Quando soube que estava grávida, Luana Liebel, 23 anos, não imaginava que teria o bebê internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital São Sebastião Mártir (HSSM). Mesmo sem planejar a gestação, ela sonhava com um momento mágico, cheio de amor e saúde. Mas, em junho, teve Covid e ficou 16 dias internada. Fez o parto com 35 semanas e conheceu o filho, Arthur Miguel Liebel Martins, agora com um mês, nove dias após o nascimento.
Em março, Luana testou positivo para o coronavírus, junto com a mãe Crislane Hochscheidt Liebel, 53 anos, mas teve sintomas leves e ficou em casa, isolada. Depois da primeira vez que teve a doença, a família cuidou mais ainda, porém, três meses depois, no dia 18 de junho, Luana foi reinfectada. “A primeira vez foi trabalhando, pelo que imagino, na segunda vez não sabemos”, considera a atendente e auxiliar de cozinha.
Na segunda vez, Luana comenta que fez o exame depois que a irmã positivou, pois tiveram contato. Ela teve um pouco de dor de garganta, tosse e cansaço. A mãe de Luana também foi reinfectada. Elas ficaram em casa, como da outra vez, e depois de uma semana, a moradora do bairro Aviação fez exames e recebeu medicação para evitar a piora. “Eu estava fraca, não conseguia caminhar muito, nem dentro de casa”, lembra, mas como a saturação estava boa, a jovem não procurou médico.
Na sexta-feira, dia 25 de junho, ela foi à Unidade de Pronto Atendimento (UPA), recebeu nova medicação para dor e foi liberada. Porém, ficava mais fraca a cada dia, não conseguia comer e era difícil caminhar. Na segunda-feira, 28, foi no posto de saúde, falou com a ginecologista e foi encaminhada para o hospital. “Naquele dia minha saturação estava em 86”, recorda.
Internação
Após a triagem, Luana logo recebeu oxigênio, fez tomografia e outros exames. À tardinha, soube que seria internada no HSSM. Na terça-feira, dia 29 de junho, pela manhã, como a oxigenação estava baixa, foi para a UTI. “Eu fiquei apavorada, pois já tinha medo de ficar internada no hospital, imagina na UTI”, comenta. Depois disso, Luana foi colocada em um leito da UTI 3, que ficava no Pronto Atendimento, e passou a utilizar máscara de oxigênio. “No outro dia chamaram minha mãe e minha irmã para falar da gravidade da situação. Eu imaginava que era grave, mas não me falavam tudo. Neste dia tive mais noção do que estava acontecendo, pois minha mãe e minha irmã foram em horário fora do de visitação e não pareciam bem”, lembra. Na quinta-feira, ela foi transferida para outra UTI e recebeu oxigênio de alto fluxo.
Na madrugada, Luana se assustou com os barulhos dos equipamentos da UTI. Foi quando a saturação baixou: estava novamente em 86. “O alto fluxo estava no máximo. Eu estava há dias sem dormir, porque era difícil ter sono no hospital. Uma enfermeira veio me atender e disse que eu precisava dormir para que a saturação voltasse um pouco, então ela ficou comigo até eu cochilar. Depois de uns 40 minutos eu acordei”, conta.
O parto
Na sexta-feira, dia 2 de julho, a jovem percebeu que os médicos estavam conversando sobre ela, mas não entendia direito sobre o que era. “Estranhei que eu pedi água e a enfermeira disse que eu não podia tomar muito líquido, mas nos outros dias sempre deixavam.” Posteriormente, o médico foi falar com ela e contou que iriam fazer a cesária de emergência e intubá-la. “Ele explicou tudo, que precisavam fazer, que queria esperar até as 36 semanas, pois eu estava com 35, mas que não dava porque não estava melhorando a situação”, diz.
Neste momento, o hospital contatou a família da paciente. Quando a mãe de Luana foi ver a filha, percebeu que a situação era ainda mais grave. “Os médicos explicaram que o estado de saúde dela era muito grave, que a família tinha que estar consciente, mas que eles fariam o possível para salvar ela. Falaram também que iam fazer a cesária e que iam dar preferência por salvar a vida da mãe, no caso, da Luana. Mas, graças a Deus, deu tudo certo com os dois”, relata Crislane, emocionada.
