HSSM tem 23 leitos de UTI (Foto: Juliana Bencke/Arquivo FM)
HSSM tem 23 leitos de UTI (Foto: Juliana Bencke/Arquivo FM)

O risco de uma quarta elevação no número de casos e mortes por Covid no Rio Grande do Sul tem gerado questionamentos entre entidades e especialistas sobre a preparação do estado para enfrentar um novo cenário de dificuldades.

A possibilidade de uma nova onda da doença tem ganhado corpo devido às estatísticas das semanas de maio e primeiros dias de junho: aumento na transmissão e em hospitalizações, situação já percebida também em Venâncio Aires e em todo Vale do Rio Pardo.

Nos últimos dias, o Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) voltou a registrar Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) lotadas, mesmo que os números locais estejam ‘mais tranquilos’ na comparação com outras regiões. Além disso, ainda na quarta-feira, 2, o Gabinete de Crise do governo gaúcho emitiu um novo ‘alerta’ para a região de Santa Cruz do Sul.

O cenário causa alerta e, por isso, já se pensa em reforço nos cuidados. No caso de Venâncio, se houver uma nova onda, a Administração diz que a estrutura física não preocupa no primeiro momento, mas sim a falta de medicamentos. “Em relação às estruturas física e de recursos humanos estamos preparados, inclusive para reabertura dos centros respiratórios, se necessário. O que preocupa é a dificuldade no acesso à medicação de sedação e intubação”, destacou o prefeito Jarbas da Rosa.

Segundo ele, remédios usados em UTI, como Midazolam (sedativo) e Fentanil (anestésico), por exemplo, são difíceis de encontrar. “Há pouca quantidade no mercado e o preço está elevado. Aumentou 300% o custo de várias medicações.”

“Temos um limite”, alerta presidente do HSSM

Um ponto importante nessa possível nova onda é conseguir antecipar a intensidade com a qual ela pode se estabelecer. “Não acredito em uma onda igual ou superior àquela registrada em março”, opinou o prefeito Jarbas da Rosa.

Ao encontro disso, o presidente do HSSM, Luciano Spies, também acredita que um possível novo pico fique aquém do que aconteceu no terceiro mês do ano. “Acreditamos que possa haver uma elevação no número de casos, mas que não deve ser tão grave, justamente porque o número de vacinados já é bem maior na comparação a março e o número de pessoas que adquiriram o anticorpo através da contaminação também subiu”, disse.

Segundo Spies, se assim for, o hospital terá condições de atender. Mas, se for mais grave, haverá problemas. “Nossa estrutura não vai suportar mais de 85, 90 pacientes Covid. Temos um limite, que são 23 leitos UTI em funcionamento, e o que podemos aumentar são os leitos clínicos. Se houver essa nova onda, conseguiríamos atender alguns pacientes a mais do que os 23 em situação próxima à UTI. Alguma coisa conseguimos, mas não há como nos preparar para mais que isso”, afirmou.

Pessoal

Para o presidente do HSSM, embora a instituição pudesse adquirir mais respiradores e abrir novos leitos, os recursos humanos seriam um problema. “A gente vai travar na questão de equipe, como médicos e enfermeiros.”

Nesse sentido, Luciano Spies entende que essa também seria uma dificuldade para o estado. “Se a onda for pior que a de março, acho que o estado também não está preparado, porque há uma limitação tanto física quanto de pessoal. Não tem como criar novos médicos, os intensivistas têm um número ‘x’ e todos eles estão ocupados, já trabalhando em UTIs.”

Sobre o número de profissionais em Venâncio, o prefeito Jarbas da Rosa relatou que houve aumento de 20% desde o início da pandemia. São contratos temporários, custeados com recursos exclusivos para o enfrentamento à Covid.

“Se for pior, não estaremos preparados. É uma realidade que a população precisa estar muito ciente, de que não há como se preparar para uma onda pior do que a de março.”

LUCIANO SPIES – Presidente HSSM

Picos

Tem se falado em ‘quarta onda’ porque até agora o Rio Grande do Sul já viveu três momentos mais críticos na pandemia, quando houve picos de novos casos, internações e óbitos. O primeiro foi no inverno passado e o segundo em dezembro.

Em 2021, a leve queda das primeiras semanas do ano deu uma falsa sensação de tranquilidade e na verdade antecedeu o pior momento: a rápida escalada entre o fim de fevereiro e o mês de março deixou o sistema de saúde gaúcho em vias de um verdadeiro colapso.

Vale lembrar que em Venâncio Aires, só em março, foram 52 mortes por Covid, além de recorde de internações no hospital (65 pacientes no dia 22) e na UPA (21 em determinada semana) e recorde diário de novos casos (247 confirmações no dia 15).

O que também extrapolou foi o consumo de oxigênio. Só na UPA, durante apenas dois dias do mês de março, a unidade chegou a consumir 226 metros cúbicos. A quantia, em outros tempos, seria o suficiente para manter quatro meses.