Era para ser só mais um exame de rotina, daqueles que Luciane Maria Horn, 50 anos, já realizava desde os 35 anos, por orientação médica. Contudo, o mês de janeiro de 2018 marcaria o início da batalha da agricultora, então com 47 anos, contra o câncer de mama. A moradora de Vila Santo Antônio lembra que, inicialmente, a alteração não foi considerada preocupante. No entanto, em 12 de junho, ao repetir a mamografia, recebeu a confirmação de que se tratava de um nódulo na mama direita.
Pouco mais de um mês depois, o resultado da biópsia demonstrou que era um câncer maligno. “Eu não acreditava que isso ia acontecer comigo. Tu fica sem chão quando recebe a notícia e a morte é a primeira coisa que vem na mente da gente”, recorda Luciane. Ela ainda relata que pouco tempo antes de receber o diagnóstico acompanhou a luta de uma amiga contra a doença.
“Fazia uns quatro anos que uma amiga minha também tinha e eu cheguei a acompanhar ela. E, em janeiro, dias depois que eu fiz o exame, fui junto com ela em Santa Cruz para ela colocar a prótese. Eu jamais imaginei que dentro de um ano eu estaria no mesmo quarto em que ela estava, para fazer minha cirurgia de retirada de nódulo”, relembra.
A agricultura iniciou o tratamento no Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul, quatro meses depois da descoberta do câncer e, em 12 de fevereiro de 2019, fez a cirurgia para retirada do nódulo. Depois do procedimento, entre 25 de março e 9 de setembro, realizou 16 sessões de quimioterapia e, do fim de novembro até o começo de 2020, realizou 25 sessões de radioterapia.
Desafios
Além das limitações relacionadas ao trabalho, o tratamento contra o câncer de mama exigiu de Luciane coragem para vencer outros desafios. Um deles foi a perda do cabelo. “O dia que eu mandei raspar o cabelo foi o que eu mais chorei, parecia que estava faltando alguma coisa em mim. Sabia que isso ia acontecer, mas foi muito difícil. Mas eu sempre tentei pensar que a saúde vinha em primeiro lugar, porque o cabelo ia voltar depois”, conta.
E realmente foi isso que aconteceu. Quando estava chegando ao fim das sessões de quimioterapia a moradora do interior de Mato Leitão já viu os primeiros fios começarem a nascer e em fevereiro de 2020 realizou o primeiro corte. No período em que ela perdeu o cabelo utilizou algumas vezes peruca para participar de eventos sociais, mas no dia a dia os seus aliados foram os turbantes.
A agricultora chegou a ter metástase nos ossos, mas conseguiu controlá-la com o uso de medicação. Agora, ela precisa fazer acompanhamentos a cada seis meses, mas já comemora a vitória contra a doença, mesmo ainda precisando conviver com algumas limitações em relação ao trabalho, principalmente no que se refere a carregar peso.
“Sempre digo que depois do tratamento do câncer a vida da gente muda”, observa.
Como reflexão desse momento de luta, Luciane menciona a valorização de todos os momentos, mesmo os pequenos, e a da família. “A gente tem que viver o hoje porque o amanhã a Deus pertence, não sabemos como vai ser. Tu muda, tem outros pensamentos. Cada detalhe, cada coisa é importante para a gente. A gente fica mais humano, menos egoísta”, ressalta.
Ela também ressalta a importância dos exames de rotina e através da sua história de superação busca passar uma mensagem de otimismo para quem está enfrentando essa batalha. “Se não fosse os exames de rotina talvez hoje não estaria mais aqui. Para as mulheres eu digo que tirem um tempo para fazer os exames. Que se valorizem, porque a vida e a saúde são muito importantes”, destaca.
“O período de tratamento foi muito difícil. Só quem faz sabe o que se passa. É muito complicado, não dá para explicar o que se sente. Mas a fé, a coragem, a confiança que vai dar certo e o apoio da família ajudam e são muito importantes.”
LUCIANE MARIA HORN – Agricultora
Atendimentos
Nos meses de junho, julho e início de agosto Mato Leitão realizou um mutirão para zerar, momentaneamente, a fila de espera para realização de mamografias. Conforme a Secretaria Municipal de Saúde 128 pacientes foram atendidas durante essa ação.
A previsão da Prefeitura, entretanto, era realizar cerca de 200 exames, mas por causa de uma recomendação sobre a realização do exame a atividade foi encerrada e dificuldade em organizar a demanda. O documento enviado à Secretaria de Saúde orientava que a paciente realizasse a mamografia antes de receber a primeira dose da vacina contra a Covid-19 ou 30 dias depois da segunda aplicação.
Algumas pacientes ainda aguardam para realizar o exame e a expectativa é realizar um novo mutirão no ano que vem. Ainda segundo a Secretaria de Saúde, o Município tem disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) uma cota de 70 mamografias por ano para pacientes com idade entre 50 e 69 anos. No próximo mês, 20 pacientes realizarão o exame.
Para agendar a mamografia ou exame pré-câncer, as moradoras da Cidade das Orquídeas podem fazer contato com as agentes comunitárias de saúde ou com as unidades de saúde do município.