Desde o início deste ano, o fisioterapeuta Jonas Americo Walther, que trabalha na Secretaria de Saúde de Mato Leitão, percebe um aumento no número de atendimentos de pacientes já curados da Covid-19, mas com sequelas causadas pela doença. Ele também observa uma mudança no perfil das pessoas que estão em recuperação.
Enquanto, no ano passado, as sequelas eram mais brandas, como um pouco de fraqueza e dor no pescoço, e o número de pacientes menor, em 2021 começaram a surgir consequências mais graves e também cresceu a procura pelo serviço. O pico foi entre as festas de fim de ano e o pós-Carnaval. Tanto que ele teve um aumento de carga horária de 20 para 30 horas semanais, até a situação estabilizar.
De acordo com ele, as principais sequelas apresentadas pelos pacientes neste ano têm relação com cansaço extremo para fazer qualquer tipo de exercício. “O que acontece é que boa parte ficou acamada porque não conseguiu mais ficar em pé, se sustentar pelas pernas, perderam totalmente as forças nas pernas”, relata. O fisioterapeuta ainda menciona que isso aconteceu com diversos pacientes que ficaram pouco tempo internado.
Motivação
Ele ainda avalia que é difícil saber por que as pessoas se sentem assim. “Como é uma doença que afeta, principalmente, a parte cardiovascular (pulmão e coração), o cansaço extremo e a fadiga para exercícios, seriam normais, mas não a perda brusca de forças nas pernas a ponto de não conseguir mais caminhar. Isso eu não imaginava, não tinha lido sobre.”
Nesse sentido, ele esclarece que os pacientes atendidos por ele apresentam mais sequelas pós-Covid relacionadas à parte física e motora, do que respiratória. “Muitas pessoas tiveram perda de equilíbrio associada com a fraqueza nas pernas”, acrescenta.
O profissional também lembra que essas sequelas são muito mais comuns em pacientes que passaram por internação hospitalar e está associada ao longo tempo que ele permanece deitado. “Quanto mais acamado, mais o corpo vai enfraquecer”, comenta.
Por isso, ele comenta sobre a relevância de realizar exercícios. “A pessoa pode achar que por estar mais fraco é só descansar que vai recuperar as forças, mas é totalmente o oposto. Ela vai ter que se movimentar mais para recuperar tanto o condicionamento físico quanto a capacidade respiratória”, orienta.
Tratamento
O fisioterapeuta Jonas Walther explica que o tratamento é focado em trabalhar a potência muscular. “Faço bastante exercício de agachamento, para trabalhar a resistência do músculo e a potência dele para levantar o corpo, e o treino de sentar e levantar, que vai trabalhar tanto o fortalecimento das pernas quanto a capacidade vascular dele”, explica.
Quando o paciente retorna para casa ainda em uma situação de acamado ou com fraqueza extrema nas pernas, o atendimento de fisioterapia é domiciliar. Quando a sequela é mais leve, como diminuição de força, mas ele ainda consegue caminhar, ou perda de equilíbrio, as consultas são feitas na Unidade Básica de Saúde (UBS) Central, onde se tem mais recursos para trabalhar com eles.
Quando os atendimentos são feitos na casa do paciente, o fisioterapeuta busca adaptar os exercícios ao local. “Como não consigo levar muitos equipamentos, utilizo os próprios utensílios da casa da pessoa, como um saco de arroz, um cabo de vassoura, um sofá, uma mesa ou a cama.”
Dicas de exercícios para fazer em casa
• Cheirar a flor e assoprar a vela – puxar o ar pelo nariz e liberar pela boca
• Respiração fracionada – puxar o ar três vezes, o máximo que puder, e depois liberar de uma vez só
• Simulação de pedalada – como as pernas são muito afetadas, um bom exercício é, enquanto estiver deitado na cama, simular uma pedalada para trabalhar bastante a força e a resistência das pernas
• Puxar o ar e levantar os braços e soltar o ar e baixar os braços ajuda na capacidade pulmonar, ou seja, na oxigenação do pulmão (troca gasosa). Deitar de bruços também auxilia
• O profissional lembra que é sempre importante procurar ajuda de um profissional da área da saúde nesse momento de recuperação após a Covid-19.
“A fisioterapia é importante para esses pacientes porque dá um rumo na reabilitação da pessoa, porque ela chega em casa e não sabe por onde começar para se recuperar. Essa orientação é fundamental para ela poder se recuperar de forma efetiva e gradual. Se não tivesse a orientação, provavelmente as sequelas seriam bem maiores.”
JONAS WALTHER – Fisioterapeuta
Depois da internação, o trabalho para se reabilitar
Após ter permanecido 37 dias internada no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) por causa da Covid-19, a calçadista Lilian Cristine Heinen, 39 anos, encontrou na fisioterapia uma forma de melhorar a qualidade de vida após estar curada da doença.
Nos 12 dias em que esteve hospitalizada no Setor Covid – após 25 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) – a moradora de Vila Arroio Bonito já realizava exercícios de reabilitação duas vezes ao dia. “Eram exercícios básicos, como levantar os braços e as pernas, e trabalhar a respiração, mas já ajudavam para que eu me sentisse melhor”, recorda. Em abril, na semana em que recebeu alta hospitalar, ela logo iniciou os atendimentos de fisioterapia pela Secretaria de Saúde. Como estava acamada, o acompanhamento foi feito a domicílio.
“Foi bem complicado em um primeiro momento, mas eu sabia que além do trabalho do fisioterapeuta eu precisava ter força de vontade”, compartilha. Mesmo acamada, Lilian buscava já se movimentar e seguir os exercícios que o fisioterapeuta lhe indicava. A recuperação foi positiva e, após usar a cadeira de rodas e o andador, ela começou a caminhar sem o auxílio de muletas. “A evolução dela foi bastante rápida, porque ela se monitorava bastante. Ela foi bastante guerreira”, observa o fisioterapeuta Jonas Walther. As principais dificuldades eram em relação às pernas e dor na coluna. Ela também tinha muita dificuldade na parte da respiração, área que a irmã, que é fisioterapeuta, a auxiliou na reabilitação.
Lilian passou a se sentir melhor a partir do momento que conseguiu ficar de pé, o que demorou cerca de duas semanas depois que estava em casa. Até voltar a caminhar, foram cinco semanas. “O que mais me ajudou depois que estava em casa foi a fisioterapia”, avalia.
Após quatro meses do diagnóstico positivo para o coronavírus, ela ainda sente sequelas, como o cansaço, dificuldades na parte física, motora, na respiração e queda de cabelo. “Mas de forma geral me sinto ótima”, acrescenta, ao observar mesmo tendo recebido alta da fisioterapia no início de junho segue fazendo exercícios em casa.