Gisele é técnica em Enfermagem da UPA desde a inauguração, em 18 de junho de 2014 (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)
Gisele é técnica em Enfermagem da UPA desde a inauguração, em 18 de junho de 2014 (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

Quando se fala em tempo, às vezes, não se dá conta daquilo que passa e que parece não ser notado. E, se tratando de serviço público, comemorar ‘aniversários’ talvez não seja o mais importante. Por isso que, para muita gente, o último dia 18 passou despercebido no calendário. Mas não para Gisele Carolina Vieira da Rosa, técnica em Enfermagem na UPA. Nessa semana, assim como seu local de trabalho, ela completou cinco anos de atuação.

Gisele trabalha na Unidade de Pronto Atendimento de Venâncio Aires desde junho de 2014. Em cinco anos, ela não sabe exatamente quantas pessoas atendeu, mas foi parte dos 247.124 atendimentos até a última quarta-feira, 19.

Aos 37 anos, a técnica lembra que, antes da inauguração da UPA, em 2014, ela não tinha maior experiência em corredores médicos ou unidades de saúde, já que trabalhava em uma empresa. “Minha oportunidade veio aqui. Na UPA que consigo, de fato, exercer essa profissão que adoro. Posso dizer que eu cresci com ela”, resume Gisele.

HISTÓRIAS

Formada há 11 anos, Gisele não esconde a satisfação que tem trabalhando. “Acho que sou a pessoa mais realizada”, define. Essa realização também é alimentada pelas histórias que já presenciou e as quais, ela conta, tocam no lado humano do profissional.

“Teve uma vez um homem que entrou correndo segurando um bebê no colo. Quando me viu, me entregou a criança e não disse nada. Ela salivava muito e estava com o rosto arroxeado. Entrei com o bebê e quando o virei, ele expeliu uma chave.”

Gisele, então, diz que voltou para a recepção para falar com o ‘pai’ do bebê. Nisso, a surpresa. O homem era um desconhecido e trabalhava em uma obra. O pai da criança passou pelo local pedindo socorro e o homem, sem pensar muito, pegou a criança no colo e correu para a UPA, literalmente.

Outro caso, foi de uma jovem sentindo fortes dores abdominais. Gisele relata que os exames dela não acusaram nada alterado, mas seu ‘instinto’ lhe sugeriu algo. “Eu sou mãe e falei para o médico fazer o beta HCG [para diagnosticar a gravidez], porque imaginei até um aborto.”

A moça não abortou, mas sim deu à luz, pouco tempo depois, no Hospital Santa Cruz, de onde é natural. “Mas ela jurava que não estava grávida.”

Média de 2018 foi de 4,6 mil atendimentos por mês

Os mais de 247 mil atendimentos em cinco anos dão uma média de 49.425 anuais. No entanto, só em 2018 foram 55.287. Esse crescimento na demanda preocupa o superintendente administrativo da UPA, Rodrigo da Silva. “Os números vêm crescendo e é provável que nos próximos anos será preciso readaptar o serviço”, considera.

Entre as mudanças que ele vê como possibilidade é aumentar o espaço físico, já disponível em área, ou a troca da modalidade junto ao Ministério da Saúde, o que aumentaria a capacidade de financiamento. A UPA de Venâncio Aires é chamada de ‘modalidade 3’, a qual abrange 4,5 mil atendimentos por mês, mas a média mensal do último ano e de 2019 tem sido acima de 4,6 mil.

Apesar da preocupação com o aumento da demanda, Rodrigo da Silva comemora outros números. Segundo ele, 98% dos casos são resolvidos. “Mais de 90% é atenção básica e de pouca emergência. E isso é fundamental, fazer esse serviço intermediário em relação ao hospital e dar a cobertura 24 horas para as unidades de saúde que atendem durante o dia.”

Silva também destacou o trabalho dos profissionais que atuam na unidade. “Nossa equipe é competente e comprometida. Porque num trabalho onde você vê tanta coisa ruim, ainda assim não perde a sensibilidade. Somos importantes para o paciente e ele reconhece isso.”

O professor Anderson Sehnem, por exemplo, já precisou diversas vezes do atendimento, principalmente em situações com a filha Amanda, de 5 anos. “Ter esse serviço é muito importante, porque com certeza a UPA resolve vários problemas que iriam congestionar o hospital. E sempre fomos muito bem atendidos.”

ESTRUTURA

1 A UPA de Venâncio Aires foi erguida na área do antigo campo do Cruzeiro, que leva o nome do bairro, e foi inaugurada em 18 de junho de 2014.

2 O maior movimento, geralmente, ocorre entre maio e setembro, os meses mais frios do ano. Além de venâncio-airenses, moradores de Mato Leitão, Passo do Sobrado e Vale Verde são atendidos.

3 Atualmente são 58 funcionários (administração, recepção, enfermagem, raio-x, farmácia, higienização, motorista e copa), mais 35 médicos. Além do primeiro atendimento, são aplicadas medicações e realizados exames laboratoriais e de raio-x. Com oito leitos, tem estrutura para manter pacientes em observação por até 24 horas.

4 Gerida pelo Hospital São Sebastião Mártir, no qual estão vinculados os profissionais, a UPA conta com o mesmo sistema informatizado das demais unidades básicas de saúde do município. Nele constam, por exemplo, o número de atendimentos, tempo de espera e classificação de risco.

5 O custo mensal da unidade é de R$ 470 mil (R$ 135 mil Estado, R$ 170 mil União e R$ 165 mil Município). Segundo Rodrigo da Silva, mesmo nas vezes em que o Estado atrasou sua parte no repasse, a unidade se manteve pelo adiantamento garantido pela Prefeitura.

257 – foi o recorde de um dia em atendimentos. O registro é de 13 de agosto de 2018. São 107 a mais do que seria a média ideal, de 150.