(Foto: FreePik/Divulgação)
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Por Régis de Oliveira Júnior, jornalista e especialista em Inteligência Artificial

O sistema público de saúde brasileiro enfrenta um gargalo histórico que consome vidas e esperança. O cenário atual permite identificar que a solução não virá apenas de novos prédios, mas de inteligência aplicada à gestão de fluxos. A Saúde 5.0 propõe usar a inteligência artificial para realizar triagens preditivas e gerenciar filas de exames antes mesmo de o paciente buscar o hospital.

Em novembro de 2025, o Ministério da Saúde destinou 1,7 bilhão de reais para implementar redes de hospitais inteligentes via portal SUS Digital. Essa medida é um movimento necessário para integrar o sistema a algoritmos de estratificação de risco. O objetivo é identificar quem realmente precisa de urgência, reduzindo o tempo de espera por consultas especializadas por meio de agendamentos otimizados.

O Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, exemplifica essa transformação na ponta do sistema. A instituição opera uma UTI automatizada que utiliza alertas preditivos para evitar a deterioração clínica súbita. Ao prever crises, a tecnologia otimiza a ocupação de leitos e acelera a rotatividade com segurança, permitindo que mais gaúchos recebam atendimento crítico em menor tempo.

Tal avanço passa pela prova da eficiência e pelo respeito ao dinheiro público. A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul abriu licitação de 13,6 milhões de reais para uma plataforma que utiliza Aprendizado de Máquina Federado. Essa técnica de vanguarda permite processar dados clínicos locais sem que informações pessoais saiam do hospital, garantindo a privacidade total do usuário.

Reconhecer o benefício da escala é entender que a tecnologia reduz as desigualdades no acesso ao médico. No entanto, o uso de IA Generativa para síntese de prontuários exige uma governança de privacidade rigorosa conforme a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A cibersegurança deve ser parte essencial do investimento para que o prontuário eletrônico não seja vulnerável a ataques ou vazamentos de dados sensíveis.

A inovação também precisa humanizar a comunicação entre quem cuida e quem é cuidado. No litoral norte, o campus Osório do IFRS desenvolveu um projeto que utiliza IA para traduzir prontuários complexos em informações claras para familiares. Esse resultado demonstra que a tecnologia retira o peso da burocracia e devolve ao profissional de saúde o tempo necessário para o acolhimento humano.

A inteligência artificial não substitui o investimento em pessoal, mas atua como a ferramenta que organiza o caos administrativo. Ela possui o potencial de consolidar um SUS sem filas em 2026 ao integrar diagnósticos precoces e gestão logística em tempo real. O sucesso pode ser medido pela redução real do tempo de espera e pela preservação da dignidade humana no momento de maior vulnerabilidade do cidadão.

O uso ético da inteligência artificial na saúde pública é o único caminho para transformar filas de espera em atendimento digno e humanizado.


Sobre o autor: Régis de Oliveira Júnior é jornalista formado pela Unisc, especialista em Inteligência Artificial pela ESPM Tech e vencedor de 16 premiações nacionais. Atuou em gestão pública como secretário de Saúde e de Comunicação, interventor em hospitais públicos e consultor no Ministério de Minas e Energia, na Assembleia Legislativa e em prefeituras do RS e de MG.