Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso de mais um medicamento injetável para a redução da obesidade e sobrepeso. O princípio ativo do medicamento é a semaglutida e indica para o sistema nervoso a sensação de saciedade.
Apesar dos benefícios, é importante lembrar que os medicamentos não devem ser utilizados sem a prescrição e acompanhamento de especialista. A Folha do Mate conversou com o médico endocrinologista Eduardo da Costa para tirar algumas dúvidas sobre o medicamento.
Folha do Mate – O que já se sabe sobre o novo medicamento para emagrecer e como funcionará?
Eduardo Costa – A medicação é injetável. Ela já existe no Brasil e no mundo inteiro, mas a dosagem liberada no Brasil do princípio ativo da semaglutida é de até 1 miligrama por semana. É uma medicação específica para diabetes, mas que tem como efeito a perda de peso. No Brasil, a medicação já vinha sendo usada para fins de emagrecimento, porque os estudos mostram que o medicamento possui essa função de perda de peso em pacientes diabéticos e não-diabéticos. Esse remédio novo que foi lançado é a mesma semaglutida, que também deve ser administrada uma vez por semana, porém o novo medicamento tem uma dosagem maior, de 2,4 miligramas por semana. O remédio e o princípio ativo são os mesmos, porém a dosagem é maior. A substância da semaglutida tem o princípio fisiológico de aumentar a produção de insulina pelo pâncreas, liberar hormônios intestinais e com isso reduzir o apetite e a fome. Ele age em vias intestinais e gastrointestinais.
Qual custo estimado do tratamento no Brasil?
O medicamento já existente custa cerca de R$ 1 mil cada dose. Esse novo remédio, provavelmente, terá um custo bem maior.
O tratamento com vacina será com dose única?
A medicação injetada é subcutânea, como se fosse insulina. Deve ser administrada semanalmente. O efeito do medicamento é baixar a glicose, aumentar a insulina, gerando saciedade.
Você, enquanto endocrinologista, recomenda o uso de medicamentos que auxiliem na redução de peso?
Claro que recomendo. As medicações em gerais são seguras, não têm efeito sanfona, não geram dependência e auxiliam na perda de peso, desde que seja associada com dieta e exercício. Não existe milagre. Mesmo com esse remédio caríssimo e moderno, se o paciente não fizer atividade física e não melhorar alimentação, a perda de peso é muito pequena. É um tratamento indicado.
Tem algum perfil de paciente que deve procurar por esse tratamento?
Indicamos o tratamento quando o paciente é obeso, ou seja, tem o índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 30 ou de pelo menos 27 e que seja associado com alguma comorbidade, como pressão alta, diabetes, colesterol, elevação de ácido úrico. Essas são as indicações clássicas de se usar remédio, mas sempre com dieta, reeducação alimentar, melhora de hábitos alimentares e atividade física. Isoladamente, nenhum remédio faz milagre. Na prática, acabamos usando o medicamento em pacientes com IMC até menor do que 27, mesmo sem comorbidades. Porque esse paciente já chega no consultório não tendo respostas com tentativas individuais de mudar o estilo de vida, melhorar exercício e dieta e a medicação acaba auxiliando.
É sempre importante lembrar os riscos decorrentes da obesidade, não é mesmo?
Na Medicina, são bem esclarecidas as complicações que se pode ter na obesidade e sobrepeso a longo prazo, como doenças crônicas, aumento de doenças cardiovasculares, aumento de câncer. Hoje em dia, ficou bem claro que existem mais de 15 tipos de tumores malignos associados à obesidade. Antigamente, os pacientes obesos morriam de doenças cardiovasculares (infarto e derrame), que continuam sendo a principal causa de morte no mundo, mas hoje se sabe da relação importante que se tem com a oncologia associada à obesidade. O paciente perder peso com dieta, exercício e, muitas vezes, associado com a medicação, reduzirá o risco de doenças cardiovasculares e, consequentemente, reduzirá o risco de câncer no futuro.
