Os médicos credenciados ao Instituto de Assistência à Saúde dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (IPE-Saúde) vão continuar paralisados até o dia 2 de maio. A deliberação aconteceu em Assembleia Geral Extraordinária, realizada pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) na quarta-feira, 12. A data limite se refere à expectativa da categoria sobre o projeto de reestruturação da autarquia, que deve levado à Assembleia Legislativa nas próximas semanas.
A decisão passa pela insatisfação dos profissionais em relação ao não aumento de valores de consultas e procedimentos, os quais, conforme o Simers, estão defasados há 12 anos. “Um paciente internado, por exemplo, onde o médico passa visita, prescreve, recebe ligações durante todo o dia acompanhando a evolução do paciente, se envolve diretamente e diariamente, inclusive finais de semana, recebemos R$ 18 por dia”, destacou Giuliano Chagas Steil, que é ortopedista e traumatologista em Venâncio Aires.

Steil atende pelo IPE há 21 anos e também é delegado do Simers. Conforme ele, o sindicato fez assembleias em muitas cidades. “Em todas ficou decidido pelo descredenciamento dos médicos caso não forem revistos os valores repassados, que equivalem a menos de 5% do que o IPE Saúde arrecada. A Unimed consegue repassar quase 40% do que arrecada, pois existe organização e não é governamental. Este descredenciamento é uma sugestão de quem nos representa, mas cada médico decide seu rumo.”
Também médico em Venâncio Aires, o cardiologista Gilney Mylius, que atende como clínico geral pelo IPE há 19 anos, diz que o instituto “foi indo numa direção muito complicada”. “Muitos médicos foram diminuindo a quantidade de atendimentos. Para se ter uma ideia, de uma visita hospitalar, o preço bruto é R$ 25. Então se torna complicado largar consultório e atender um paciente internado pelo IPE.”
Mylius também lembrou da assembleia que o Simers fez em Venâncio Aires, em março, onde cerca de 20 médicos presentes optaram pelo descredenciamento coletivo do IPE, caso o Estado não apresente soluções para os problemas. “Aqui também teve votação pela parada, caso o governo não acenasse com uma proposta razoável, que chegasse, digamos, próximo do que uma Unimed faz hoje. E o IPE está distante.”
“É uma pena se acontecer um descredenciamento em massa, pois temos amigos, familiares, pacientes de longa data que, se isto acontecer, muitos vão acabar indo para o SUS, o qual está sempre em dificuldade, e aí deverá piorar mais ainda.”
GIULIANO CHAGAS STEIL – Médico
4.027 – é o número de usuários do IPE em Venâncio. A informação é a Assessoria de Imprensa do instituto.
43 – é o número de médicos de Venâncio Aires que atendem pelo IPE, conforme informações do site do instituto. Alguns deles estão credenciados em mais especialidades.
Déficit de R$ 36 milhões
Na última quarta, 12, o governador Eduardo Leite apresentou um diagnóstico sobre a atual situação do IPE Saúde, que é responsável pela assistência médica e hospitalar de um a cada dez gaúchos. Atualmente, o sistema atende quase 1 milhão de usuários em todo estado. Conforme o governo, em 2022, o déficit mensal ficou em cerca de R$ 36 milhões. O passivo atual junto aos prestadores (contas que excedem o prazo contratual de 60 dias) soma cerca de R$ 250 milhões.
Entre os fatores para o desequilíbrio, segundo o Estado, estão o envelhecimento e o aumento da expectativa de vida da população e mudanças na legislação: em 2004, a alíquota do plano principal foi reduzida de 3,6% para 3,1%, na tentativa de evitar desligamentos. E, desde 2005, por conta de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a adesão dos servidores públicos ao IPE deixou de ser obrigatória. Como resultado, muitos servidores deixaram o plano, especialmente aqueles com maiores rendimentos e maiores contribuições.
Além disso, no plano principal, mais da metade dos usuários têm acima de 59 anos. Ou seja, a maioria dos contribuintes são pessoas com mais idade e que necessitam de serviços frequentes de saúde. Por sua vez, quatro em cada dez beneficiados cobertos pelo plano principal são dependentes e, portanto, não pagam contribuição mensal para o IPE Saúde.
O diagnóstico do governo, divulgado para deputados, secretários e imprensa na sede do IPE Saúde, irá orientar a proposta de reestruturação da instituição, que deve ser encaminhada à Assembleia Legislativa nas próximas semanas. (Fonte: Governo RS)