Foto: Carlos Dickow / Folha do MateEderson da Rosa (e), Roni Bartholdy e Rafael Silva, ontem à tarde, em obra no bairro Santa Tecla
Ederson da Rosa (e), Roni Bartholdy e Rafael Silva, ontem à tarde, em obra no bairro Santa Tecla

O dia de ontem foi mais um daqueles com ‘sol de rachar’, como costumamos dizer. Confirmando as previsões, a temperatura em Venâncio Aires variou entre os 25 graus – quando o sol ainda nem tinha dado as caras – e 40 graus, à tarde. Quem não teve compromisso, pôde ficar em casa, aproveitando o ar-condicionado ou, pelo menos, se defendendo com o ventilador. Sombras de árvores também eram espaços disputados, uma vez que a sensação térmica atingiu os 43 graus, de acordo com os sites de meteorologia.

Com o sol ‘ardendo’, os comentários em relação ao sufocamento, suor incontrolável e preguiça para a realização de qualquer atividade foram frequentes, tanto nas ruas quanto nas redes sociais. Ir para a piscina foi a saída para alguns, para outros restou a opção da água gelada. Para hoje, a temperatura deve ter oscilação parecida com a de ontem, mas a novidade pode ser a ocorrência de chuva isolada, em pouco volume, se ocorrer.

Provavelmente, poucas pessoas sentiram tanto o calorão de ontem quanto os trabalhadores Ederson da Rosa, 33, Roni Bartholdy, 42, e Rafael Silva, 25, que passaram todo dia em uma obra, no bairro Santa Tecla. Como estão se aproximando da fase de cobrir a residência em construção – colocação do telhado -, eles ficam na parte de cima da obra, expostos ao sol. “Tem que beber bastante água, o dia todo, e também se proteger com um filtro solar. Se a gente não se cuida num dia, não trabalha no outro”, disse Bartholdy.

Ao mesmo tempo que a produção rende, o rigor do sol ameaça. Os trabalhadores sabem que têm de tomar cuidados diários para garantir o andamento da construção e, especialmente, a saúde. “Quando a temperatura sobe desse jeito, a gente procura sair do ‘olho do sol’ em alguns momentos, para não sofrer queimaduras ou até mesmo ficar sujeito a um mal-estar”, alertou Rosa. Mais jovem dos três, Silva segue as dicas dos mais experientes: “Não dá pra marcar bobeira. Tem que trabalhar tomando estes cuidados”.

Ederson da Rosa, Roni Bartholdy e Rafael Silva afirmaram que já passaram por dias de sensação térmica maior do que a de ontem, mas concordaram que o sol, para quem não está acostumado a atividades como a deles, estava insuportável.

Foto: Carlos Dickow / Folha do MateJoão Carlos dos Santos, o João Paraná, ouve a vendedora Maiquele Watte sobre as características do ventilador que foi comprar
João Paraná, ouve a vendedora Maiquele Watte sobre as características do ventilador que foi comprar

Bom pra uns, ruim pra outros

Foto: Carlos Dickow / Folha do MatePai e filho, Josemar e João Vinícius instalam entre quatro e cinco condicionadores de ar por dia nesta época do ano
Pai e filho, Josemar e João Vinícius instalam entre quatro e cinco condicionadores de ar por dia nesta época do ano

O calorão, além de mexer com a disposição das pessoas, influencia nas atividades comerciais. O instalador de condicionadores de ar, Josemar Antônio da Silva, 48, que trabalha com ajuda do filho, João Vinícius da Silva, 16, comentou que nesta época do ano os contatos de clientes “não param de chegar”. Pai e filho instalam de três a quatro condicionadores por dia no verão, triplicando a média das outras épocas do ano. Em outras estações o serviço só não cai ainda mais porque eles prestam serviço para uma loja. Cada instalação, informou Silva, sai entre R$ 200 e R$ 250, dependendo do lugar onde será feita.

