O risco das doenças crônicas

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A preexistência de uma doença crônica como fator de risco ganhou evidência nas últimas semanas, por conta da pandemia de Covid-19. Assim como os idosos, pacientes com doenças como hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias (problemas no coração) ou asma, têm mais chance de desenvolverem complicações e até mesmo falecerem, se contraírem o coronavírus.

O risco maior para quem tem uma doença crônica, entretanto, não é exclusividade do coronavírus. A dengue, para se citar um exemplo de doença que também está em evidência, também pode ter casos mais graves em pacientes crônicos. A própria gripe é mais preocupante quando contraída por pessoas com patologias crônicas – por isso, elas integram o grupo prioritário para a vacinação.

A explicação para esse risco mais elevado está no fato de que o organismo de uma pessoa com doença crônica já está mais debilitado para enfrentar uma infecção. Consequentemente, ele sofre mais e demora a se recuperar. “As infecções bacterianas ou virais agem muito rapidamente e requerem um organismo sadio para serem combatidas.

Se ele já está debilitado por causa de uma doença crônica, demora mais a reagir a uma infecção aguda. Tudo é mais lento”, explica o médico cardiologista e clínico geral Moacir Emílio Ferreira.

Outro aspecto observado por ele é que, no caso da Covid-19, ela também ataca órgãos que já podem estar debilitados por uma doença crônica, como pulmão e coração. “O coronavírus também ataca o coração, por isso, o risco para quem tem uma cardiopatia é bem maior.”
O médico ainda destaca o risco da interação de medicamentos usados para o tratamento da doença crônica e de uma doença aguda, como a Covid-19. “Muitos medicamentos interferem no tratamento para a doença crônica e, se por um lado tratam a infecção, por outro, podem ter um efeito negativo para a doença crônica.”

Ferreira usa como exemplo a cloroquina, que tem sido apontada como possibilidade para tratamento da Covid-19. “Ainda não se tem um estudo científico que comprove a real eficácia do medicamento. Para alguns casos, tem efeitos bons, para outros não. O que já se percebeu é que a cloroquina pode produzir arritmia cardíaca. Se for usada em um paciente com cardiopatia, ele pode morrer pela doença crônica, tentando-se tratar a infecção aguda”, pondera.

PREVENÇÃO

Além de seguirem o tratamento médico adequado para sua doença crônica, neste momento, pacientes crônicos devem redobrar os cuidados para não contrair o coronavírus. Uso de máscara, distanciamento social e lavagem das mãos ou uso de álcool gel estão entre as medidas que precisam ser adotadas. “A orientação é se prevenir, porque depois que se pega o vírus, é uma loteria”, alerta o médico.


“A orientação para evitar o coronavírus é se prevenir. Quem tem doença crônica ou mais idade, tem que ser 10 vezes mais cuidadoso que os outros. Não podemos relaxar. Se prevenir é a única coisa a se fazer, porque depois que se pega o vírus, é uma loteria.”

MOACIR EMÍLIO FERREIRA
Médico clínico geral e cardiologista


Doença crônica x aguda

– Doença crônica é aquela doença que não tem cura, mas tem tratamento. “As doenças crônicas são a maioria das doenças. É uma doença que o paciente vai ter a vida toda, mas que se consegue controlar com o tratamento”, explica o médico Moacir Emílio Ferreira. Entre as mais conhecidas estão hipertensão arterial (pressão alta), diabetes, cardiopatias (doenças do coração) e Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas (DPOC), como asma, bronquite e enfisema pulmonar. Além disso, também existem doenças crônicas urinárias, digestivas e das articulações.
– Doença aguda é aquela que passa, em um determinado período, tendo cura espontânea ou com tratamento. Entre os exemplos estão gripe, gastroenterite (infecção intestinal) e Covid-19.

Do fator hereditário aos hábitos de vida

De acordo com o médio Moacir Emílio Ferreira, a hereditariedade é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas. Nas doenças circulatórias, ela corresponde a 30% do risco. Os demais, são fatores adquiridos, como tabagismo (prejudicial também para doenças respiratórias), colesterol elevado, vida sedentária, obesidade e estresse. Além disso, a existência de hipertensão arterial e diabetes, que são doenças crônicas, também aumentam a chance do desenvolvimento de doenças crônicas circulatórias.

DICAS DE PREVENÇÃO

1. Manter alimentação saudável, evitar gorduras e muito sal. Comer mais verduras, frutas e cereais.
2. Praticar exercícios físicos.
3. Não fumar.
4. Evitar o estresse.
5. Evitar consumo de bebidas alcoólicas.
6. Controlar a pressão arterial e o colesterol.

O risco da relação dengue e Covid-19

Ao mesmo tempo em que enfrenta a pandemia do coronavírus, o Rio Grande do Sul registra um aumento significativo no número de casos de dengue. Em Venâncio Aires, já são 21 confirmados. Para a médica infectologista Sandra Knudsen, o fato de o município registrar casos de dengue na mesma época do coronavírus é preocupante. “É mais uma doença para ocupar nossa atenção neste período complicado de saúde, por conta do coronavírus. Alguns sintomas até são parecidos entre as duas doenças, como febre, dor no corpo e dor de cabeça”, comenta.

Além disso, um paciente que contrair dengue e ficar debilitado, em função dela, pode ficar mais suscetível a um caso mais grave de Covid-19. “Qualquer situação de saúde que debilite o sistema imunológico pode influenciar na evolução do coronavírus”, alerta a infectologista.



Juliana Bencke

Juliana Bencke

Editora de Cadernos, responsável pela coordenação de cadernos especiais, revistas e demais conteúdos publicitários da Folha do Mate

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