
Há quase duas décadas, Gilmar dos Santos Diefenthaler, na época com 38 anos, tomou uma decisão extremamente difícil para quem tinha, como ele mesmo diz, “um belo salário, casa e carro”, e resolveu apostar no sonho do negócio próprio. Vendeu um Omega ano 1993, alugou um prédio de 300 metros quadrados, na região central de Venâncio Aires, parcelou a compra de máquinas e foi trabalhar sozinho – e a pé – na produção e comercialização de balcões refrigerados.
A experiência no ramo ele já havia adquirido, fruto de dez anos de atividades na Refrigeração Rubra, na Capital Nacional do Chimarrão, pela qual foi contratado em 1989. Natural de Rio Pardo e engenheiro mecânico formado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), Diefenthaler viu o interesse pela refrigeração despertar com força em período de estágio na Springer Carrier, empresa de Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, que produz condicionadores de ar.

Convicto de que deveria sonhar mais alto – apesar dos riscos que qualquer negócio oferece -, deu ‘vida’ aos primeiros produtos e tratou de encarar o mercado. Foram vários “nãos”, muito por conta da marca desconhecida, até que o proprietário de um bar aceitou comprar um dos seus balcões, desde que o preço fosse convidativo. O empresário em início de carreira teve que ceder e baixar o valor do produto, mas impôs uma condição: poderia ir até o local com outros clientes para mostrar o que sabia fazer. “Com o acordo, eu passei a ter um balcão em exposição”, recorda.
Com um catálogo simples e “batendo de porta em porta, de boteco em boteco”, Diefenthaler foi consolidando a empresa, batizada de Refrimate. Em pouco tempo, os negócios começaram a fluir com mais facilidade e ele precisou de reforço. Foi quando chegou Vinícius Pereira Brandão, que com suas habilidades administrativas, financeiras e comerciais, teve papel fundamental no impulsionamento do negócio, tornando-se sócio do empreendimento.
MUDANÇAS RÁPIDASCinco anos depois do ‘peitaço’, Diefenthaler, a Refrimate e os sócios se mudaram para um prédio mais amplo, pois a empresa já contava com 30 funcionários. Outros três anos se passaram e, com a demanda pelos produtos aumentando, o número de colaboradores chegou a 70. A comercialização, que se restringia a Venâncio Aires e região, foi expandida para o resto do Rio Grande do Sul. E, em 1º de janeiro de 2005, o empresário nomeou representantes comerciais pelo Brasil.
“Com bons produtos, preço competitivo e qualidade, conseguimos enfrentar a concorrência e crescer. Mas sempre levei comigo a certeza de que nunca se pode achar que ‘eu sou o cara’, pois a vida dá voltas a todo tempo”, diz. Mantendo a consciência e os pés no chão, contudo sem deixar de aproveitar as oportunidades, em 2007 o proprietário da Refrimate adquiriu, em leilão, uma área bem próxima ao pórtico de entrada de Venâncio Aires, em frente ao Parque Municipal do Chimarrão, o maior espaço público da cidade. Para lá, se mudou com os 150 funcionários e a empresa “andando a mil”.
“Antes da crise, a empresa ia tão bem que parecia um rolo compressor, passava por cima de tudo. Do nada, o rolo voltou contra nós, mas graças a Deus conseguimos nos manter fortes para superar os obstáculos.”GILMAR DOS SANTOS DIEFENTHALERProprietário da Refrimate
Indústria é a número 1 de refrigeração no estado
Atualmente, a Refrimate é a maior indústria de refrigeração do Rio Grande do Sul, além de estar entre as cinco maiores do país. Tem 430 colaboradores exercendo atividades em uma área construída de mais de 30 mil metros quadrados. “Já tivemos quase 600 funcionários, mas como qualquer empresa que viveu a devastadora crise econômica entre os anos de 2012 e 2015, foi necessário rever processos, enxugar custos e se reinventar. Foi uma reestruturação, uma reengenharia total. Infelizmente, muita gente ficou pelo caminho”, comenta o industrial.

