Ano novo também é tema inspirador para músicas, algumas delas deveras conhecidas da audiência. Cada um conta do seu jeito. John Lennon, já ao lado de Yoko Ono, pedia o fim da guerra – o Vietnã estava em chamas, literalmente, naqueles dias do fim dos anos 60 – enquanto desejava feliz natal e próspero ano novo. O ABBA, ele mesmo, jogava aos ventos o desejo de um feliz ano novo num mundo em que todos os vizinhos fossem também amigos – ou seria melhor cair fora. O U2, em seu primeiro hit mundial, New Year’s Day, dizia que o ano novo estava aí, mas tudo continuava igual, inclusive a perseguição ao líder popular polonês Lech Walesa – o inspirador da letra –, preso pouco antes em seu país por bater de frente com o governo então em vigor.
Renovação e fim
O ano novo é momento de tradições duvidosas e compreensão de tudo o que ocorreu durante o último período de tempo de 365 dias de duração. Retrospectivas e roupas brancas são tão tradicionais nesta época quanto comilança e uma programação horrível na TV, geralmente embalada por música muito ruim. É hora também de renovar as esperanças: as pessoas alimentam o desejo de novos ganhos, conquistas, sonhos e governos para suas vidas. Que, faça aqui sua analogia preferida para a frase, a guerra realmente termine, como há meio século apregoava Lennon.
Tributo e culto
É momento de prestar tributo aos que nos deixaram desde o último feriado de confraternização universal – e a lista é tristemente extensa no âmbito musical. Cita-se, dentre tantos, Marcelo Yuka, MC Sapão, Beth Carvalho, Serguei, André Matos, Paulo “PA” Pagni (ex-RPM), João Gilberto, Roberto Leal, Ginger Baker e Marie Fredriksson (ex-Roxette). É hora ainda de lamentar tudo o que de ruim foi lançado novamente no ano que passou – a ponto de que, para minha surpresa, o Google está repleto de listagens e até playlists dos piores do ano. O culto ao péssimo nunca esteve tão em alta.
Preparativos
Já cabe a essa altura dos acontecimentos, também, uma listinha do que fazer em 2020. Na capital da província, há alguns bons nomes internacionais confirmados para se assistir, como Metallica, Kiss e Marc Martel – o homem que deu voz a Freddie Mercury no filme Bohemian Rhapsody. Ainda vai dar pra ver Bonnie Tyler e Sammy Hagar (!) no primeiro semestre da temporada gregoriana vindoura. Que os valores dos ingressos para shows não acompanhem os praticados pela indústria da carne.
Três acordes
# Na região, o anúncio mais legal de momento é o show da primeira banda cover de Beatles do país, o Beatles 4Ever, fundada em 76. Os decanos tocam no Teatro Univates, em Lajeado, no dia 7 de maio, uma quinta-feira.
# No país, o fim de ano é de deixar estupefato: justo num país que pouco ou nada sabe de história, como o Brasil, aparece um grupo que invoca o integralismo, movimento ultranacionalista dos anos 30 que há muito andava esquecido. E surge em lance crítico, ao reivindicar a autoria de ataque à produtora do grupo Porta dos Fundos.
# Que o branco pacífico das roupas de ano novo se estenda ao comportamento rotineiro do cidadão. Que parece estar um tanto alterado, com o descontrole a ser incitado por quem deveria promover a ordem e o entendimento. Que todo desejo de feliz 2020 não seja somente um jogar de palavras ao vento.