico precisa se dedicar exclusivamente a eles, por isso tivemos que fechar o Pronto Atendimento para a equipe pudesse se voltar para os pacientes com Covid”, ressalta Guilherme Fürst Neto.
- A grande maioria dos pacientes internados no HSSM é de Venâncio Aires. De acordo com o diretor técnico do hospital, apenas um paciente da região Metropolitana de Porto Alegre está internado na UTI há mais de um mês.
- “Os pacientes que estamos atendendo, tanto no setor Covid quanto na UTI, são daqui. São pessoas de Venâncio e dos municípios para os quais o hospital é referência, Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde”, cita.
Visitas suspensas
Todas as visitas do hospital também estão suspensas por tempo indeterminado. As visitas na UTI serão mantidas para um familiar por dia e em horários escalonados. Também está suspenso o ambulatório de traumatologia para consultas clínicas e pré-operatórias ou atendimentos de baixa complexidade por tempo indeterminado. Consultas de retorno de pacientes pós-fraturas estão mantidas.