O assunto pode até ser considerado ‘velho’ e ‘batido’, mas a preocupação é bem atual e passível de reflexos em um futuro breve. E, embora o leitor não se surpreenda mais com manchetes ‘negativas’ relacionadas ao setor da Saúde, a partir da próxima semana são esperadas novidades. Se serão positivas ou não, fica a expectativa.
Expectativa essa do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Rio Grande do Sul (Cosems/RS), que na próxima quarta-feira, dia 23, promove uma assembleia geral em Porto Alegre. Nela, gestores municipais esperam, ansiosos, por um posicionamento do novo governo gaúcho em relação ao repasses em atraso.
Herdeiro de dívidas passadas, assim como seu antecessor, Eduardo Leite (PSDB) ainda não se pronunciou oficialmente sobre o assunto. A nova secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, por enquanto disse apenas que será feita uma análise dos repasses. Ela é esperada na reunião do Cosems. “A nova secretária tem um histórico municipalista, então tenho esperança que ela veja com outros olhos nossa situação”, destaca o secretário de Saúde de Venâncio Aires, Ramon Schwengber.
A preocupação de Schwengber é a mesma de tantos outros gestores, que nos últimos tempos têm visto corte de serviços e atendimentos. Em Venâncio, apesar dos atrasos nos repasses estaduais, tudo se mantém dentro da normalidade.
Só que para manter hospital, atenção básica, Samu e UPA, a Prefeitura tem bancado dois terços do sistema, na teoria, tripartite. Na teoria porque além de pagar a sua parte, o Município tem usado os recursos próprios para quitar os repasses que correspondem ao Estado. Só do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e da Unidade de Pronto Atendimento (UPA), foi R$ 1,39 milhão. Ou seja, o governo gaúcho não paga suas parcelas a estes serviços desde julho de 2018.
ATÉ QUANDO?A condição financeira da Prefeitura, fiadora de uma conta alheia, até permitiria imaginar um pote de ouro bem guardado. Mas a realidade não tem nada de fabulosa e o que justifica esse ‘deixa pra mim’ da Administração é, segundo Ramon Schwengber, um rigoroso trabalho de gestão. “Temos que ter tudo na ponta do lápis, na calculadora. É gestão, é revisão de contratos.”
Gestão essa que permitiu, conforme o secretário, bancar outra dívida estadual: os R$ 770 mil adiantados para o Hospital São Sebastião Mártir na última semana. Originalmente, o valor é referente a atrasos entre setembro e novembro de 2018. “Não sabemos até quando vamos conseguir manter essa dívida do Estado. Não queremos instaurar o caos, mas é muito preocupante”, alerta.
Ao encontro das palavras dele, a assessora administrativa da Secretaria de Saúde, Marinete Bortoluzzi, lembra que a “gordura já foi queimada”. “Se o Estado não começar a pagar, não sabemos até quando conseguiremos dar os aportes.” Além da revisão de recursos vinculados, ela mencionou a ampliação do Teto Financeiro de Média e Alta Complexidade (MAC) – R$ 400 mil a mais em 2018 – e a liberação de emendas de custeio – cerca de R$ 1,5 milhão. “Isso foi fundamental para conseguirmos manter os serviços.”
“Além de mantermos os serviços, ainda conseguimos iniciar outros, como o Caps Infantil, o posto da Vila Arlindo, ampliamos as cirurgias eletivas e fizemos mutirão de exames.”
RAMON SCHWENGBERSecretário de Saúde de Venâncio Aires
A DÍVIDAO montante que o Fundo Municipal de Saúde de Venâncio Aires tem a receber do Estado, só em 2018, chega a R$ 3.851.603,94. Neste valor, está incluído o R$ 1.282.046,94 devido ao hospital e do qual o Município já antecipou, com recursos próprios, R$ 770 mil.
A maior parte da dívida soma R$ 2.569.557,00, referentes aos serviços de atenção básica e média e alta complexidade da rede municipal. Entre eles, as contratualizações terceirizadas da UPA e do Samu.
Quanto à UPA e Samu, que desde a metade do ano passado não recebem repasses estaduais, a Prefeitura já pagou a parte do governo gaúcho, com recursos próprios, somando R$ 1,39 milhão. Foram R$ 675 mil para a UPA e R$ 715.928,00 ao Samu.
Estado já reconheceu R$ 2,2 milhões da dívida
Dos mais de R$ 3,851 milhões devidos pelo Estado só em 2018, R$ 2,2 milhões já foram empenhados. Ou seja, grande parte da dívida foi reconhecida, conforme atualização da Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, no fim de dezembro.
Segundo a assessora administrativa da Secretaria de Saúde, Marinete Bortoluzzi, esses R$ 2,2 milhões são o somatório dos empenhos de 2018 até outubro. “De acordo com a Fazenda Estadual, esse é o valor empenhado pelo Fundo Estadual de Saúde para o Fundo Municipal de Venâncio.”
Ainda conforme Marinete, a expectativa agora é o que pode ser anunciado a partir da reunião do Cosems, na próxima semana. “Esses empenhos já são um bom indicativo. Mas estamos na espera para que o Estado declare logo tudo o que deve, de fato, aos municípios.”