Um novo momento para a Associação Négo de Venâncio Aires

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Com quase 90 anos de história, a Associação Négo Foot Ball Club de Venâncio Aires passa por um processo de reestruturação. Desde o início do ano, integrantes e uma nova diretoria se mobilizam para reerguer o tradicional clube negro da Capital do Chimarrão e voltar com a realização de eventos diversos no local.

Com forte presença no Carnaval, neste ano a Acadêmicos do Samba Négo não participou da festa da folia. A atual presidente Maria Elisete Ferreira, afirma que uma das reivindicações era a necessidade de movimentação do clube durante o ano. “Passava o Carnaval e mais nada era feito.” Ela alega que em 2024, no aniversário do clube, nada especial foi feito, e de forma independente, integrantes se mobilizaram para um ‘parabéns a você’ em frente a sede. “Os sócios não queriam que seguisse assim”, desabafa. Em janeiro foi realizada uma conversa com a diretoria, com a necessidade de eleição de um novo vice-presidente e foi criado também o conselho fiscal.

Ao mesmo tempo, Maria Elisete conta que um grupo independente de integrantes, sócios antigos e ex-presidentes se reuniram para mobilizar a reconstrução do clube, que teve o quadro de sócios reativado em setembro de 2024. Em 19 de março o atual presidente Flávio Fernando dos Santos Fagundes renunciou o cargo e para assumir e liderar a entidade e Elisete e Cláudio se candidataram.

Ainda em março foi iniciada a reorganização do Négo, na parte burocrática e também com a movimentação de eventos. “Mesmo que em eventos pequenos, fomos abrindo as portas da entidade, movimentando a copa”, explica a presidente. Nos sábados, almoços são realizados e o espaço é aberto para que novos sócios possam se inscrever. Na Páscoa o evento Pagode da Diretoria também foi realizado, em parceria com bandas de pagode.

Em 2006 o Négo participou do Encontro dos Clubes Sociais Negros do Brasil e se uniu ao Coletivo dos Clube Sociais Negros do RS. “A Administração Municipal sempre estendeu a mão e hoje temos um apoio maior dos parlamentares. O Négo é apartidário, mas são procurados os parlamentares que lutam pela pauta negra e clubista, aqueles que têm o olhar diferenciado e mais possibilidade de ajudar”, reforça Maria Elisete.

Tradição familiar

Filha do fundador e primeiro presidente do Négo – João Generoso dos Santos – Isabel Landim, que é ex-presidente e integrante da associação, reforça que as linhas de cultura e educação do Négo precisam ser fortificadas. “Não é só Carnaval, no restante do ano é preciso existir Négo também.” Ela destaca que o Négo faz parte da história da família, já que o pai é ligado ao início da entidade e a partir de 2001, quando a filha Fernanda Landim se tonou Mulata Café, criou a ala das mulatas. De 2005 a 2011 foi presidente, segundo ela, na época em que o Négo foi colocado no ‘topo’ e chegaram onde sempre queriam. “É preciso olhar para o Négo de outras maneiras, queremos voltar a ter aquela visibilidade, o Négo é uma entidade acolhedora e foi o sonho dos nossos ancestrais”, destaca Isabel.

Para o dia 15 de junho está marcada uma nova reunião para eleição de nova diretoria da Associação Négo. Uma das mudanças que a nova diretoria ainda pretende implementar é refazer o estatuto e modificar o nome da entidade para a nomenclatura inicial, de Sociedade Négo Futebol Clube São Sebastião Mártir, caso seja legalmente possível. “O Négo surgiu do preconceito e do racismo, o nome é uma negação ao racismo”, conta Isabel. Ela explica que o que motivou a criação da entidade foi um episódio de racismo sofrido pelo, na época, goleiro do Guarani, Ataliba Rodrigues, em uma partida de futebol. “Meu pai viu e percebeu que o povo negro não tinha um local para diversão. Então não podemos perder isso e deixar só na memória”, completa.

“A associação deve ser mantida, em respeito aos ancestrais. Quero ver meus netos também apaixonados pelo Négo. É preciso trazer as crianças que serão o futuro dessa entidade.”
MARIA ELISETE FERREIRA
Presidente do Négo

  • 45 – É o número de sócios ativos na Associação Négo. Em meados de 2011 a entidade chegou a ter 123 sócios mais os dependentes, quando a presidente era Isabel Landim.

Como se tornar sócio do Négo

• A sede fica localizada na rua Engenheiro Henrique Vila Nova, número 1.520, no bairro Cidade Alta. Ela é aberta em dois sábados pela manhã ao mês, das 8h às 12h
• Para se associar é necessário apresentar identidade e preencher os dados pessoais.
• Fichas também estão disponíveis com integrantes da diretoria e na loja AM Store.
• A mensalidade é de R$ 20 e o valor é usado para manter o espaço e custear as despesas mensais.