Hoje, garante o diretor, “uma crise não nos derrubaria tão facilmente”. De acordo com ele, os momentos difíceis ensinaram a encarar o dia a dia com extremo profissionalismo e buscar a inovação. “Costumo dizer que a nossa marca registrada é a visão, a condição de conseguir enxergar na frente. Gosto de pensar a empresa para os próximos 20 anos, por isso viajo bastante em busca de tendências e diferentes comportamentos. Dessa forma, amadurecemos novos projetos”, argumenta.
Os balcões refrigerados não estão mais sozinhos na Refrimate. Hoje, a empresa oferece ao mercado adegas, armários para pães, buffets para restaurantes, fruteiras, visa cooler, freezers, cervejeiras e uma série de outros produtos. Por conta da expansão dos negócios, foram criadas outras quatro empresas ligadas à Refrimate: a Nacional Frio é especializada na produção para grandes redes, como Zaffari e Carrefour, por exemplo; a Cremorella fica responsável pelas máquinas de sorvete expresso, com vendas para todo o Brasil; a Red Camilion nasceu para cuidar das linhas quentes; e a GVD Transportes, com uma frota atual de 22 caminhões, veio para levar os produtos de Venâncio Aires pelo país afora.
Drama de Laura, filha de Mara,foi vivido por diretor e colegas
A história da Refrimate e de seu proprietário, Gilmar dos Santos Diefenthaler, vai muito além da produção para o setor de refrigeração. Mais do que respeitar os colaboradores e oferecer a eles oportunidades de crescimento profissional, o industrial tem como característica a proximidade com seus funcionários, a ponto de saber, pelo menos, um pouco sobre como cada um leva a vida. Foi assim que descobriu, em 2015, o drama da montadora Mara Maria Veit Luft, hoje com 34 anos, 13 deles dedicado à empresa.
Em fevereiro daquele ano, após ter a confirmação de que a filha Laura Luft Vieira – na época com 1 ano e 3 meses -, corria o risco de perder completamente a visão, Mara, desesperada, foi até o setor de Recursos Humanos da empresa para dizer que não poderia seguir trabalhando, pois teria de largar tudo em busca de tratamento para a criança. Foi acalmada por colegas e pelo diretor, que garantiu licença remunerada enquanto fosse necessário acompanhar a menina. Além disso, marcou consulta com um especialista, em Porto Alegre, oportunidade na qual foi reforçado o diagnóstico de retinoblastoma, tumor maligno originário da membrana neuroectodérmica da retina embrionária, o mais frequente da infância.

PEREGRINAÇÃOComeçava ali uma verdadeira peregrinação pela cura de Laura, sempre acompanhada de perto pelo industrial e contando com uma corrente positiva dos colegas, que se sensibilizaram com o caso. A Refrimate custeou as despesas de viagem para São Paulo, onde Laura, Mara e Marco Antônio Vieira, pai da criança, buscaram atendimento de ponta para a criança. Depois de algum tempo passando por quimioterapia e radioterapia, além de tentativas de tratamento alternativo, quando a doença ‘ressurgia’, em agosto deste ano Laura foi submetida a cirurgia para retirada do olho direito e colocação de uma prótese ocular. Com o olho esquerdo, ela consegue enxergar um pouco – mas não se sabe quanto.
“Por mais que a gente saiba que ela terá dificuldades ao longo da vida, estamos muito felizes por termos conseguido barrar o tumor, evitar que se alastrasse para o cérebro, o que causaria a morte da Laura”, afirma a mãe. Em relação a Diefenthaler, Mara diz que “jamais imaginei que uma empresa fosse abraçar uma causa dessa forma”. Para ela, o diretor teve participação decisiva na caminhada dolorosa da família. “Eles [Diefenthaler e Laura] ficaram amigos, se adoram. Foi um anjo nas nossas vidas e, agora que a Laura está retomando sua vida normal, quero me organizar e também voltar ao trabalho, para me dedicar e retribuir tudo o que fizeram por mim e pela minha família”, conclui a montadora.
“O Gilmar e os meus colegas estiveram com a nossa família o tempo todo. Se não fossem eles, acho que não teríamos conseguido superar esta fase horrível.”MARA MARIA VEIT LUFTMãe da pequena Laura

Inserção na comunidade e desenvolvimento dos recursos humanos
Para Gilmar dos Santos Diefenthaler, hoje com 57 anos, estar inserido na comunidade em que a empresa atua e valorizar os recursos humanos “são coisas sagradas”. Ele prioriza o bom relacionamento com a sociedade para que a Refrimate seja vista como uma indústria que faz a sua parte por Venâncio Aires, seja gerando emprego e renda ou mesmo apoiando projetos. “Muitas vezes o empresário é visto só como um cara que tem dinheiro e que vive em outro mundo. Isso nem sempre é verdade, bem como não é bacana. Gosto de estar acessível, de interagir com as pessoas e manter a humildade”, declara.
Esta postura faz do diretor uma figura benquista entre os colaboradores e dissemina orgulho em relação à empresa. Rogério Luiz Lahr, de 50 anos, está há 17 na Refrimate. É montador de balcões refrigerados e não poupa declarações: “Sou um fã da Refrimate. Enquanto Deus me der saúde e a empresa entender que sou útil aqui, vou me dedicar ao máximo no trabalho”. Ele se diz agradecido por ter crescido junto com o negócio. “Tudo o que eu tenho hoje, como carro e casa, consegui com o meu trabalho aqui. Procuro ser correto, honesto e manter bom relacionamento com todos”, manifesta.
Vanessa Konrad Nagel, de 32 anos, coordenadora de RH, e Rosângela Machado, 40, assistente social responsável pela gestão de pessoas, afirmam que, além do respeito aos colaboradores, a empresa oferece oportunidade de crescimento e custeia 50% do valor da faculdade para quem quiser buscar uma graduação. “A direção nos deu a missão de realizar um processo de desenvolvimento de pessoas. Isso é muito gratificante, pois estamos convidando a todos para um processo de evolução e crescimento pessoal, com resultados surpreendentes”, revela Rosângela. Além do estímulo ao ensino superior, Vanessa lembra que os funcionários passam por frequentes capacitações. “São vários cursos nas atividades afins de cada um, além de capacitação para possíveis oportunidades internas”, esclarece.