O anúncio da ordem de início da construção do Centro de Reabilitação de Dependentes Químicos (CRDQ), em Linha Ponte Queimada, mobilizou os moradores da localidade e gerou debates entre os vereadores. Consultados os vereadores de oposição, todos defenderam a importância do projeto, no entanto questionaram o local e até questões envolvendo licenças ambientais.
Diante da manifestação do prefeito Airton Artus, de que um vereador, sem mencionar o nome, teria induzido os moradores de Ponte Queimada a se manifestarem contrários à obra – inclusive ocupando a tribuna da Câmara – , o vereador Celso Kramer (PTB) entrou em contrato com a reportagem para dizer que oito, dos dez vereadores, não são contra a obra, mas, sim, contrários ao local previsto para iniciar a construção.
Argumentou que a atual área seria muito pequena e não abriria espaço para atividades de recreação e oficinas. Além disso, disse que o terreno proposto é inadequado para construções. Destacou que quando quiseram ampliar o cemitério (que fica ao lado do terreno) o Meio Ambiente proibiu, argumentado que lá é uma área de preservação ambiental. “Para o cemitério não pode e como agora para o centro pode?”, questionou. Com isso, sugeriu que parte de uma área de 30 hectares, em Bela Vista, seja usada para instalar o centro. “Nunca fui contra o centro, e, sim, o local. é uma área pequena demais para esse projeto, não poderá ser ampliado. Nunca induzi ninguém.” Segundo ele, o local, que considera impróprio, se tornaria uma ‘cadeiaÂ’ para os internados. “Eles precisam de um lugar para praticar esportes, com uma horta. Lá querem se livrar de um problema fazendo outro”, apontou.
Mesmo sem menções na reportagem, retrucou a manifestação do chefe do Executivo de que esse vereador não estaria preocupado com essa causa. Lembrou que foi ele, enquanto presidente da comissão contra o crack, o autor do projeto que nomeou a droga como ‘pedra da morteÂ’ e trabalhou projetos de conscientização para a comunidade escolar. “Me preocupo com essa causa e dou alternativas.”
Com o depoimento de Kramer, a reportagem contatou os vereadores de oposição para consultar as opiniões. A vereadora Izaura Landim (PP) defendeu a obra. “é melhor construir um centro de recuperação, mesmo que pequeno, do que grandes presídios”, frisou. Pela sua experiência como profissional da saúde, disse que a maioria dos locais de tratamento de dependentes costumam ser em grandes áreas, fazendas de tratamento, pois ficam internados por muito tempo. “Concordo com o local quer for, pelo tipo de trabalho que será prestado. Se o que temos neste momento é esse espaço, é melhor que logo seja feito. Mas, claro, quanto maior o espaço, mais serviços poderiam ser oferecidos.” Acrescentou que as drogas são uma situação de saúde pública. “Daqui a pouco, aqueles que hoje não concordaram podem ser os pais que amanhã vão precisar desse espaço para cuidar dos seus filhos.”
Marcolino Coutinho (PTB) defendeu a reavaliação do projeto e do local. Assim como Kramer, também se disse favorável a obra, mas em um local maior, e lembrou a questão ambiental envolvida. “Temos que pensar no futuro.” Cobrou ainda que não foi apresentado aos vereadores o projeto. “Esse centro envolve uma assistência não só religiosa, mas com médicos, enfermeiros. Como iria funcionar?”
José Ademar Melchior (PMDB) disse que não conhece a área em Ponte Queimada, mas que, ouvindo os relatos do morador na tribuna, sugeriu que fosse construído em Bela Vista. “Lá temos um local maior, são 30 hectares em que podem ser construídas áreas para oficinas, campo de futebol e até a Vila Olímpica, que já foi proposta”, destacou. Afirmou que a obra é necessária.Elstor Hackenhaar (PMDB) se colocou favorável à obra. “Nós precisamos e em algum lugar tem que sair.” Disse que não conhece o projeto e que não tem conhecimento amplo do assunto. “Não sei realmente qual é a dor deles lá, se realmente vai atrapalhar. Na Câmara eles alegaram que a área é muito pequena.”
Para Wilson Puthin (PP), a obra deve sair, pois está sendo aguardada com ansiedade pelas famílias de dependentes, no entanto disse que a comunidade deve ser consultada. “A obra precisa sair, as pessoas não são bandidas, são de famílias e precisam se recuperar. Mas antes os moradores precisam ser ouvidos.”
Paulo Mathias Ferreira (PMDB) também divide a opinião de que a obra é necessária, mas acha que o local não é o correto. “A área é pequena e precisa de uma estrutura maior. Além disso, tem os problemas com o Ibama, e vão precisar de negativas para fazer a obra.” A sugestão do colega Zecão, de fazer a obra na Bela Vista, foi acatada por Ferreira. “Lá seria o local ideal, afastado, com chances de eles trabalharem na lavoura”, argumenta. Acrescentou que não “podemos fazer uma obra que a comunidade seja contra”.
O vereador suplente, Rudemar Glier (PMDB), que está ocupando a cadeira de Adelânio Ruppenthal, não foi localizado.