Dados da 3ª Companhia da Brigada Militar mostram números positivos referente à violência doméstica no primeiro trimestre do ano, em Venâncio Aires e Mato Leitão. De mais positivo é que não foi registrado nenhum feminicídio. De negativo, as agressões e ameaças sofridas por uma mulher de 35 anos, que deu uma segunda chance ao companheiro e agora convive com as marcas de agressões no corpo.
Moradora do interior do município, ela conheceu o ex-companheiro pelas redes sociais, foi morar junto e agora faz parte das estatísticas da Patrulha Maria da Penha (PMP). “Apanhei e recebi muitas ameaças. Dei uma segunda chance, pois ele dizia que era doente, por causa da bebida. Mas quem é doente fica numa cama. Não sai por aí espancando os outros”, resumiu a mulher, que agora recebe o acompanhamento da PMP.
Conforme as estatísticas repassadas pela capitão Michele da Silva Vargas, nos três primeiros meses, em Venâncio, foram registradas 67 casos de ameaças. Foram 30 casos em janeiro, 19 em fevereiro e 18 em março. Em Mato Leitão foram duas ocorrências de ameaças em janeiro e outras duas em fevereiro.
No período, 20 vítimas denunciaram que foram agredidas fisicamente na Capital do Chimarrão. Foram 12 casos em janeiro, oito em fevereiro e nenhum em março. Em Mato leitão foram um caso em janeiro, um em fevereiro e dois em março. Referente ao crime de estupro houve somente um caso nos dois municípios. Foi no mês de março, em Venâncio.
Entrevista
Aos 35 anos, mãe de uma filha e separada, a mulher que sempre trabalhou para se sustentar decidiu viver um romance novo. Conheceu um rapaz e começou um relacionamento. Meses depois veio a primeira agressão, mas ela o perdoou e o aceitou de volta. As agressões e ameaças não pararam e agora ela está decidida a recomeçar sua vida, longe do indivíduo que deixou marcas em seu corpo.
FOLHA DO MATE – Como é que você conheceu o seu ex-companheiro?
Vítima – Foi através do Facebook. Começamos a conversar e depois de um tempo fomos morar juntos.
Como era o relacionamento no começo. Ele trabalhava?
Nos primeiros meses foi tudo bem, mas com o tempo vi que ele bebia e usava outras drogas. Eu sempre trabalhei, mas ele não fazia nada.
E quando veio a primeira agressão física?
Estávamos juntos a uns sete meses quando ele me agrediu fisicamente pela primeira vez. Ele bebia muito, usava drogas e queria vender as coisas de dentro de casa para sustentar os vícios dele e como eu não deixava, começou a me agredir. Meu deu socos, tapas e colocou uma faca no meu pescoço. Fiquei toda roxa por dias e as marcas ainda estão no meu corpo.
Isto motivou a primeira separação?
Sim. Eu fui embora, mas ele veio atrás, dizendo que iria mudar e que só fazia aquilo por causa da bebida. Me disse que era doente e me pediu uma nova chance e então voltamos a morar juntos. Mas doente fica na cama. Não vai atrás para espancar os outros.
Esta segunda chance durou quanto tempo?
Uns três meses. Ele continuou bebendo muito e usando drogas e sendo violento. Me ameaçava muito, dizendo que se eu não o quisesse mais, ele tiraria de mim a coisa que eu mais gosto, a minha filha.
E quando decidiu dar um basta no relacionamento?
Foi no dia que, além das ameaças, ele me deu um soco no boca. Cortou muito e eu tenho os pontos até hoje (mostrando a boca machucada). Consegui sair correndo e pedi ajuda a um vizinho, que ligou para a Brigada Militar. Eles vieram logo e quando ele viu a viatura, fugiu.
Se ele te pedir uma nova chance, tu dará?
Nunca mais. Vou cuidar da minha vida.