Diretoria Executiva do Négo

• Presidente: Maria Elisete Ferreira
• Vice-presidente: Cláudio Oscar Jung Junior
• Primeira tesoureira: Ana Laura Rosa
• Segunda tesoureira: Sandra Mara da Silva
• Secretaria: Sandra Helena da Rosa

Négo completa 90 anos em junho com jantar baile

Em 2025 o Négo completa 90 anos de história, e a data será lembrada e comemorada de forma importante pelos integrantes. Uma comissão foi formada já na antiga diretoria para a elaboração de eventos e ações alusivas à data especial que resgatem a memória e a cultura da entidade.

No dia 28 de junho haverá um jantar baile que antecede o dia do aniversário, comemorado em 29 de junho. No mesmo dia, será feita a posse da nova diretoria eleita. A organização do evento aguarda retorno de projeto de parceria voluntária com o poder público no valor de R$ 13 mil, mas as integrantes destacam que mesmo que não for contemplado, o jantar baile acontecerá.

Um grupo de amigos, os Baobás, também se reuniram para realização de um projeto de criação de galerias dos presidentes do Négo e das rainhas do Mulata Café, tradicional concurso da entidade realizada há 40 anos. Através da ONG Movimentação, de Porto Alegre, foram recebidos R$ 13 mil para a realização desta ação, que deve ser inaugurada em 21 de junho.

Para a comemoração dos 90 anos, também foi criada uma identidade visual especial. A proposta gira em torno das cores de vermelho, preto e branco e com foco no padroeiro São Sebastião Mártir. O trabalho foi feito pela Odara Marketing Digital, de Fernanda Lopes.

Identidade visual dos 90 anos do Négo. (Foto: Divulgação/Odara Marketing Digital)

Patrimônio material

Atualmente, o Négo tem representação no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a movimentação em que participa, busca tornar patrimônio material todos os clubes negros do Brasil. Jaqueline Gonçalves Dos Santos está entre os dois representantes do Rio Grande do Sul na causa. “O Négo vai se tornar um ponto de cultura, um espaço multicultural, existem vários projetos e recursos para isso. A ideia é ser referência em Venâncio”, explica Jaqueline.

Ser um patrimônio material dá vantagens e credibilidade para participação de editais. O movimento está em andamento com o poder público federal e o Ministério da Cultura. “A pauta clubista está em evidência, e assim como outros, o Négo é ponto de memória e legado do povo gaúcho”, destaca.

A diretoria atual e os integrantes sonham e planejam diversos planos para o Négo, que também são frutos de outros projetos e de pessoas que sempre pensaram na associação. Um dos sonhos é conseguir fechar o espaço aberto atrás da sede. O prédio tem mais de 50 anos, o chamado Négo Novo – já que antigamente a sede já foi em outro endereço – e precisa de reformas. A entidade está no espaço atual, no bairro Cidade Alta, desde 1977.

Nos fundos da sede, um dos planos da diretoria é conseguir fechar o espaço para melhor utilização. (Foto: Luana Schweikart)
Na biblioteca, que leva o nome do fundador, instrumentos e troféus da entidade são guardados. (Foto: Luana Schweikart)

Ingressos

• Para o jantar baile: valor R$ 50. Crianças até 10 anos não pagam e crianças de 10 a 12 anos pagam meia-entrada, R$ 25.
• Para o baile: antecipados através de lista, valor R$ 25; na hora serão R$ 30, conforme capacidade de lotação
• Reservas de cartões podem ser feitas mediante pagamento pelos contatos: (51) 99587-2808 com Jaqueline; (51) 99989-1395 com Isabel; (51) 99892-4573 com Sandra; ou (51) 99709-6629 com Maria Elisete
• Pagamentos podem ser feitos pela chave Pix CNPJ 87.329.660/0001-07

Retorno ao Carnaval

1. Neste ano a Acadêmicos do Samba Négo não participou do Carnaval em virtude do momento de reestruturação da entidade. “É difícil pensar o Carnaval sem o Négo, mas foi entendido que tinha que fazer essa pausa, senão a escola não iria para a avenida com a mesma beleza de sempre”, afirma Elisete.
2. A Escola de Samba foi fundada em 1976, e é um dos braços mais fortes da sociedade e que vem crescendo, assim como o futebol. A Velha Guarda, formada em torno de 20 pessoas, também é participação forte na Escola de samba. “Muitas são pessoas que nem moram mais em Venâncio, mas vem para desfilar e por amor à camiseta do Négo.”



Luana Schweikart

Luana Schweikart

Jornalista formada pela Unisc - Universidade de Santa Cruz do Sul. Repórter do Jornal Folha do Mate e da Rádio Terra FM

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