O Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) pode receber a implantação de uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica – para crianças de 29 dias a 14 anos. Mas, para isso acontecer, Venâncio Aires espera pela palavra e pelo ‘preto no branco’ do Estado de que este vai arcar com todas as despesas.
A iniciativa não partiu do Município, mas ele se colocou à disposição para receber a unidade depois que foi procurado pela 13ª Coordenadoria Regional de Saúde. A ideia do Estado é que Venâncio seja a nova referência regional de UTI Pediátrica, já que o Hospital Bruno Born de Lajeado fechou a unidade e o Hospital Santa Cruz tende a fazer o mesmo futuramente, atendendo a uma determinação legal do Ministério da Saúde (veja box).
“Não tem iniciativa do hospital. É o Estado e a Coordenadoria chamando o hospital para que ele possa ser uma solução. Então vamos colocar o valor na mesa e quem quer o serviço, que pague por ele. É uma negociação que hospital e Prefeitura não vão abrir mão. Para isso, queremos o repasse mensal garantido”, destaca o administrador do HSSM, Luís Fernando Siqueira.
Conforme Siqueira, uma UTI Pediátrica é considerada um serviço deficitário, pois nem sempre está com 100% da capacidade. “O mais difícil não é o investimento, mas sim a manutenção do serviço. Estamos finalizando o projeto de investimentos, como reboco, fiação, climatização, e ainda precisamos terminar a questão de custeio pessoal e de equipamentos, para apresentar ao Estado.”
Para deixar a UTI pronta, com 10 leitos como é a proposta (já que o valor pago ao médico é o mesmo para 10 leitos ou apenas um, por exemplo), seriam cerca de R$ 3 milhões. Quanto à manutenção, só em custos fixos (que independe da ocupação), o valor chega a R$ 300 mil por mês.
Interesse
Ainda que a questão financeira possa ser um complicador, Siqueira acredita que haverá um esforço do Estado para instalar a UTI Pediátrica em Venâncio. “Como na macrorregião há a escassez de leitos e Venâncio não concorre com outras cidades, acredito que haverá o interesse e de uma convergência nas forças para essa UTI sair.”
Ao encontro disso, o prefeito Jarbas da Rosa entende que o movimento será importante para a rede de saúde do município. “Atualmente Venâncio tem como referência no atendimento pediátrico Porto Alegre, exigindo um deslocamento grande de crianças e famílias. A macrorregião também é carente e Venâncio sediar, além disso, o atendimento de alta complexidade, será importante para a rede de saúde e, para o hospital, atraindo profissionais e qualificando o atendimento.”
Ainda, conforme o prefeito, com atuais dois leitos de UTI Pediátrica na macrorregião que inclui Santa Cruz, Lajeado e Cachoeira do Sul (cerca de 1 milhão de habitantes), o Estado deve agilizar o processo. “O Estado tem a necessidade de resolver essa carência para uma região muito grande e tem o interesse político, já que ano que vem tem eleição. A secretaria estadual nos passou que quer ter tudo pronto em seis meses.”
A localização entre os vales do Taquari e Rio Pardo, a proximidade com Porto Alegre e um prédio disponível, foi o que despertou o interesse em Venâncio. “Estamos apoiando o projeto, mas também é o momento de negociar”, destacou Jarbas da Rosa.
Fechamento
O Hospital Bruno Born de Lajeado encerrou nesta quarta-feira, 30, as atividades da UTI Pediátrica. Isso aconteceu porque ela operava de forma ‘mista’ com a unidade Neonatal, o que é considerado irregular de acordo com o Ministério da Saúde. Desde 2010, uma resolução impede o funcionamento das duas UTIs num ambiente compartilhado, alegando risco de infecção cruzada.
Como Lajeado passa a contar só com leitos neonatais, por enquanto, o hospital mais próximo na região é o Santa Cruz, que tem dois leitos pediátricos funcionando junto da UTI para recém-nascidos. O município do Vale do Rio Pardo também tende a fechar sua unidade.
No entanto, segundo a coordenadora da 13ª Coordenadoria Regional de Saúde, Mariluci Reis, a mudança ocorrerá quando a UTI Pediátrica de Venâncio Aires estiver funcionando. “De qualquer forma, até lá, nenhuma criança ficará desassistida, porque todas entram para a central de regulação do Estado”, destacou.
Nesse sentido, o prefeito Jarbas reiterou que a referência local já era outra, apesar da proximidade dos municípios. “Nossa referência para pediatria é Porto Alegre. Se fechar os dois leitos pediátricos em Santa Cruz, afetaria mais diretamente os pacientes de lá.”
UTI Neonatal em ‘stand by’
Apesar de uma campanha comunitária solicitar uma UTI Neonatal há mais de dois anos, a direção do hospital, a Administração Municipal e a 13ª Coordenadoria Regional de Saúde entendem que, no momento, o projeto não é viável, especialmente por Venâncio não contar com maternidade de alto risco, nem profissionais habilitados para atuação. “Segue parado o projeto, devido à dificuldade de recursos e por causa da pandemia. E com as mudanças a partir de agora, acredito que será difícil, neste momento, uma UTI Neonatal aqui”, disse o presidente do HSSM, Luciano Spies.
As mudanças às quais ele se refere dizem respeito à ampliação de leitos de UTI Neonatal em Santa Cruz e Lajeado (cinco em cada). “O que antes era carência, vai se resolver na região. Com isso, a prioridade acabará sendo a pediátrica, por isso Venâncio foi procurada.”
Recursos
Mesmo que a pediatria seja a prioridade, a UTI Neonatal não será descartada e os recursos levantados desde o lançamento da campanha ‘Envolva-se’, no fim de 2018, seguem guardados. No caixa da Associação pró-UTI Neonatal, são cerca de R$ 100 mil, doados pela comunidade.
Além disso, há os R$ 2 milhões de emendas parlamentares destinadas para a campanha. Mas, R$ 1,15 milhão foi usado pelo hospital, como uma especie de empréstimo, para ajudar na recuperação financeira da instituição. Os R$ 800 mil restantes acabaram no orçamento municipal.
Quanto aos R$ 400 mil de emendas impositivas da bancada do PTB da Câmara de Vereadores, também destinados ao projeto, o recurso será usado para a construção de uma rampa de acesso às UTIs. “O recurso fica guardado até a aprovação do projeto pelos bombeiros, daí vamos tocar a obra. Ela é crucial para a UTI Neo e para todos os outros andares também”, revelou Luciano Spies.
A rampa dará acesso aos quatro andares do prédio onde está a UTI Adulto. Sobre ela, nos pavimentos superiores, podem ser instaladas as UTIs Neonatal, Pediátrica e ainda o Administrativo.
Readequação
Cristiane Wickert, presidente da associação, entende que o projeto da UTI Neonatal deve ser readequado, para possibilitar que Venâncio tenha uma unidade. “Precisa de uma adequação, então, que possibilite as duas unidades. Mas a mobilização pela Neonatal deve ser mantida, porque foi algo que a comunidade quis e acreditou, devido à necessidade. Se não fosse a pandemia, boa parte da estrutura já estaria pronta.”