Os funcionários da obstetrícia, enfermeiras e outros profissionais fizeram uma sala para que Luana pudesse fazer a cesária e não precisasse ser transferida para a maternidade. “Montaram tudo ali embaixo, lugar para mim e para o bebê, mas também deixaram o bloco cirúrgico preparado, pois a ideia era tentar me levar para lá. Caso não desse, deixariam no improvisado. O medo deles era que eu tivesse alguma parada cardíaca ou outra reação”, relembra.
O número de pessoas envolvidas neste momento assustou Luana, mas um dos médicos falou para ela ter calma, que eram profissionais que estavam lá para amparar ela. “Ele disse que se eu tinha alguma crença, alguma fé, era para eu rezar e pedir que tudo ficasse bem. Fiz isso, assustada, mas fiz.” Os médicos conseguiram transferi-la para o bloco cirúrgico, onde aconteceu o parto. Antes da cesária, Luana recebeu sedativos e só acordou cinco dias depois. “Lembro da mulher falando ‘vou começar a cesária’ e apaguei. Depois, só lembro quando acordei”, comenta.
“Nasci de novo”
“Não sei explicar a sensação. Nasci de novo. Hoje dou valor para coisas que antes não valorizava”, diz a venâncio-airense, que se recuperou completamente da Covid-19. Depois da cesária, ela ficou cinco dias intubada. Nesse tempo, não lembra de nada. Um dia, acordou se batendo na cama, sem entender onde estava. “Eu escutava o enfermeiro pedindo calma, mas não enxergava, era tudo preto. Depois de um tempo, comecei a ver. Tiraram meu tubo e eu não tinha voz, mas eles explicaram que era normal.”
Os funcionários do hospital logo mostraram para ela fotos do filho, contaram que ele estava bem e que ela podia ficar tranquila. Na quinta-feira, Luana foi para o quarto. Aos poucos, com o passar dos dias, começou a sentar na poltrona, caminhar e tomar banho no chuveiro.
No fim de semana, arrumaram um quarto separado para ela, para que o Arthur a visitasse, pois ainda não conhecia ele. No domingo, dia 11 de julho, o menino passou a tarde no hospital com a mãe.“Minha sensação foi de choque, parecia que não era verdade, eu olhava e só agradecia que tudo tinha dado certo, nós dois estávamos bem. Foi um milagre”, expressa. Na terça-feira, dia 13 de julho, a mãe de ‘primeira viagem’ teve alta hospitalar.
“É difícil de explicar. Agora, quando penso, não acredito em tudo que passamos. É um milagre, é como nascer de novo. Agora, eu e o Arthur vamos aproveitar cada momento e nos cuidar mais ainda.”
LUANA LIEBEL
Mãe do Arthur, que deu à luz enquanto estava hospitalizada com Covid-19
Experiência no hospital
• Luana observa que tinha medo de ficar no hospital, mas que foi muito bem cuidada por todos os profissionais. Para a vida, ela frisa que foi um aprendizado que nunca vai esquecer, pois era um momento que o hospital estava cheio e viu muitas pessoas em situações críticas. “Nunca tinha visto uma UTI, uma pessoa intubada, fiquei impressionada, com medo, mas vi uma realidade diferente. São muitos aprendizados desse momento difícil.”
Curiosidades
- Luana ficou internada entre os dias 28 de junho e 13 de julho e teve 60% do pulmão comprometido.
- Arthur nasceu na sexta-feira, dia 2 de julho, teve uma parada cardíaca, mas se recuperou. Na segunda-feira, teve alta e foi para casa. Foi cuidado pela tia, a avó e o pai.
- A jovem não consegue amamentar Arthur, pois para que o leite não empedrasse, enquanto ela estava intubada, tomou medicamentos que fizeram o leite secar.
- A recuperação de Luana foi tranquila, ela logo voltou a caminhar e fazer as atividades. Hoje cuida de Arthur e aproveita os meses de licença-maternidade.