Marlise Bogorni Diettrich, 53 anos, após ser convencida pelo neto de 5 anos, procurou ajuda na rede pública para conseguir parar de fumar. Ela, quese desfez da última carteira de cigarros e também de todos os cinzeiros, fumava desde os 14 anos e decidiu abandonar o vício no dia 2 de maio.
Hoje é lembrado o Dia Mundial Sem Tabaco e a moradora do bairro Santa Tecla é um dos exemplos de luta contra o vício do cigarro. Ela integra um dos grupos do Programa Nacional de Controle do Tabagismo. O serviço é disponibilizado junto ao Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD) de Venâncio Aires.
Para quem participa dos grupos, além do sentimento comum de satisfação, está uma característica fundamental para o sucesso do tratamento: a determinação. “Tô decidida e vai dar certo. Nunca mais quero fumar”, declarou Marlise em entrevista à reportagem de Folha do Mate. “Meu neto de tanto insistir, conseguiu me convencer. Ele chegou a prometer uma caixa de bombons por mês”, relata, orgulhosa, a avó do pequeno João Victor.
Quando ela recebeu a reportagem da Folha, ela mateava na cozinha. “Parar de fumar é acima de tudo uma mudança de hábito. Hoje o chimarrão é meu companheiro. Também voltei a ler e a olhar mais filmes na Netflix”, refletiu Marlise entre uma cuia e outra. A decisão é um misto de vaidade e preocupação com saúde. Há a dependência química, mas também há a dependência emocional. “A gente fuma e come as nossas emoções. Parar de fumar é restabelecer um diálogo com as próprias emoções”, destaca.
FINANCEIRO
Para manter o vício, Marlise foi contra recomendações médicas. Ela sofreu em 2013 dois acidentes vasculares cerebrais. Estava com o lado esquerdo do corpo totalmente imobilizado, mas com força de vontade e muito exercício recuperou todos os movimentos. “Fumava pelo menos duas carteiras e meia por dia. Gastava com isso cerca de R$ 250 por mês”, reflete.
Para contribuir com a decisão de parar de fumar, ela também fez uma lista com motivos convincentes que reforçaram a atitude. “Causa mau hálito, alterações no paladar e no olfato, literalmente queima dinheiro, polui, prejudica quem não fuma e não tem nada a ver com teu vício.”
Lista de espera para iniciar o tratamento
Todo o tratamento para o fumante começa com a vontade de parar de fumar. O segundo passo, após esta decisão, pode ser dado em um grupo de tratamento e controle de tabagismo oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em Venâncio Aires, o serviço é disponibilizado junto ao Centro de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD).
É no local que pessoas dispostas a pararem de fumar se reúnem em grupo para discutir formas de lidar com a abstinência da nicotina, compartilhar experiências e, claro, a evolução longe do cigarro. “Não precisa encaminhamento médico. É só ter motivação, vontade de parar de fumar e se inscrever”, afirma a enfermeira e coordenadora do Caps AD, Patrícia Antoni.
“Os feedbacks são muitos bons e quem faz esse tratamento tem muitas chances de ficar sem fumar.”
PATRÍCIA ANTONI, enfermeira e coordenadora do Caps AD
Segundo ela, de 2016 até o momento, já são 13 grupos que concluíram o tratamento que dura, em média, três meses. O primeiro mês consiste em quatro reuniões semanais e consecutivas e depois, mais dois meses de tratamento, em casa. O tratamento também inclui a prescrição de um medicamento antidepressivo e de adesivos transdérmicos de nicotina que são colados na pele. “É importante esclarecer que o tratamento é pensado individualizado, tudo é fracionado, dependendo de cada caso”, explica a profissional.
Ontem, a unidade encerrou os encontros semanais com o 13º grupo, mas outros 46 nomes já estão em uma lista de espera, aguardando a avaliação para integrar o novo grupo, previsto para ser iniciado em julho.
Trata-se de uma terapia cognitivo-comportamental com a participação de, no máximo, 30 pessoas em cada grupo. O trabalho é conduzido por ela e a psicóloga Solange Simon.