Por Luana Schweikart e Taís Fortes
Desde o fim de agosto, cidades do Rio Grande do Sul vêm registrando surtos da doença diarreica aguda (DDA). Na última quinta-feira, 7, o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) emitiu alerta sobre a ocorrência do surto da doença em 25 municípios gaúchos. Na região, estão na lista Mato Leitão (com 50 casos) e Santa Cruz do Sul, que preocupa com 374 casos. Em nove dessas cidades, o que inclui Santa Cruz, foi identificado um vírus chamado norovírus como a causa desses casos de doenças gastrointestinais. Venâncio Aires, embora não esteja ainda na lista, também tem casos confirmados, segundo a enfermeira e da coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Venâncio Aires, Carla Lili Müller.
Em Venâncio Aires, três escolas de Educação Infantil já registraram surtos da doença em crianças e a maioria dos casos é em adultos. Ao fazer análises através de amostras de fezes, foi constatado que o vírus é o mesmo encontrado em Santa Cruz do Sul, apontando relação entre os surtos de cidades vizinhas. São aproximadamente 26 casos já notificados na Vigilância Epidemiológica da Capital do Chimarrão. Sobre as causas da proliferação do vírus, Carla explica que ainda não há indícios, mas que possivelmente a contaminação ocorra por meio da água ou alimentos. Segundo ela, escolas receberam orientações sobre manipulação, higienização dos alimentos, limpeza de caixas d’água e superfícies. A partir de agora, explica a enfermeira, as equipes estão mapeando e notificando bairros para descobrir onde há o maior número de casos. “Adultos e crianças podem ter a doença, a proliferação maior acontece em escolas e outros locais de trabalho”, completa.
Mato Leitão
Na microrregião de Venâncio Aires, a Cidade das Orquídeas também está na lista dos 25 municípios com surtos da doença diarreica aguda (DDA). Em Mato Leitão, os casos começaram a ser registrados na semana epidemiológica que iniciou no dia 5 de setembro. Os principais sintomas apresentados pelos pacientes eram diarreia, vômito, dor abdominal e, em alguns casos, febre.
Segundo a coordenadora das imunizações e da epidemiologia da Secretaria de Saúde, Kátia Heinen, durante cerca de duas semanas, houve um pico de atendimento no município, contabilizando mais de 50 consultas nas duas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) da Cidade das Orquídeas, a maior parte de crianças. Contudo, após esse período houve uma diminuição dos casos e hoje a situação está normalizada.
A 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) e o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs) auxiliaram o Município na averiguação das possíveis causas do surto. De acordo com Kátia, se percebia que os pacientes apresentavam entre três e quatro dias de sintomas.
Para investigar a situação foram feitas três coletas de amostras de água, que foram enviadas para análise no Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul (Lacen-RS), em Santa Cruz do Sul. O resultado mostrou que não havia contaminação. Além disso, foram enviadas para análise no Lacen, em Porto Alegre, amostras de fezes dos pacientes, no entanto ele foi descartado pelo Estado por ser em pequena quantidade. Assim, não foi possível concluir qual vírus estava circulando no município.
*Com informações da Secretaria Estadual de Saúde
- 26 é o número de casos já notificados na Vigilância Epidemiológica de Venâncio Aires.
Possíveis causas da doença
Conforme a nota divulgada pela Secretaria Estadual de Saúde, o vírus está possivelmente associado à ingestão de água, mas também pode ser transmitido por alimentos ou de pessoa para pessoa.
Nas demais cidades, os casos ainda encontram-se em investigação. Até o momento, mais de 2 mil casos já foram notificados, sendo que alguns municípios informaram apenas que tiveram um ou mais surtos identificados, a se confirmar o número de pessoas. “As medidas de investigação e controle estão sendo realizadas pelos respectivos municípios, Coordenadorias Regionais de Saúde (CRS) e Cevs”, informa a nota.
Água
A orientação à população é o consumo de água de fontes seguras e tratadas, que tenham processo de desinfecção por cloro ou outra tecnologia. Caso seja desconhecida a fonte, em situações de emergência, recomenda-se fervê-la antes do consumo e antes do preparo de alimentos por, no mínimo, cinco minutos. Também é importante realizar periodicamente a limpeza de caixas d’água. Conforme a especialista em saúde do núcleo de Doenças de Transmissão Hídricas e Alimentares do Cevs, Lilian Borges Teixeira, esses tipos de ocorrências reforçam essas medidas preventivas em relação a água, que devem ocorrer de forma permanente por toda população.
As amostras clínicas de pessoas com sintomas são encaminhadas para o Laboratório Central do Estado (Lacen) em Porto Alegre. Também já foram coletadas amostras de água em alguns desses municípios, que aguardam resultado da Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Sintomas e tratamento
O médico coloproctologista, Paulo Romeu Coutinho Abrahão, informa que os principais sintomas são dor abdominal, cólica, febre, náusea, vômito, cansaço e sangue nas fezes. A diarreia geralmente ocorre de três a quatro vezes em 24 horas e vai aumentando a frequência. Em caso de sintomas desse tipo, é recomendado repouso e aumento na ingestão de líquidos para evitar a desidratação.
Abrahão destaca que duas faixas etárias devem ter maior atenção à doença, idosos e crianças. “Esses extremos de idades são mais fáceis de desidratar”, afirma. O médico explica que o tratamento inicia conforme o grau de desidratação do paciente, que deve ser observado. “O tipo mais grave é quando a diarreia é contínua, acompanhada de febre. Nesse caso, o paciente deve procurar atendimento médico para receber um soro e ser reidratado”, observa.
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