Depois de duas semanas de um iminente colapso no sistema de saúde, Venâncio Aires entra no terceiro fim de semana de lockdown embalado por um misto de preocupação e esperança. O número de casos confirmados de Covid-19 nesta semana foi 25% menor do que o da semana passada, quando foi registrado o maior pico desde o início da pandemia.
Além disso, com a ampliação de 16 leitos, no início da semana, o Hospital São Sebastião Mártir conseguiu, na quinta-feira, 11, transferir o último paciente que estava internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA). O Centro de Atendimento Respiratório (CAR) instalado na frente da UPA também absorveu parte da demanda. Foram mais de 400 consultas, em uma semana.
“Com todo o apoio da população, está funcionando. Isso é reflexo dos lockdowns dos últimos fins de semana e da fiscalização orientativa”, observou o prefeito Jarbas da Rosa. Em entrevista ao programa Terra em Meia Hora, ele destacou sinais de mudança no cenário da pandemia e afirmou que manter o lockdown, neste fim de semana, é fundamental. “Será uma semana decisiva. Nos próximos dias, assim que diminuírem os números de casos graves no hospital, conseguiremos flexibilizar também as medidas econômicas.”
Das 5h deste sábado, 13, até as 5h de segunda-feira, 15, estão restritas as atividades comerciais, industriais e a circulação de pessoas e proibida qualquer aglomeração de pessoas. A exemplo da semana passada, medida foi adotada em toda a região. A necessidade da adesão dos municípios vizinhos ao lockdown foi defendida durante assembleia da Associação dos Municípios do Vale do Rio Pardo (Amvarp), na quinta-feira, considerando a sobrecarga do sistema hospitalar da região.
“Em um ano de pandemia, é a primeira vez que existe a real possibilidade de faltar respiradores. O suporte de atendimento está chegando num esgotamento. A curva de uso de oxigênio triplicou e aquelas cenas que assistimos na TV de outros estados estão perto de acontecer por aqui”, alertou o médico infectologista Marcelo Carneiro, que presta assessoria técnica à entidade.
No início da noite de sexta-feira, 12, o portal de monitoramento das internações da Secretaria Estadual de Saúde apontava 94,6% de taxa de ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) adulta para pacientes de Covid-19 no Vale do Rio Pardo, com 194 pessoas internadas. A taxa de uso de respiradores em UTI chegava a 108,3%.
Em uma semana, 14 mortes
Outro número que alerta para a manutenção das medidas preventivas é o de mortes nos últimos sete dias, em Venâncio Aires: foram 14 desde o último sábado – 20% do total registrado em todo o período da pandemia no município, há quase um ano. Situações em que pacientes faleceram poucas horas depois de serem hospitalizados ou até mesmo antes da internação chamaram atenção nesta semana, assim como a morte de pessoas com menos de 40 anos sem comorbidades.
“Os pacientes seguem chegando de forma muito grave. Isso pode estar relacionado a uma mutação do vírus, mas também tem relação com a sobrecarga do sistema de saúde. Muitos pacientes demoram até conseguir atendimento ou nem procuram porque sabem da sobrecarga. Quando chegam, é muito tarde.”
GUILHERME FÜRST NETO – Diretor técnico do HSSM
Ele reforça que, apesar da diminuição de novos casos, o reflexo no hospital só será sentido daqui a duas semanas. “O resultado das medidas de restrição aparece, agora, na redução de casos leves e, daqui a 15 dias, poderá refletir no hospital. O hospital continua em situação caótica, com todos os leitos ocupados e internações na Emergência. Enquanto ele estiver cheio, estaremos vivendo um momento ruim.”