Prefeitura de Venâncio já fez 40 processos seletivos para médicos desde 2021

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A complicada busca de Venâncio Aires para encontrar pediatras, assunto que pautou a semana na área da saúde no município, também é realidade em outras cidades gaúchas. Ainda em 2022, por exemplo, Santa Cruz do Sul e Bento Gonçalves, já lamentavam o desafio que era preencher essas lacunas. Assim como aqui, ambas as prefeituras, na época, garantiram que o problema não era orçamentário, mas sim a falta de profissionais disponíveis no mercado. No caso da cidade da Serra gaúcha, a remuneração oferecida, ano passado, chegou a R$ 20,4 mil – o teto do funcionalismo público, limitado pelos vencimentos do prefeito – e foi proposta depois que as tentativas via concurso terminaram sem interessados. Mas, na Capital do Chimarrão, a tarefa para atrair médicos não tem sido difícil apenas em relação à pediatria e alcança outras especialidades.

Para se ter uma ideia, desde 2021, a Administração fez 40 processos seletivos emergenciais. Além disso, lança de mão de outros cinco mecanismos para suprir a demanda: o concurso público, que de 2022 já esgotou as nomeações e ainda poderia preencher duas vagas de médico comunitário; a gestão compartilhada com a Univates; a Escola de Saúde Pública, que ano passado não teve interessados nas duas vagas para residência médica; o programa Mais Médicos (inscrições começaram ontem e serão duas vagas para Venâncio) e, recentemente, um processo licitatório para contratar horas/médicas terceirizadas, sem vínculo direto do CPF da pessoa com a Prefeitura.

Segundo o secretário de Saúde de Venâncio, Tiago Quintana, o que ajuda a explicar a quantidade de processos seletivos feitos nos últimos dois anos é a grande rotatividade. Mas, além disso, muitas seleções foram para vagas novas criadas. Atualmente, por exemplo, seria possível contratar, imediatamente, mais três médicos para atenção básica e esses três são para preencher vagas em aberto de sete que foram criadas. “Tem o fato que aumentamos a carga horária na rede e com mais vagas criadas. Mas também tem a quantidade de propostas que os médicos recebem. Aumentou a oferta. O SUS está ofertando mais serviços, então precisa de mais profissionais e aí a escassez do mercado aparece. Mas essa realidade tem acontecido em todos os municípios”, destacou Quintana.

O Município mantém, atualmente, 49 médicos de concurso e contrato emergencial, mais quatro com a Univates e um voluntário. De outras vagas do quadro da saúde na rede pública, como técnico em Enfermagem, enfermeiro e dentista, por exemplo, o secretário disse que todas estão preenchidas.

Concurso 2022

• No concurso público de 2022, Venâncio ofereceu o seguinte: uma vaga de médico comunitário, uma vaga de médico de atenção básica e duas para pediatra. Para psiquiatra e ginecologista, eram vagas para cadastro de reserva.

• Desse processo, já esgotaram as nomeações e ainda poderiam ser preenchidas duas vagas de médico comunitário. Além disso, houve apenas dois aprovados para psiquiatra, um para pediatra e, para ginecologista, nem houve interessados.

R$ 9,3 mil – é o salário inicial para 20 horas semanais de um médico de atenção básica no Município. Para pediatra, são pagos R$ 5,2 mil para 10 horas por semana. “Dos vencimentos médicos, pagamos dentro da média do mercado e, comparando com alguns municípios, pagamos até mais”, afirmou o secretário, Tiago Quintana.

“Diminuiu o interesse pela pediatria”, diz professora universitária

Na terça-feira, 23, durante Terra em Uma Hora, da Terra FM 105.1, o prefeito Jarbas da Rosa falou em vários momentos, durante o programa, sobre as dificuldades para encontrar pediatras. Mesmo oferecendo valores/hora muito superiores à média, Jarbas afirmou que, dos poucos profissionais que estão no mercado, muitos “não querem trabalhar.” Para entender essa busca quase dramática, a Folha do Mate procurou uma universidade, ou seja, quem forma profissionais médicos. Segundo Simone Perez, coordenadora da Pediatria dentro do curso de Medicina da Univates, tem havido uma queda no interesse pela especialidade. “Entre os anos 1970 e 1980, a procura foi muito grande. Mas de 20 anos para cá, diminui o interesse. Um dos fatores é que muitos residentes têm optado por subespecialidades, como a neuropediatria, gastropediatria e de intensivista pediátrico, por exemplo.”

A professora acrescenta que muitos começam trabalhando, mas apenas de forma temporária. “Existe uma demanda muito grande na rede básica de saúde, que é para onde o pediatra é fundamental. Entre colegas médicos, a discussão é essa: falta profissional e os que têm, estão com muito trabalho.” Simone Perez, que também é pediatra e tem duas décadas de experiência, comenta que a realidade de Venâncio Aires é a mesma em outros municípios, assim como em Lajeado, onde ela mora e trabalha. Em sala de aula, diante de um cenário que tem levado para subespecialidades ou mesmo para outras áreas de maior interesse na medicina, como a cirurgia, a professora destaca que se tem pedido atenção. “Conversamos muito, para que todos os estudantes de medicina, independente da área que irão escolher, aprendam a atender crianças. Pelo menos o básico do atendimento clínico também em crianças, para que saibam avaliar e depois encaminhar corretamente.”

Abertas inscrições para o Mais Médicos; Venâncio tem duas vagas

Começaram nesta sexta, 26, as inscrições para o Programa Mais Médicos, com prioridade para brasileiros formados no país. O Ministério da Saúde divulgou nesta semana o edital com 5.970 vagas distribuídas em 1.994 municípios. Também podem participar brasileiros formados no exterior ou estrangeiros, que continuarão atuando com Registro do Ministério da Saúde em vagas não ocupadas por médicos com registro no país. As inscrições, pelo site maismedicos.saude.gov.br, seguem até 31 de maio e a previsão é que os profissionais comecem a trabalhar no fim de junho. Para o Rio Grande do Sul, há 541 vagas, das quais duas são para Venâncio Aires. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, serão profissionais para atenção básica, em alguma UBS.



Débora Kist

Débora Kist

Formada em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) em 2013. Trabalhou como produtora executiva e jornalista na Rádio Terra FM entre 2008 e 2017. Jornalista no jornal Folha do Mate desde 2018 e atualmente também integra a equipe do programa jornalístico Terra em Uma Hora, veiculado de segunda a sexta, das 12h às 13h, na Terra FM.

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