Foto: Alan Faleiro / Folha do MateGabriela cita que nove em cada dez suicídios podem ser evitados
Gabriela cita que nove em cada dez suicídios podem ser evitados

Setembro é o mês da conscientização sobre a prevenção do suicídio, em que o objetivo direto é alertar a população a respeito desta realidade e das formas de prevenção. Chamada Setembro Amarelo, a campanha internacional ocorre desde 2014 por meio de identificação de locais públicos e particulares com a cor amarela e ampla divulgação de informações.

Esta temática tem forte relação com Venâncio Aires, uma vez que o município ficou conhecido como “Capital do Suicídio” na década de 90, em função do seu elevado número de casos. Reportagem da revista Globo Ciência (atualmente chamada Galileu), de novembro de 1996, citava Venâncio Aires como recordista mundial de suicídios. O texto informava que, em 1995, foram 37,2 casos para cada 100 mil habitantes, contra os 8,1 do Rio Grande do Sul, os 3,2 do Brasil e os 35,9 registrados em 1993 na Hungria, o país que colecionava os maiores números nessa cruel estatística.

órgãos de saúde pública locais desconhecem a posição atual de Venâncio Aires no ranking dos municípios brasileiros com maior número de casos, mas sabe-se que os índices seguem elevados e são motivo de preocupação. Segundo dados repassados pelo Município e o Estado, Venâncio Aires registrou 74 casos de 2011 a 2015. Destes, 14 foram no ano passado e 17 em 2014.

Para auxiliar na prevenção, a Folha do Mate dá início, hoje, a uma série de reportagens sobre o tema que apresenta a realidade local, os serviços de apoio disponíveis à população e, entre outras coisas, a importância da informação para salvar vidas.

PODE SER EVITADO

Segundo a psicóloga Gabriela Geara, que atua junto ao Centro de Atenção Psicossocial (Caps) II de Venâncio Aires, é preciso entender que o suicídio é algo que pode ser evitado. “é uma situação de desespero, muitas vezes relacionada a um transtorno mental. Então, nós precisamos entender que o transtorno mental não é frescura, não é bobagem e que o suicídio, realmente, pode ser evitado, que existem medicações que podem ajudar na depressão e outros fatores que aumentam a chance de uma pessoa se suicidar.”

De acordo com Gabriela, estimativas apontam que nove em cada dez casos podem ser evitados e cita que os pacientes em tratamento no Caps têm um índice relativamente baixo de suicídio, apesar de todo o sofrimento que envolve os pacientes. “Entender que a vontade de se matar é uma questão de saúde é importante para que as pessoas busquem ajuda. Se elas estão bem informadas em relação ao que é o suicídio, elas conseguem entender e aí também se informar sobre como buscar ajuda.” Diante disso, a psicóloga menciona que os profissionais de saúde conseguem fazer uso de diversos dispositivos que praticamente impedem a pessoa de cometer o suicídio. “Nós cercamos elas de cuidados.”

Na matéria da edição de amanhã, será apresentado o serviço de atendimento do município para quem precisa deste tipo de ajuda.

Uma história de vida marcada por tentativas de suicídio

Oito tentativas de suicídio marcam a história de Joana*, 32 anos. Entre os vários fatores que a levaram a tentar se matar, destaca um abuso sexual sofrido na infância e que impacta até hoje na sua vida, o que se soma a um transtorno de personalidade que faz dela uma pessoa mais propensa ao suicídio.

Atualmente, Joana menciona que passa por um dos momentos de maior estabilidade emocional da sua vida, graças ao acompanhamento que tem junto ao Caps. Ela cita que nunca foi fácil encarar as pessoas após as tentativas de suicídio, uma vez que o sentimento das pessoas mais próximas foi de incompreensão. “As pessoas não entendem, acham que é para chamar a atenção, acham que é frescura.”

Mãe de Mateus, de oito anos, Joana tem aprendido a enxergar no filho um motivo para seguir em frente. “Eu aprendi que é melhor enfrentar a situação do que tentar o suicídio.” Passou a entender que todos têm dias difíceis: “Todo mundo sofre, todo mundo passa por dificuldades, alguns mais e outros menos, mas todo mundo passa por isso e eu não sou a única e, por eu não ser a única, a minha atitude não precisa ser tão drástica”.

Ela acrescenta que a falta de informação faz com que as pessoas não consigam ajudar da forma que poderiam. “A crítica afasta muito mais do que aproxima. Afastando, uma nova tentativa é muito mais provável.”

Atualmente, Joana trabalha na área em que se formou e é adepta da arteterapia, um refúgio para os momentos de crise.“Eu acho extremamente importante as pessoas buscarem algo que lhes faça bem. Eu descobri na arte um refúgio, mas as pessoas podem descobrir no esporte, na leitura, na música…”

*Nomes e idades foram alterados para preservar as fontes

 >>> Mateada

Para marcar o Setembro Amarelo, a equipe do Caps II vai vestir a cor do mês da prevenção e realizar mateada de conscientização no dia 10 de setembro, das 9h às 12h, na Praça Central. Haverá distribuição de folders e laços amarelos, exposição de artesanato, realização de atividade físicas e apresentação do grupo de música do Caps.