Cresce a pressão por medidas urgentes, que garantam mais segurança nos desvios (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)
Cresce a pressão por medidas urgentes, que garantam mais segurança nos desvios (Foto: Alvaro Pegoraro/Folha do Mate)

A morte de Cristiano Crippa Vogt, de 45 anos, na noite de sábado, 4, em um dos desvios da RSC-287, em Venâncio Aires, reacendeu as cobranças por medidas urgentes no trecho da rodovia que fica no território da Capital Nacional do Chimarrão. Mais do que simples críticas em redes sociais à Rota de Santa Maria – responsável pela administração e duplicação do trecho de 204 quilômetros entre Tabaí e Santa Maria -, a fatalidade gerou comoção e indignação na comunidade e também nas lideranças e autoridades locais.

A Câmara de Vereadores decidiu fazer um ‘pedido de socorro’ formal à Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (Agergs), órgão responsável pela fiscalização de serviços como a concessão da RSC-287. “Estamos reivindicando atenção urgente para os pontos que foram rompidos na catástrofe climática de maio de 2024 e onde estão os desvios. Venâncio Aires tem, sem sombra de dúvidas, os trechos mais perigosos da rodovia neste momento. Precisamos de ações concretas, para evitar que mais pessoas percam as suas vidas”, argumentou o presidente Dudu Luft (PDT).

De acordo com ele, todos os vereadores assinaram o documento que foi enviado à Agergs e esperam uma resposta célere, seguida de ações efetivas que possam aumentar a segurança dos usuários. “Os representantes da Rota de Santa Maria vieram na Câmara e mentiram pra nós que projetos teriam sido protocolados junto à Secretaria de Reconstrução Gaúcha, o que depois soubemos que não era verdade. A gente alertou que o pior poderia acontecer nos desvios, e realmente aconteceu. Tivemos a perda de uma vida naquele trecho e parece que ninguém está preocupado com isso. Vamos cobrar o tempo que for preciso”, disse.

Posição oficial

De acordo com a Rota de Santa Maria, concessionária responsável pela RSC-287 entre Tabaí e Santa Maria, o projeto executivo de reconstrução definitiva da rodovia no trecho com desvios, na localidade de Vila Estância Nova, no interior de Venâncio Aires, está em elaboração, considerando as últimas solicitações do poder concedente – leia-se Governo do Estado -, com o objetivo de garantir que as obras atendam aos mais elevados padrões de segurança, qualidade e resiliência climática.

A entrega do projeto chegou a ser anunciada com prazo até o fim de setembro pelo gerente socioambiental da Rota de Santa Maria, César Cruvinel, em reunião do Comitê Permanente de Acompanhamento das Obras da RSC-287, realizada no dia 16 de setembro, na Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul. Estiveram presentes no encontro o prefeito Jarbas da Rosa, a secretária de Planejamento e Urbanismo, Deizimara Souza, e também o deputado estadual Airton Artus.

No entanto, no dia 2 de setembro, o governador Eduardo Leite e o diretor da concessionária, Leandro Conterato, afirmaram, durante a inauguração dos primeiros quilômetros de duplicação, em Santa Cruz do Sul, que o projeto seria entregue em até dois meses – prazo que se encerra em novembro.

Contatada pela redação integrada de Folha do Mate e Terra FM, a assessoria de imprensa da Secretaria da Reconstrução Gaúcha, que será a responsável por avaliar o projeto, afirmou que o conteúdo ainda não chegou para a pasta. “Nenhuma novidade”, informou a nota. O trecho contará com uma cota mais elevada (dois metros), pontes secas, sistema de drenagem mais eficiente e com materiais de maior resistência.

“Sou morador da região onde ficam os desvios e tenho certeza que, se medidas de urgência não forem tomadas, outras fatalidades vão acontecer. É o trecho mais perigoso de toda a extensão da RSC-287. É um descaso com Venâncio Aires e com a nossa gente. Não querem dar esclarecimentos nem prestar informações.”

DUDU LUFT – Presidente da Câmara de Vereadores

Excesso de velocidade é um dos vilões

  • Ontem, a reportagem foi a campo verificar o tráfego e as condições da rodovia, entre os quilômetros 57 e 60 da RSC-287, na localidade de Linha Picada Mariante, onde foram feitos os desvios. O trânsito é intenso e se verifica que boa parte dos condutores não respeita os limites de velocidade no trecho, que é de 40 quilômetros por hora.
  • As marcas de frenagem na pista comprovam a imprudência da maioria dos condutores, principalmente os de veículos pesados. Eles saem de uma rodovia onde a velocidade máxima permitida é de 80 quilômetros por hora e desrespeitam a determinação de reduzir a velocidade pela metade, pois nos desvios a pista é estreita e sem acostamento.
  • É comum ver os caminhões e carretas ‘cortarem’ as curvas nos desvios. Tanto pelo excesso de velocidade, quanto porque a pista é muito estreita.

Comunidade reclama das más condições

“Não foi por falta de aviso. O Governo do Estado tinha sido alertado sobre esses riscos, a empresa [Rota de Santa Maria] também. Agora, eu espero que eles tomem alguma providência. Infelizmente, teve que acontecer uma tragédia para que eles tivessem a iniciativa de começar ou, pelo menos, melhorar um pouco a segurança. Do jeito que está, não tem como”. A manifestação do deputado estadual Airton Artus (PDT), durante participação no programa jornalístico Folha 105 – 1ª Edição, da Rádio Terra FM, na terça-feira, 7, é um bom termômetro do sentimento da comunidade em relação à morte registrada no último sábado, 4, nos desvios da RSC-287.

O parlamentar endossou o que pensam muitas das pessoas que moram na região e precisam transitar pelo trecho frequentemente. Uma delas é Jaqueline Garcia, de 28 anos, proprietária da Agropecuária Paraíso, sediada às margens da rodovia, no 9º Distrito, distante cerca de sete quilômetros do primeiro desvio no sentido Venâncio Aires – Porto Alegre. Em entrevista à Terra FM, ela, que mora em Vila Mariante, contou que chega a passar pelo trecho até cinco vezes por dia. “É um desafio bem grande. Principalmente porque passa muito veículo pesado”, disse.

Segundo Jaqueline, é muito comum que veículos, em geral carros leves, saiam da pista e caiam nos barrancos – nem sempre ferindo o motorista. “Esta preocupação de acidentes nestes locais sempre foi uma reivindicação nossa, e a gente vai continuar nas próximas audiências públicas exigindo o cronograma e que as obras comecem o mais rápido possível. É, sim, um dos trechos mais perigosos da RSC-287, desde o evento climático de 2024”, afirmou o prefeito Jarbas da Rosa.

Relatos

  • A empresária Jaqueline Garcia também destacou a deficiência na sinalização como uma das principais problemáticas. “Com certeza poderia melhorar. Até fizeram uma pintura nova semana passada, mas principalmente de noite falta a sinalização”, avaliou.
  • Também ouvido pela reportagem, um homem, que optou por não se identificar, residente em Vila Estância Nova, contou que, para os motoristas de veículos pesados, a situação é ainda mais complicada. “Os caminheiros falam que, quando vem um caminhão grande, eles têm que parar e esperar passar. Outra vez, um raspou no outro e chegou a rasgar o baú do caminhão”, lembrou.