No comércio, a procura por condicionadores de ar e ventiladores disparou nestes dias de calorão. Cenas de vendedores mostrando os produtos aos clientes são bastante comuns, basta dar uma volta pela região central para confirmar. João Carlos dos Santos, popularmente conhecido como João Paraná, foi às compras ontem à tarde. A reportagem da Folha do Mate registrou o momento em que ele analisava o preço de ventilador, que estava sendo apresentado pela vendedora Maiquele Watte. “Estragou um meu lá em casa e, como a gente recebe muita visita, não dá pra deixar o pessoal sem um ventinho, pelo menos”, brincou. Para Maiquele, o calorão também reflete nas vendas e, claro, nas comissões.

ABACAXI – Há quem não se agrade das altas temperaturas, uma vez que os produtos que oferecem deixam de ser tão atrativos no calorão. César Silveira, 22, é vendedor de abacaxis. Ele costuma vir de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, para Venâncio Aires, e ficar perto de acessos a agências bancárias. Em dias de 25 graus, comercializa entre 150 e 200 unidades da fruta – valor de R$ 20 por quatro ou cinco abacaxis, dependendo do tamanho. Quando o sol está mais forte, vende no máximo 100 unidades. “Em dias quentes como hoje (ontem), as pessoas saem de casa e não têm tanta paciência para provar e, depois, comprar. Todo mundo que precisa sair faz logo suas coisas e quer voltar pra casa”, esclareceu, acrescentando que no calorão, mesmo à sombra, é difícil manter a fruta refrescante.

“Tenho instalado, pelo menos, um ar-condicionado de manhã e outros dois à tarde. Se apertar, dá pra fazer mais uma instalação, mas isso não tem sido frequente. Também chega a nossa hora de ir para o ar-condicionado, porque o sol está violento.”JOSEMAR ANTÔNIO DA SILVAInstalador de condicionadores de ar

E a saúde, como fica?

Em tempos de altas de temperaturas, é preciso ficar atento a algumas questões relacionadas à saúde. Curiosamente, o verão também é uma época de doenças respiratórias e, segundo a médica Ana Amélia Maciel, os problemas não ficam restritos ao inverno. “É bastante comum, até porque o clima é muito seco em Venâncio. A isso se soma as horas dentro de ambientes fechados, com ar-condicionado”, explicou.

Sobre condicionadores de ar, aliás, a médica alerta para uma situação corriqueira: sair de um ambiente refrigerado para o calorão da rua e vice-versa. Conforme Ana Amélia, o problema não é necessariamente as trocas constantes, mas em quais situações elas acontecem. “A questão do ‘choque térmico’ são os extremos mesmo. Se sair de um ambiente que está 17 graus para outro com 40, pode ser prejudicial. O corpo precisa de um tempo para se adaptar. Quem tem pressão baixa, por exemplo, tende a ser mais suscetível.”

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do MateSombrinha é um item muito utilizado para ser proteger do sol
Sombrinha é um item muito utilizado para ser proteger do sol

DICAS

• Beber muita água (aqueles dois litros mínimos já conhecidos da maioria, mas pode ser mais). E aqui não contam chás, nem chimarrão. Se possível, beber água filtrada ou fervida, para evitar viroses.

• Evitar exposição ao sol em determinados períodos. Para quem trabalha ou mesmo que precisa estar na rua nos horários de sol a pico, a sugestão é o protetor solar, chapéus, bonés, sombrinhas e óculos de sol.

• Consumir alimentos leves e evitar aqueles com muito açúcar, já que isso também baixa a imunidade.

• Para evitar infecções fúngicas, a dica é não ficar muito tempo com roupas de banho molhadas.

Foto: Alvaro Pegoraro / Folha do MatePiscina foi uma das opções para se refrescar na tarde de ontem
Piscina foi uma das opções para se refrescar na tarde de ontem