Setembro dourado: No toque, um novo jeito de conhecer a vida

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A leucemia é um dos tumores mais comuns no público infantojuvenil. Em 2020, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que serão 8.460 novos casos de câncer nesta faixa etária. Destes, 300 no Rio Grande do Sul. O mês que possui a cor dourada como símbolo prevenção do câncer infantojuvenil é uma forma de alertar, educar e conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce.

Em Venâncio Aires, a Liga Feminina de Combate ao Câncer possui, neste ano, o cadastro de cinco pacientes crianças e adolescentes. De acordo com informações repassadas pela entidade, duas meninas estão em tratamento, uma de 6 e outra de 11 anos, com câncer no cérebro e outra na retina. Os três meninos, de 3, 4 e 11 anos, possuem câncer na retina, ossos e leucemia.

Um dos pacientes atendidos pela Liga é Arthur Bandeira, 3 anos. Diagnosticado com câncer ocular, – retinoblastoma – aos oito meses, o pequeno passa por tratamento no Hospital de Clínicas, de Porto Alegre. O tumor nos dois olhos foi confirmado através de uma ressonância antes mesmo de completar um ano de vida. A mãe, Ana Paula da Silva, 37 anos, recorda que percebeu algo diferente quando o filho começou a engatinhar. “Ele batia nas coisas”, acrescenta. Ao procurar por diferentes profissionais, acabou descobrindo o câncer. “Foi muito triste, o momento mais triste da minha vida. Quando soube, só quis chorar e toda a vizinhança ficou entristecida”, relembra.

O tumor maior, conforme a mãe, estava no olho esquerdo. “No direito, fizeram quimioterapia até junho do ano passado, quando foi considerado curado do câncer, mas não adiantava mais porque o tumor ia seguir crescendo e íamos acabar perdendo ele”, lembra. Até a retirada do olho, em maio deste ano, Arthur enxergava apenas alguns vultos no olho direito. “Depois do procedimento era como se nada tivesse mudado para ele”, diz a mãe, que garante que o filho vive uma rotina normal e, a cada dia, desenvolve ainda mais a audição e o tato. Hoje, com prótese ocular no olho direito, ele aguarda para colocar uma prótese no olho esquerdo. O procedimento está agendado para o dia 24 de setembro.

“Nunca vi uma criança tão feliz mesmo com tudo que passou.”

ANA PAULA DA SILVA – Mãe

Cheia de vida

Ana Paula conta que o filho gosta de brincadeiras com barulho. “Ele sabe todo o alfabeto e os números”, acrescenta orgulhosa. Além do garoto, a mãe também divide os cuidados do pequeno com o de outras duas filhas: Nayara e Nathalia, 7 e 12 anos, respectivamente.

Com uma rotina dedicada ao cuidado dos filhos, ela também precisa ‘arrumar’ um tempinho para se dedicar aos estudos, já que está no último semestre do curso de Pedagogia. “Agora meu maior desejo é conseguir fazer uma pós-graduação em braile para ajudar o Arthur”, afirma. Além disso, ela não esconde a vontade de iniciar a alfabetização do pequeno em uma escola especial para deficientes visuais.

Relato do repórter

Cheio de vida e ‘louco’ para desbravar o mundo, o pequeno Arthur não demonstra medo. Na quinta-feira, 10, quando estive na residência da família pude perceber que a deficiência visual não é barreira para o pequeno. Segundo a mãe, ele gosta de barulho, sabe todo o alfabeto e todos os números. Ele é, de fato, muito esperto. Quando cheguei, me identifiquei e, fiz o contato com o pequeno que logo se tornou meu amigo. Arthur me conheceu no toque.

Encostou no meu braço e soube que eu estava ali. Enquanto a mãe contava sobre as barreiras superadas, ele mais uma vez se aproximou de mim e dessa vez queria entender meu rosto, que estava protegido com a máscara. Fiz questão de deixar que ele me tocasse e conhecesse a Ana. Mas, foi na hora de ir embora que senti o quanto o menino possui uma luz incrível. Quando já me despedia da família, ele levantou os braços como forma de pedir colo. Como negar né? Peguei ele no colo. Me abraçou, encostou a cabeça no meu ombro e fez carinho no meu cabelo. Arthur, ao lado da mãe e das irmãs, é exemplo de força e mostra que existem várias formas de sentir a vida.

Oncologista fala da atenção ao câncer infantojuvenil

A médica oncologista clínica Sheila Calleari Marquetto explica que além da leucemia, estão na lista dos cânceres infantojuvenis mais comuns aqueles que afetam o sistema nervoso central e os linfomas, relacionados ao sistema linfático.

É necessário, de acordo com ela, que os pais estejam atentos aos sintomas: “As crianças não inventam sintomas. Ao sinal de alguma anormalidade, devem levar seus filhos ao pediatra para avaliação. Na maioria das vezes, os sintomas estão relacionados a doenças comuns na infância, mas isto não deve ser motivo para descartar a visita ao médico”.

A profissional observa que esses cânceres no público infantojuvenil por serem predominantemente de natureza embrionária, são constituídos de células indiferenciadas, o que, segundo ela, proporcionam melhor resposta aos tratamentos atuais. “Nas últimas quatro décadas, o progresso no tratamento do câncer na infância e na adolescência foi extremamente significativo”, acrescenta.

Hoje, em torno de 80% das crianças e adolescentes acometidos da doença podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados. “A maioria deles terá boa qualidade de vida após o tratamento adequado. No entanto, assim como nos países desenvolvidos, no Brasil, o câncer já representa a primeira causa de morte (8% do total) por doença entre crianças e adolescentes de 1 a 19 anos”, salienta a médica.

Formas de apresentação dos tumores

•Leucemia é a invasão da medula óssea por células anormais, a criança se torna mais sujeita a infecções, pode ficar pálida, ter sangramento e sentir dores ósseas.

•Retinoblastoma é chamado chamado também de ‘reflexo do olho do gato’, embranquecimento da pupila quando exposta à luz. Pode apresentar também, por meio de fotofobia (sensibilidade exagerada à luz) ou estrabismo (olhar vesgo). Geralmente acomete crianças antes dos 3 anos.

•Aumento do volume ou surgimento de massa no abdômen podem ser sintomas de tumor de Wilms (que afeta os rins) ou neuroblastoma.

•Tumores sólidos podem se manifestar pela formação de massa, visível ou não, e causar dor nos membros. Esse sintoma é frequente, por exemplo, no osteossarcoma (tumor no osso em crescimento), mais comum em adolescentes.

•Tumor de sistema nervoso central tem como sintomas dores de cabeça, vômitos, alterações motoras, alterações de comportamento e paralisia de nervos.

*Fonte: Sheila Calleari Marquetto

    

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