Há quatro meses, Maria Cristina Appel, 54 anos, vai semanalmente à Farmácia Municipal para tentar retirar medicamentos que precisa tomar diariamente. Mas a resposta tem sido sempre a mesma: “A atendente me informa reiteradamente que continuam em falta”. Há cinco anos ela recebeu o diagnóstico de câncer e, desde então, passou por uma série de tratamentos.
A dificuldade em acessar gratuitamente os medicamentos também pesou no bolso dela, que está aposentada, mas já atuou como técnica de enfermagem e cuidadora. Residente no bairro Coronel Brito, Maria Cristina precisou requerer empréstimo para conseguir comprar tudo que necessitava no momento mais delicado do seu tratamento. “Com o salário mínimo que ganho, ainda precisei dar conta de todas as outras despesas e compromissos com a família e a casa”, comentou.
Ao todo, são 12 os medicamentos que ela retira na Farmácia Municipal, onde também são distribuídos remédios fornecidos pelo Governo do Estado. Um dos medicamentos em falta é o carbonato de lítio, fornecido pelo Município. Com receio de ficar sem tomá-los, Maria revelou que vem fracionando os comprimidos e solicitou ao médico um calmante para suprir a dosagem ideal. Segundo ela, a insulina, utilizada para o tratamento do diabetes, também estaria em falta, segundo relatos que ela ouviu de outros pacientes.
COMPRA
A Secretaria Municipal de Saúde efetuará, de forma emergencial, a compra de medicamentos em falta na Farmácia Municipal de Venâncio Aires. Serão investidos R$ 146 mil, segundo informado pela Prefeitura, ontem à tarde. Em nota emitida nesta quinta-feira, 6, a Prefeitura informou que são “16 itens medicamentosos que estão em falta no Município.”
Prefeito em exercício, Celso Krämer (PTB) afirmou, em entrevista ao programa jornalístico Terra em Meia Hora, da Terra FM, ontem, que já autorizou a compra. Krämer informou, ainda, que nas próximas semanas será providenciado um remanejo de medicamentos dos postos de saúde para a Farmácia Municipal. Ele acredita que essa medida irá amenizar a falta de determinados remédios.
O prefeito em exercício ainda destacou que alguns medicamentos em falta são de responsabilidade do Estado. Ele explicou, durante a entrevista na Terra FM, que em alguns casos, mesmo tendo um planejamento anual, os próprios fornecedores têm dificuldades para honrarem os compromissos assumidos.
Às vezes, por muita demanda ou falta de matéria-prima, os laboratórios atrasam entregas, mesmo que antes disso tenham enfrentando um longo período licitatório. Isso obriga a Prefeitura a tomar uma série de medidas administrativas que pode resultar, até mesmo, na proibição da empresa em participar de novos processos, informou Krämer.
Importante
- A reportagem não teve acesso à relação de medicamentos que estão em falta na Farmácia Municipal e quantos deles são de responsabilidade do Governo do Estado.
Receitas médicas
- O prefeito em exercício Celso Krämer também disse durante a entrevista que em algumas situações, médicos, indiferente do município, por saberem que determinado medicamento está em falta, receitam justamente o faltoso. “Poderiam receitar um similar, mas para prejudicarem algum governo fazem por gosto”, declarou.
Secretaria de Saúde: “Situação será regularizada nos próximos dias”
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou que existe a falta de alguns medicamentos e garante que a situação será regularizada nos próximos dias.
A assessora administrativa da pasta, Marinete Bortoluzzi, explicou que a Secretaria de Saúde tem pedidos de compra efetuados e que ainda estão em períodos de entrega. Além disso, informou que já está fazendo novas compras. “Como o poder público precisa comprar dos fornecedores licitados e no final de ano as empresas fazem recesso, acaba que alguns fornecedores só voltam a regularizar as entregas em fevereiro”, justificou.
Marinete comentou que são poucos itens que as empresas não conseguiram entregar antes do recesso. “Estamos fazendo compras de reposição de estoque de todos os itens. Com as empresas entregando tudo, não deverá ter falta de nenhum medicamento na Farmácia, que seja competência municipal.”
A assessora também confirmou que o prefeito em exercício assinou um pedido de compra emergencial. O carbonato de lítio, medicamento citado pela moradora de Venâncio Aires, é de competência municipal. Segundo Marinete, esse remédio integra a Farmácia Básica e faz parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename).
Nota
No fim da tarde de quinta-feira, a Prefeitura emitiu nota oficial sobre a situação. Confira, na íntegra:
“A Prefeitura de Venâncio Aires informa que hoje, 6, através de um pregão eletrônico, fornecedores assinaram uma ata para a compra de 16 itens medicamentosos que estão em falta no Município.
A Secretária Interina da Secretaria de Saúde, Procuradora Jurídica Marion Kist, informa que os poucos itens faltantes são em virtude das festas de final de ano e férias coletivas das Indústrias Farmacêuticas em dezembro e janeiro, que impactam diretamente na produção, pois tudo para. Isso é praxe acontecer em uma virada de ano para outro dentro do organograma das empresas do ramo no Brasil.”
*Colaborou: Rosana Wessling