
Embora objeto de discussão, pesquisa e conscientização há décadas, a aids ainda é tabu e, em alguns casos, menosprezada entre a comunidade. Em entrevista ao programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, a coordenadora do Centro de Atendimento de Doenças Infecciosas (Cadi), Solange Sehn, trouxe um alerta que se refere principalmente aos jovens.
Segundo ela, embora os casos — em números totais — não têm aumentado, a frequência na população até 30 anos é preocupante. “É uma população em que a gente botava a nossa fé, esperança, de mudar comportamento, de ter mais noção de que realmente pega, que tem que usar preservativo, se cuidar”, lamentou. O perfil mais recorrente é de homens homossexuais entre 18 e 30 anos, o que é um cenário diferente se comparado há alguns anos, quando o foco estava no público entre 40 e 50 anos.
Conforme dados do Cadi, até o momento foram notificados 14 casos novos de HIV. Proporcionalmente, é possível observar uma queda em relação ao ano passado, quando foram 34 diagnósticos. Para completar o panorama dos últimos cinco anos, foram 22 em 2023, 21 em 2022 e 26 em 2021.
Solange explicou que muitos casos são evitados a partir do uso de Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que previne a transmissão de HIV durante as relações sexuais. No entanto, o recurso não dispensa o uso de preservativo, porque ainda há uma série de infecções e doenças sexualmente transmissíveis, como gonorreia e sífilis. “É complicado. Ajuda, porque o desespero é tão grande para diminuir a contaminação, que lançam muitas opções. E essa é uma opção contundente. Ela atinge várias pessoas, mas eu acho que no sentido da prevenção dá uma facilitada” advertiu.
Porém, o principal inimigo das equipes que trabalham com a prevenção à aids ainda é o preconceito: “A gente vai tentando modificar esse modo de pensar. As pessoas não têm problema nenhum de contar quando tem hepatite B, mas o tratamento é o mesmo, a forma de contágio é praticamente a mesma. Então, em relação ao HIV, ainda tem muito aquele histórico do início da epidemia, que na época se achava que surgiu na população gay e depois prostitutas. Ficou enraizado isso na cabeça das pessoas e não conseguimos tirar.”
“As pessoas têm que ter consciência que, se tiverem relação sem camisinha, alguma coisa, algum dia, vão pegar.”
SOLANGE SEHN
Coordenadora do Cadi
Testes são importantes no combate
A coordenadora enfatizou a importância da testagem como um aliado da prevenção. Com o avanço da medicina, não foi apenas o tratamento que ficou mais simples, mas também a forma de identificação do vírus no corpo. O teste rápido, que é aplicado no Cadi, localizado na rua Visconde do Rio Branco, 505, e em unidades de saúde, identifica a presença do HIV. No entanto, é necessário realizar outros exames para averiguar a quantidade viral. “É o que eu sempre falo: se você nunca testou, testa. Porque acaba que sempre as mesmas pessoas estão fazendo o teste”, lamentou.
Mais sobre aids e HIV
- HIV e aids não são a mesma coisa. O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é, como o nome indica, o vírus que pode ser o causador da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (aids). Essa, por sua vez, é a doença. Nem todas as pessoas com HIV observam a evolução no quadro até chegar à aids.
- Para as pessoas que são diagnosticadas com o vírus, a medicação consiste em doses diárias. No entanto, a quantidade de comprimidos, com o tempo, foi significativamente reduzida. Atualmente, como contou Solange Sehn, normalmente é recomendado de um a dois comprimidos por dia. O coquetel, como era chamado o tratamento há alguns anos, exigia, em alguns casos, cerca de 15 medicações diariamente.
- Os sintomas são de difícil identificação. Nos primeiros dias, são semelhantes a uma infecção leve, com febre leve. Com o passar dos dias, pode evoluir para uma infecção aguda. Outro sinal é o sistema imunológico fragilizado. “A pessoa começa a ficar doente, tem infecção respiratória, doença de pele, coisas que demoram para curar”, citou.