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O setor do tabaco acompanha com preocupação a decisão dos Estados Unidos (Foto: Felipe Krause/Pixel18dezoito Tabaco)

Repercute na economia brasileira o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos. Segundo Trump, as tarifas passam a valer a partir do dia 1º de agosto.

Entre os setores que mais devem ser mais impactados com a medida está o tabaco, que acompanha com preocupação a decisão. O país norte-americano é o terceiro maior destino em volume e valor de negócios internacionais. A medida, segundo o setor, pode comprometer a competitividade do tabaco brasileiro, principal produto de exportação da região do Vale do Rio Pardo.

Para Venâncio, não é diferente. Os Estados Unidos foram, no primeiro semestre deste ano, o terceiro principal destino das exportações do município. De janeiro a junho, as exportações para o país movimentaram US$ 35.920.768 milhões, atrás da Bélgica e China, que lidera a ranking. O maior volume deste total é referente às exportações de tabaco.

Para o presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), Valmor Thesing, o momento exige responsabilidade e equilíbrio. “A taxação cria uma situação bastante complexa, mas acreditamos no diálogo e em uma saída diplomática, porque ninguém está ganhando com isso, nem os Estados Unidos, nem o Brasil”, afirma.

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio mostram que, de janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 19 mil toneladas de tabaco aos Estados Unidos, gerando US$ 129 milhões em receita. No acumulado de 2024, foram 39,8 mil toneladas e US$ 255 milhões em vendas externas para o país. Isso representa cerca de 9% das exportações totais brasileiras do setor, que alcançam, em média, 500 mil toneladas por ano para mais de 100 países.

Segundo Thesing, no início de 2025, o tabaco brasileiro pagava uma tarifa média de US$ 0,375 por quilo para entrar nos EUA. Esse valor foi acrescido em 10% em abril, no primeiro anúncio feito pelo presidente Donald Trump. Agora, com o adicional de 50%, a competitividade do produto brasileiro no mercado norte-americano fica ameaçada. “Se mantida, possivelmente, o Brasil não será mais competitivo para o mercado norte-americano. Agora, se olharmos por outra ótica, há uma demanda mundial muito grande de tabaco, e é muito provável que o produto seja remanejado para outros destinos”, ressalta Thesing.

Para Valmor Thesing, presidente do Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SindiTabaco), o momento exige responsabilidade e equilíbrio (Foto: Felipe Krause/Pixel18dezoito)

Apesar da preocupação, o setor mantém uma visão cautelosa. Pesquisa da Deloitte divulgada recentemente projeta um crescimento nas exportações brasileiras de tabaco em 2025, com aumento entre 10,1% e 15% tanto em volume quanto em valor. Para Thesing, esse cenário reforça a confiança de que o impacto da tarifa, caso não seja revertida, poderá ser absorvido pela diversificação dos mercados de destino. “De todo modo, o setor está atento, mobilizado e confiante de que a diplomacia buscará uma solução antes da entrada em vigor da tarifa, prevista para o dia 1º de agosto”, completa.

Impacto em todo RS

Os Estados Unidos são um parceiro comercial estratégico para o Rio Grande do Sul, sendo o segundo maior destino das exportações gaúchas (8,22% do total exportado em 2024) e o terceiro país nas importações do Rio Grande do Sul (10,7%).

O presidente do Sistema FIERGS, Claudio Bier, defende que negociação e mediação é o principal caminho diante de medidas comerciais prometidas pelos Estados Unidos contra o Brasil. “A importância dos Estados Unidos é gigantesca para nós. Exportamos muito fumo, madeira, calçados, celulose. Essas tarifas nos atingem diretamente. Por isso, nossa posição é pela mediação para a solução do impasse comercial”, destaca Bier.
Desde o anúncio do governo dos EUA, o presidente está em contato com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e dirigentes das demais federações industriais para que juntem esforços em favor da negociação. “Temos de intermediar essa relação, porque se ficar como está, será muito ruim para todo o Brasil, para todas as indústrias e para todo o comércio. É hora de ter calma e negociar, com toda a força da indústria brasileira unida, para superarmos o impasse que está criado”, reforça.

Assim como a CNI, o Sistema FIERGS entende que não há fato econômico que justifique a elevação das tarifas, que ameaça a competitividade das aproximadamente 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA. Há muitos anos, a balança comercial entre os dois países é superavitária para o lado norte-americano. Na visão de Bier, se mantida, a mudança ameaça empregos e a operação de muitas indústrias.
“Acredito que o presidente Trump não venha a exercer esses 50% anunciados. Em casos parecidos com outros países, ele acabou negociando. Por isso, o caminho é a mediação, a conciliação”, pontua Bier.

*Com informações da Assessoria de Comunicação do SindiTabaco e Fiergs