Às 10h40min de 24 de julho, quando Sarah dos Santos Maciel nasceu, os pais Jaqueline dos Santos Maciel, 35 anos, e Ademir Fontoura Maciel, 52 anos, tiveram certeza de que cada uma das 241 injeções realizadas, ao longo da gestação, tinha valido a pena. “Falar da nossa filha é falar de Deus”, emociona-se Maciel.
Mais do que “um sonho realizado e um presente de Deus”, como define Jaqueline, o nascimento de Sarah foi possível graças a informações e ao tratamento adequado para uma condição que já havia interrompido três gestações anteriores de Jaqueline: a trombofilia.
Ela já estava quase desistindo do sonho de ser mãe quando se agarrou ao último fio de esperança e, por orientação de uma amiga, consultou com um médico em Porto Alegre. Após exames, foi diagnosticada com trombofilia.
A ginecologista e obstetra Adriana Martins explica que a trombofilia é considerada uma propensão a desenvolver trombose – surgimento de coágulos sanguíneos em alguma parte do corpo. “Não se trata de uma doença, mas de uma condição que pode ter diferentes causas, que podem ser hereditárias ou ligadas a fatores genéticos, assim como pode ser causada por distúrbios adquiridos, que tipicamente se manifestam previamente à gravidez, mas que também podem surgir no início da gestação”, afirma.
A obstrução de veias e artérias, por conta dos coágulos de sangue, pode provocar desde inchaço e alterações na pele até o desprendimento da placenta, pré-eclâmpsia, restrição no crescimento do feto, parto prematuro e aborto. Segundo a obstetra, a exemplo de Jaqueline, na maioria dos casos, a trombofilia não apresenta sintomas e é diagnosticada somente após ocorrência de aborto, óbito fetal ou outro transtorno na gestação.
“A trombofilia é uma propensão a desenvolver trombose devido a determinados transtornos de coagulação do sangue e, por isso, não existe cura. Mas, fazendo o acompanhamento adequado e tratamento caso haja necessidade, é possível evitar complicações na gravidez.”ADRIANA MARTINSGINECOLOGISTA E OBSTETRA
TRATAMENTOAdriana explica que o tratamento ocorre por meio de medicamentos anticoagulantes que vão desde o AAS infantil até uso de anticoagulantes injetáveis subcutâneos. O tratamento de Jaqueline ocorreu com injeções diárias de enoxaparina – medicação fornecida pelo Estado e conquistada, via judicial, por meio de pedido encaminhado via Defensoria Pública.
Jaqueline e o marido comentam que a busca de auxílio da Defensoria ocorreu em função do alto custo das injeções. “O processo foi muito rápido, e queremos ressaltar todo o apoio e orientação que tivemos da Prefeitura e da Secretaria de Saúde, por onde passa o laudo médico requerendo as injeções. Muita gente ajudou e nos apoiou para que pudéssemos ter esse sonho realizado”, enfatiza Maciel.
Jaqueline também destaca a atenção e o cuidado da equipe da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde ia, diariamente, realizar as aplicações do medicamento. “Sem essas injeções, a Sarah não estaria aqui.”
SAIBA MAISAs injeções de enoxaparina não integram a relação de medicamentos disponibilizados pela Farmácia Municipal, mas o tratamento é fornecido pelo Estado e entregue na Farmácia, a partir de demandas judiciais, que podem ser encaminhadas pela Defensoria Pública.
Segundo a defensora Luciana Artus Schneider, de modo geral, há requisito de três salários mínimos de renda familiar, para atendimento na Defensoria, mas existem diversas exceções, motivo pelo qual essa triagem é feita somente durante do atendimento.
A Defensoria Pública de Venâncio Aires está localizada na Conde D’Eu, 2036, no bairro Cruzeiro, e funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h e das 13h às 18h.
