Patrícia Fernanda da Silva realiza pesquisa com professores para analisar a competência digital dos profissionais (Foto: Divulgação)
Patrícia Fernanda da Silva realiza pesquisa com professores para analisar a competência digital dos profissionais (Foto: Divulgação)

A venâncio-airense Patrícia Fernanda da Silva, de 39 anos, está conduzindo uma pesquisa para analisar o nível de competência de professores da educação básica sobre Inteligência Artificial (IA) e buscar medidas que auxiliem os profissionais da área. Com um amplo currículo na área da educação, ela foi selecionada no início do ano em um edital do Observatório Brasileiro de Inteligência Artificial na Educação Básica, uma iniciativa da Fundação Itaú em parceria com o Transformative Learning Technologies Lab (TLTL), da Universidade de Columbia.

O levantamento, que tem duração de 12 meses, visa melhorar a competência digital dos educadores da rede pública de Porto Alegre e Região Metropolitana. Um trabalho semelhante ocorre de forma simultânea na Universidade Pedagógica de Maputo, em Moçambique.

O projeto iniciou com a aplicação de um questionário para avaliar as habilidades dos professores no uso da IA para o planejamento e a criação de conteúdos. Com base nos resultados, estão sendo oferecidos microcursos para qualificar os participantes. A etapa final consistirá em uma nova pesquisa para avaliar o progresso dos profissionais.

IA na rotina

Segundo Patrícia, a Inteligência Artificial está em constante evolução e cada vez mais presente no cotidiano escolar. Com base em pesquisas, ela afirma que os estudantes já utilizam as novas funcionalidades, enquanto a maioria dos professores ainda não incorporou essas plataformas à rotina. Um exemplo é o ChatGPT, que pode ser usado para sugerir temas e elaborar planos de aula, além de contribuir para a geração de diversos formatos de conteúdo, como materiais audiovisuais.

Enquanto os resultados oficiais da pesquisa não podem ser divulgados, a profissional criou o perfil @patr1ciasilva no Instagram para disseminar informações, vídeos, dicas e ferramentas pedagógicas baseadas em IA.

Microcursos

Os microcursos são baseados no conceito de ‘microaprendizagem’, que propõe o ensino em pequenos blocos de informação, como vídeos curtos ou jogos, com duração de um a dez minutos. “A gente sabe que a rotina de um professor é corrida e que muitas vezes eles não conseguem participar de formações por causa do tempo”, explica Patrícia.

Desafios e desigualdade

A pesquisadora manifesta preocupação com a recente legislação que proibiu o uso de celulares em escolas, medida que algumas instituições já haviam adotado por conta própria. Para ela, essa restrição pode agravar o analfabetismo digital. Segundo os últimos dados apurados por pesquisas, 67% da população é analfabeta digital. A maioria dos professores e estudantes utiliza os aparelhos apenas para acessar redes sociais ou aplicativos de utilidade básica e de uso diário, desconhecendo funcionalidades que poderiam ser incorporadas à rotina para qualificar a aprendizagem.

Na educação, reprimir o uso da tecnologia pode, conforme ela, acentuar a desigualdade educacional no país. “Se não nos prepararmos para o uso das tecnologias, teremos um problema muito maior. Ano que vem teremos eleições e, com a manipulação de conteúdos já existente, o que nos espera? A população pode não estar preparada para filtrar e interpretar tudo isso”, alerta.

Patrícia aponta que, embora oito em cada dez estudantes já utilizem IA, 48% dos professores não usam nenhuma ferramenta do tipo. “Estes dados são preocupantes. Estamos pesquisando, estudando e desenvolvendo pesquisas para auxiliar a diminuir estas estatísticas. Escolas privadas usam a IA, as públicas, em sua maioria, não. O meu trabalho vai ao encontro de ajudar esses professores a conhecerem as ferramentas e a utilizá-las”, afirma.

Esse cenário se reflete em dados mais amplos. De acordo com uma pesquisa do Itaú Social, ao final do 9º ano do Ensino Fundamental, estudantes de escolas públicas e de baixa renda recebem 7.124 horas de aprendizado a menos do que alunos da rede privada, o que equivale a 7,9 anos letivos.

Júnior Posselt

Repórter

Acompanha assuntos voltados ao interior e à educação.

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